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BIOTECNOLOGIA
Técnica elaborada por empresa dos EUA pode cortar genes alienígenas do DNA do vegetal antes da colheita
"Exorcista" elimina transgenia de plantas
DA "NEW SCIENTIST"
Um apelido pode algumas vezes ser o beijo da morte. Não faz muito tempo que os cientistas no Departamento de Agricultura dos EUA começaram a se vangloriar
de um esquema de engenharia genética que eles chamaram de Sistema de Proteção de Tecnologia, um modo de tornar sementes transgênicas estéreis e incapazes
de espalhar seus genes alterados por outras plantações.
Os grupos contrários à biotecnologia, entretanto, deram à técnica um nome mais sinistro: Terminator ("Exterminador do Futuro"). Eles apontam que a tecnologia colocaria um fim na velha tradição de guardar sementes da colheita de um ano para plantar no seguinte, forçando agricultores pobres a comprar novas sementes todo ano. Logo companhias e pesquisadores não seriam capazes de de se distanciar da tecnologia. Mas Pim Stemmer não parece estar preocupado pelo nome que um grupo anti-GM (geneticamente modificados) deu para sua nova idéia. "Eles chamam de Exorcista?", ele ri. "Eu gosto."
O Exorcista também é um truque genético, mas é mais perspicaz que o Exterminador. Em vez de matar as sementes das plantas geneticamente alteradas, ele corta e destrói cada pedaço de DNA artificialmente introduzido nas sementes e frutos antes que ocorra a colheita. A lavoura tem as vantagens da transgenia (como resistência a herbicidas), mas a comida é, ao menos em tese, livre de
genes alienígenas.
Stemmer acha que, para muita gente, o estigma de comida geneticamente modificada iria sumir junto com esses genes picotados. E, como vice-presidente de pesquisa da firma de biotecnologia Maxygen, na Califórnia (EUA), ele acredita que poderia tornar a mágica molecular uma realidade.
"Acho que é um acordo entre duas políticas razoáveis", diz. "Fazendeiros usam plantas geneticamente alteradas e consumidores ganham comida sem transgenes."
"Isso é revolucionário sob vários aspectos", diz William Muir, um geneticista da Universidade Purdue que estuda fluxo de genes entre organismos GM e não-GM.
"Em uma tacada, responderia a muitas das preocupações que as
pessoas têm sobre plantas geneticamente modificadas."
A maior preocupação dos contrários a transgênicos é que a introdução de proteínas não-pertencentes aos organismos pudesse trazer efeitos indesejados e causar alergias imprevisíveis. Com a técnica de Stemmer, essas possibilidades poderiam ser excluídas. "Eu pessoalmente acho que transgênicos são seguros, então essa seria uma mudança cosmética", diz. "Mas, se deixa as pessoas
mais confortáveis, vale a pena."
Uma preocupação mais grave, para Stemmer, é a ambiental -o impacto que poderia ter a transferência acidental de genes artificialmente introduzidos a variedades selvagens. Aqui também o Exorcista poderia ser a resposta.
Tesoura química
No coração da técnica, há uma pequena proteína chamada Cre, tomada de um vírus que ataca bactérias. A Cre é como uma tesoura molecular, que pode cortar
qualquer pedaço de DNA que esteja entre duas cópias de uma sequência marcadora, a loxP.
A idéia é introduzir na planta, junto com o gene que se quer colocar (como, por exemplo, um que dê resistência a herbicidas), uma cópia do gene que codifica a
Cre. Junto com os dois, os cientistas também deveriam inserir
marcadores loxP. Para completar, põe-se um pedaço de DNA para
promover a ativação da Cre exatamente quando for necessário.
Quando chamado, o Exorcista entra em ação, fazendo picadinho
do DNA artificialmente introduzido na célula vegetal.
Seria possível, por exemplo, programar o Exorcista para ser ativado quando os frutos estivessem amadurecendo. Dessa forma, apesar de a planta ter se beneficiado de suas características transgênicas durante o crescimento,
quando o fruto surgir, ele já estará totalmente livre do DNA alterado.
No papel, o sistema parece bem simples. Mas será que funciona?
Stemmer cita o trabalho de Nam-Hai Chua, da Universidade Rockefeller, em Nova York, que mostra que os cortes da Cre foram quase 100% bem-sucedidos em
células de plantas.
Mas o próprio Chua é cético. Ele aponta que, em sua pesquisa, o
corte do DNA alienígena nas sementes foi incompleto, indo de
22% a 69%. "E, no campo, a planta vai estar sujeita a agressões imprevisíveis", diz. "No laboratório, elas são tratadas com cuidado, como bebês. Não estou dizendo que não vai funcionar, mas eles precisam provar que vai."
Mesmo que funcione, não parece ser o suficiente para convencer
os críticos da biotecnologia. "É uma tentativa enganadora de
"ecologizar" a questão", diz Sue Mayer, da Genewatch UK, do Reino Unido. Para ela, a tecnologia é simplesmente o "Exterminador do Futuro 2", uma tentativa de
aprovar uma tecnologia que protege a propriedade intelectual como uma ferramenta de segurança para a saúde e para o ambiente.
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