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HEGEMONIA TECNOLÓGICA
Norte-americanos estão perdendo terreno para europeus e asiáticos em patentes e publicações
Domínio dos EUA em pesquisa está caindo
WILLIAM J. BROAD
DO "NEW YORK TIMES"
Os Estados Unidos começaram
a perder sua dominância global
em áreas críticas de ciência e inovação, segundo especialistas go
governo federal e privados. Eles
apontam fortes evidências disso,
como os prêmios concedidos a
norte-americanos e o número de
artigos publicados em revistas
científicas de impacto.
Avanços estrangeiros em ciência básica já rivalizam ou mesmo
superam os dos EUA, que aparentemente têm pouca consciência
pública da tendência ou de suas
implicações para o emprego, a indústria, a segurança nacional e o
vigor da vida cultural e intelectual
norte-americana.
"O restante do mundo está nos
alcançando", disse John E. Jankowski, um analista sênior da
Fundação Nacional de Ciência
(NSF), a agência federal norte-americana que acompanha tendências científicas. "A excelência
científica não é mais um domínio
exclusivo dos Estados Unidos."
Até os analistas preocupados
com as tendências admitem que
uma expansão do acervo mundial
de cérebros, com novas estratégias, poderia revigorar a luta contra doenças, desenvolver novas
fontes de energia e enfrentar complicados problemas ambientais.
Mas os lucros dos avanços provavelmente ficarão fora dos EUA, e
o país vai enfrentar competição
por talentos científicos e espaço
para exibir seu trabalho em revistas científicas renomadas.
Uma área de competição internacional é a de patentes. Os norte-americanos ainda recebem um
número enorme delas, mas a porcentagem está caindo. Especialmente os asiáticos se tornaram
mais ativos e em algumas áreas
tomaram a liderança na inovação.
A participação norte-americana
em patentes industriais usadas no
país caiu de forma constante nas
últimas décadas e está em 52%.
A Europa e a Ásia estão em ascensão, dizem os analistas, embora suas conquistas passem despercebidas nos EUA. Em março,
cientistas europeus anunciaram
que uma de suas sondas planetárias detectou metano na atmosfera de Marte -possível sinal de
que micróbios vivem sob a superfície do planeta. A descoberta rendeu manchetes de Paris a Melbourne, mas a maioria dos norte-americanos, bombardeada com
as imagens dos jipes dos EUA no
planeta vermelho, perdeu as notícias estrangeiras.
Aposta de 27 km
Agressiva, a Europa busca dominar a física de partículas construindo a mais poderosa máquina
de colidir átomos, com inauguração marcada para 2007. Seu túnel
circular tem 27 quilômetros.
Analistas dizem que o empurrão da Ásia rumo à excelência
promete ser ainda mais desafiador. "É inacreditável", diz Diana
Hicks, da Escola de Políticas Públicas do Instituto de Tecnologia
da Geórgia, sobre o crescimento
da Ásia em ciência e inovação. "É
impressionante ver esses números de publicação de estudos e patentes crescendo tão rápido."
Analistas dizem que o declínios
comparativo é resultado inevitável dos padrões de vida crescentes
ao redor do globo. "Tem tudo a
ver com a dinâmica da globalização", disse Jack Fritz, representante sênior da Academia Nacional de Engenharia.
A mudança de status dos EUA
não passou despercebida pelos
políticos, com os democratas no
ataque e a Casa Branca na defensiva. "Estamos em um momento
crucial", disse o senador Tom
Daschle (Dakota do Sul), líder democrata no Senado, em um fórum de políticas públicas em
Washington, na Associação Americana para o Avanço da Ciência
(AAAS), principal agremiação
científica do país.
"Há sinais perturbadores de que
a posição dominante da América
no mundo científico está sendo
sacudida." Daschle acusou a administração Bush de enfraquecer
a base científica do país ao não
conseguir fornecer dinheiro suficiente para pesquisa de ponta.
O consultor científico de Bush,
John H. Marburger 3º, que esteve
presente ao fórum, negou veementemente a acusação, dizendo
numa entrevista que o orçamento
geral de pesquisa durante a administração Bush bateu recordes e
que a base científica é forte.
"O céu não está caindo sobre a
ciência", disse Marburger. "Talvez haja algumas nuvens -não,
coisas que exijam atenção." Os
EUA estão aptos a lidar com qualquer problema, disse, para poder
manter a vitalidade dos empreendimentos de pesquisa.
Patentes
Estrangeiros estão tomando um
papel cada vez mais importante
em patentes, que são a expressão
da criatividade industrial. Em estudo recente, a consultoria CHI
Research descobriu que pesquisadores no Japão, em Taiwan e na
Coréia do Sul já respondem por
mais de um quarto de todas as patentes industriais concedidas a cada ano nos EUA.
Além disso, suas taxas de crescimento são espantosas. Entre 1980
e 2003, a Coréia do Sul foi de 0 a
2% do total; Taiwan, de 0 a 3%; e o
Japão, de 12% a 21%.
No mês passado, a AAAS disse
que a administração Bush, para
cumprir a sua promessa de reduzir pela metade o déficit nacional
nos próximos cinco anos, precisaria cortar financiamento à pesquisa em 21 de 24 agências federais
-exceto as envolvidas em espaço
e segurança nacional e doméstica.
Mais perturbadora para alguns
especialistas é a probabilidade de
uma perda acelerada de cientistas
de qualidade. Pedidos de visto por
estudantes de pós-graduação estrangeiros caíram 25%, em parte
por causa do estrangulamento na
distribuição de vistos após os ataques terroristas de 2001.
Shirley Ann Jackson, presidente
da AAAS, disse que a queda de estudantes estrangeiros, o aparentemente declinante interesse de jovens norte-americanos em carreiras científicas e o envelhecimento
da força de trabalho especializada
eram, em conjunto, uma combinação perigosa. "Quem vai fazer a
ciência deste milênio?"
Vários grupos privados, inclusive o Conselho sobre Competitividade, uma organização em Washington que persegue políticas
para promover o vigor industrial,
começaram a se mobilizar. "Muitos outros países perceberam que
ciência e tecnologia são chaves
para o crescimento econômico e a
prosperidade", disse Jennifer
Bond, vice-presidente do conselho para assuntos internacionais.
"Eles estão nos alcançando."
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