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COMPORTAMENTO
Pesquisa americana relaciona a atitude ao relógio biológico
Cochilo da tarde é natural, diz estudo
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem faz sesta depois do almoço já pode argumentar que esse
hábito está de acordo com a evolução biológica e não é mera consequência de uma lauta refeição
azeitada por três caipirinhas. Foi
descoberta uma nova engrenagem do relógio biológico que ajuda a explicar por que não só o homem, mas vários animais, descansam no meio da tarde.
O estudo, feito em camundongos por Steven McKnight, da Universidade do Texas, e mais seis colegas, está publicado na edição de
hoje da revista "Science".
O comportamento dos animais
é regulado nas 24 horas do dia
principalmente pelo ciclo claro-escuro (ou noite-dia). Esse ritmo
"circadiano" envolve uma grande
variação na produção de proteínas pelos genes ao longo do dia,
em vários pontos do organismo.
Ou seja, os genes são ligados ou
desligados de acordo com a luz do
ambiente. E, mesmo em situações
de total escuridão, o sistema continua funcionando por motivos
ainda em parte desconhecidos.
Almoço atrasado
O relógio biológico tem um
ponto central no cérebro humano. Ele é regulado em grande parte pela ação de uma proteína, batizada CLOCK ("relógio", em inglês). Mas, na parte do cérebro
que processa as informações dos
sentidos, uma outra proteína dá
as cartas, a NPAS2.
Ao criar camundongos mutantes incapazes de produzir a
NPAS2, os cientistas descobriram
que os animais tinham maior dificuldade de se adaptar a certos estímulos do ambiente, mais especificamente a uma mudança do horário de refeição. Eles perdiam peso e ficavam doentes.
Mas por que os animais teriam
dois mecanismos distintos, dois
verdadeiros relógios?
"Boa pergunta. Minha impressão, como está no artigo da "Science", é que esse segundo relógio
permite adaptação ao ambiente",
disse McKnight à Folha.
Ele argumenta com o exemplo
dos morcegos. "Morcegos são
animais noturnos, eles saem de
cavernas de noite para comer insetos voadores. Em certas estações, insetos não voam à noite.
Nessas circunstâncias, os morcegos saem das cavernas quando os
insetos estão disponíveis -e não
no meio da noite."
Isto é: os morcegos não estão
adaptando seu comportamento
só devido ao ciclo noite-dia. Segundo McKnight, essa adaptação
dos morcegos depende do novo
relógio por eles descoberto.
"Muitos animais fazem a sesta.
Eu estou familiarizado com veados, raposas e outros animais que
sempre podem ser vistos no nascer ou no pôr-do-Sol. Nunca vemos esses animais na metade do
dia porque eles vão dormir", diz.
Dois períodos de atividade, dois
períodos de sono. Por que o relógio biológico faria isso ainda é um
mistério. Uma explicação possível
é o fato de duas regiões do cérebro
controlarem o ritmo circadiano.
Os ratos mutantes bagunçariam
os horários dessas atividades. E,
com isso, não teriam a sesta.
"É minha sensação que os seres
humanos retiveram esse mesmo
sistema. Se for assim, culturas que
têm uma sesta estarão sem dúvida
mais ligadas aos seus ritmos do
que as que tentam manter um período contínuo de atividade."
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