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Mapa da galáxia esfria tese de cético do clima
Teoria de que mudança global se deve a raios cósmicos está errada, diz astrônomo
Hipótese foi proposta por físico dinamarquês, para quem o passeio do Sol pela Via Láctea determina ciclos de aquecimento da Terra
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das principais teorias
alternativas de explicação do
aquecimento global -daquelas
que isentam de culpa a queima
de combustíveis fósseis- acaba
de receber um duro golpe. A hipótese de que a crise do clima
se deve a uma mudança na incidência de raios cósmicos na
Terra está errada, afirma agora
um trio de astrônomos liderado por Adrian Melott, da Universidade do Kansas (EUA).
O estudo que pode vir a dar
um fim à hipótese alternativa
do aquecimento de origem espacial, sugerida pelo físico dinamarquês Henrik Svensmark,
ainda não foi publicado em nenhuma revista científica. Portanto, não foi avaliado por nenhum grupo independente.
A versão inicial do trabalho,
porém, já está sendo comentada em publicações de entidades
como o IOP (Instituto de Física, do Reino Unido) e o MIT
(Instituto de Tecnologia de
Massachusetts). O estudo está,
por enquanto, apenas no site
arxiv.org, um banco de dados
de trabalhos pré-publicação.
Apesar de controversa entre
climatólogos, a teoria de Svensmark ganhou algum espaço nos
últimos anos, adotada por grupos contrários ao corte de gases
do efeito estufa. Se aquilo que
causa o atual aquecimento da
Terra for uma queda na incidência de raios cósmicos, não
haverá motivo para parar de
queimar derivados de petróleo.
Raios refrescantes
O que Svensmark defende,
basicamente, é que raios cósmicos ajudam a formar as nuvens de altitude baixa, que têm
efeito resfriador sobre a Terra.
O que está acontecendo agora,
segundo o físico dinamarquês,
é que o movimento natural do
Sol na galáxia está levando a
Terra para fora de uma região
de alta concentração de estrelas. Com menos estrelas para
explodir e produzir raios cósmicos no entorno do Sistema
Solar, menos nuvens se formam na Terra, e o planeta esquenta (veja quadro acima).
Segundo o autor da teoria, isso serve para explicar por que a
Terra aquece e resfria a temperaturas extremas ao longo de
sua história, a cada 140 milhões
de anos, em média. Isso seria
resultado de o Sol entrar e sair
periodicamente dos braços da
galáxia, regiões com maior concentração de estrelas.
O problema com a teoria de
Svensmark, diz o trio de físicos
americanos, é que os braços da
Via Láctea não estão dispostos
de forma regular. O ciclo de
temperatura de 140 milhões de
anos, portanto, não pode ser
explicado pela teoria de Svensmark. A descoberta foi possível
com o uso de dados novos do telescópio espacial Spitzer, que
fez um mapeamento da galáxia
com precisão sem precedentes.
Assimetria escancarada
"A gritante assimetria dos
braços espirais na imagem
atual da galáxia é difícil de refutar", disse à Folha Andrew
Overholt, físico que assina o estudo com Mellot. Segundo ele,
sua análise considera quase todos os braços da Via Láctea, inclusive os do lado oposto ao
que está o Sol. "O modelo anterior usado para desenvolver o
ciclo de 140 milhões de anos
considera apenas dois braços."
Svensmark, em resposta, diz
que o trabalho dos americanos
está errado, e tenta enquadrar
o jornalista. "É importante notar que o estudo do grupo de
Mellot não está publicado, e o
ideal seria que ele não fosse debatido na imprensa", diz o
cientista dinamarquês.
Em mensagem enviada à Folha, ele afirma que os americanos cometeram erros de estimativa ao analisar a velocidade
de rotação da galáxia e de seus
braços. Uma correção, segundo
o dinamarquês, compensaria a
assimetria da Via Láctea de forma que seus dados poderiam
ser encaixados novamente.
"A análise de Mellot não é
consistente com os dados do
Spitzer", afirma Svensmark,
que aponta ainda outros problemas técnicos no trabalho.
O debate, pelo visto, só vai ser
resolvido após o estudo do trio
americano ser analisado por revisores independentes em uma
revista científica. "O trabalho
foi submetido recentemente
para publicação e já está sendo
avaliado", diz Overholt.
Por enquanto, a teoria de
consenso para o aquecimento
global continua sendo a do
agravamento do efeito estufa, e
os ciclos de temperatura de 140
milhões de anos são mais bem
explicados por anomalias na
movimentação do planeta.
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