São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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RIO +10

Presidente diz que foi uma "gentileza" do secretário-geral e faz críticas às limitações das instituições globais

Annan convida FHC para comissão da ONU

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Fernando Henrique conversa com secretário-geral das Nações Unidas durante a cúpula Rio +10


ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A JOHANNESBURGO

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Annan, convidou ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso para, depois de terminar seu mandato, integrar uma comissão informal de alto nível que discute globalização, pobreza e desenvolvimento sustentável.
FHC, que se disse "muito honrado", reduziu a importância do convite à sua real dimensão ao relatá-lo para a imprensa brasileira: "Foi algo gentil, genérico. Tomo por enquanto como gentileza".
Ele criticou as "instituições planetárias", que estão aquém da opinião pública internacional. Disse que não pretende assumir cargos institucionais, mas não se negaria a conversar sobre "um trabalho do tipo intelectual, não burocrático", nas Nações Unidas.
É exatamente isso que Kofi Annan lhe propôs. A idéia é que FHC e o ex-presidente do México Ernesto Zedillo, por exemplo, participem de uma comissão liderada pelo Prêmio Nobel de Economia Amartya Sen, da Índia, um dos principais teóricos em pobreza.
O encontro de FHC com Kofi Annan foi ontem, no Sandton Centre de Johannesburgo, África do Sul, onde será encerrada hoje a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +10).
Segundo o chanceler Celso Lafer, que participou da conversa, o secretário-geral agradeceu "a clara liderança" do Brasil em dois dos temas mais importantes: biodiversidade e energia renovável. A proposta brasileira de 10% de energia renovável foi derrotada.
Em entrevista, FHC já falou como se integrasse a comissão. Lamentou indiretamente que o presidente George W. Bush (a quem não citou nominalmente) não tenha dado sequência à direção pretendida por seu antecessor Bill Clinton na discussão das questões e dos organismos internacionais.
"O Clinton avançou na proposta de uma nova arquitetura internacional, a nova divisão da ONU, e esse assunto desapareceu", disse FHC. Por isso, ele acha que é importante reforçar os blocos regionais, como o Mercosul.
A grande questão, segundo ele, é o financiamento da erradicação da pobreza: "Depois da Segunda Guerra, com uma situação de pobreza imensa, houve transferência maciça de recursos, mesmo. Se você quer acabar com a pobreza na África, tem de ter transferência de recursos".
Recursos, porém, não são tudo: "Na Europa, havia base, estrutura humana e material que permitiam absorver os recursos. Aqui, não adianta apenas transferir. Tem de criar formas inovadoras de sociabilidade", acrescentou.
Entretanto, as instituições que poderiam fomentar essas novas formas, como a própria ONU, "estão enfraquecidas", na opinião de FHC. "Faltam mecanismos regulares para que as coisas aconteçam a nível mundial."
Antes de conversar com o presidente brasileiro, Annan recebeu o vice-primeiro-ministro Tareq Aziz, do Iraque, país neste momento ameaçado de guerra pelos EUA. Segundo FHC, Kofi Annan "manifestou confiança em que a opinião pública dos EUA e do mundo todo evite a guerra".
Ao responder a uma pergunta sobre o primeiro ano do atentado ao World Trade Center, em Nova York, no dia 11 de setembro, FHC disse: "Colocou de novo o país mais forte do mundo com medo. É a vulnerabilidade, que pode até ter um desdobramento positivo, com uma coligação contra o terror, a busca de alianças".


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