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Telescópio sai em busca de nova "Terra"
Nasa lança na sexta à noite primeiro observatório espacial capaz de achar outros planetas tão pequenos quanto o nosso
Missão Kepler vai observar a mesma região do céu por anos a fio para achar astros habitáveis perto de estrelas a até 3.000 anos-luz do Sol
RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Nasa lança na sexta-feira,
às 22h48 (0h48 de sábado em
Brasília), o primeiro telescópio
espacial com capacidade de encontrar um planeta fora do Sistema Solar com tamanho e condições de habitabilidade semelhantes às da Terra. A Missão
Kepler vai monitorar a luminosidade de 170 mil estrelas simultaneamente para cumprir
sua tarefa. Cada vez que o brilho de uma estrela cai, é sinal de
que um planeta pode estar passando na sua frente.
Esse método, conhecido como "trânsito", já é usado por
outros telescópios. O Kepler,
porém, terá uma sensibilidade
inédita. Um planeta do tamanho da Terra, se observado à
distância, oculta apenas cerca
de um décimo de milésimo da
luz emitida por sua estrela mãe,
e o novo telescópio espacial poderá enxergar isso.
"Isso equivale à queda de luminosidade que ocorre quando
uma pulga passa na frente do
farol de um carro vindo na direção contrária a você, de noite,
bem longe", disse à Folha Jon
Jenkins, da Nasa, um dos criadores do software que servirá
como cérebro do Kepler.
Diferentemente de telescópios como o Hubble, porém, o
Kepler não tirará fotos do Universo bonitas o suficiente para
enfeitar paredes. Seu papel será mesmo medir a emissão de
luz de cada estrela e perceber
mínimas oscilações.
Contudo, só depois de análises cuidadosas de dados é que
cientistas poderão dizer onde
estão os tão procurados planetas "gêmeos" da Terra. O problema é que o brilho de estrelas
oscila naturalmente, atrapalhando as medições. Segundo
Sylvio Mello, astrônomo da
USP, saber se as oscilações
ocorrem sozinhas ou por causa
dos planetas será "o maior desafio técnico" do Kepler. Para
decretar o achado de um planeta, é preciso ver pelo menos
três trânsitos com quedas de
brilho semelhantes e separados pelo mesmo intervalo.
Trabalho prolongado
A missão durará ao menos
três anos e meio, com orçamento previsto de US$ 591 milhões.
O Kepler vai girar em torno do
Sol, na mesma órbita da Terra,
seguindo-a. A vantagem de estar no espaço é que não há ar
para atrapalhar a visão. Além
disso, como a Terra gira, um telescópio terrestre não é capaz
de observar uma mesma estrela
continuamente.
Às vésperas da decolagem do
foguete Delta-2, que levará o
Kepler ao espaço, os cientistas
cruzam os dedos. "Estou um
pouco ansioso porque lançar
uma nave espacial é difícil e, como somos tristemente lembrados de tempos em tempos, não
é livre de riscos", diz Jenkins.
O Kepler vasculhará uma
área específica do céu, perto da
constelação do Cisne. É uma
região da nossa galáxia muito
rica em estrelas e, espera-se,
em planetas. Outra vantagem é
que o Sol nunca estará na direção em que o telescópio aponta,
o que impediria as observações.
A estrelas que o Kepler vai monitorar estão de 500 anos-luz a
3.000 anos-luz de distância da
Terra (um ano-luz é igual a 9,5
trilhões de quilômetros).
O Kepler dá continuidade a
projetos similares anteriores,
mais baratos, como o francês
Corot. Os menores planetas encontrados pela missão até hoje,
porém, apresentam o dobro do
tamanho da Terra. Eduardo Janot, astrônomo da USP que colabora com o Corot, diz que o
Kepler terá de superar dificuldades semelhantes. "A precisão
exigida é muito grande, o que
demanda muito esforço", diz.
"É fácil achar planetas grandes,
já temos mais de 300 "júpiteres"
por aí. Mas queremos "terras".
Isso é caro e demora."
O interesse em procurar planetas pequenos é que aqueles
muito grandes -chamados de
gigantes gasosos- não possuem uma superfície sólida
com condições habitáveis. Entretanto, lembra Mello, habitável não significa habitado. E
ainda não há muito como tentar investigar se um planeta fora do Sistema Solar tem vida.
"Seria muita casualidade encontrar algo logo de saída", diz.
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