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Arrastão celular pega proteínas do câncer
Técnica desenvolvida por grupo paulista buscará alvos contra a doença em 3.591 moléculas da superfície das células
Idéia do "superficioma", como foi apelidada a nova ferramenta, é fazer mapa das proteínas mais comuns
apresentadas pelos tumores
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A ÁGUAS DE LINDÓIA
Não adianta pegar um peixe
de cada vez. O melhor, quando
se tenta ganhar uma briga contra o câncer, é fazer um arrastão até encher a rede. Por causa
disso, pesquisadores do Instituto Ludwig de Pesquisa Sobre
o Câncer, em São Paulo, resolveram criar uma ferramenta de
estudo da doença que vai vasculhar muitas proteínas de
uma só vez nas células. Mais
precisamente, 3.591.
A escolha não foi aleatória,
explica Sandro de Souza, do
Ludwig. "A idéia é fazer um
"surfaceoma" [ou "superficioma']", disse o cientista à Folha.
O conceito foi apresentado ontem durante o Congresso Brasileiro de Genética, em Águas
de Lindóia, interior paulista.
Entraram na rede de pesca
do grupo de pesquisa apenas as
proteínas que são exibidas na
superfície das células. Daí o
apelido cunhado pelo grupo do
Ludwig -em alusão a outros
"arrastões" do gênero, como o
genoma e o proteoma.
"Isso porque será mais fácil,
no futuro, desenvolver drogas
contra elas. A maioria dos medicamentos desenhados hoje
contra o câncer atuam sobre
esses compostos", explica.
Mas isso não significa, alerta
o pesquisador, que os resultados serão obtidos de forma fácil ou rápida. "Ainda teremos
muitos anos de trabalho pela
frente nesse projeto", disse.
Depois da pescaria, e de
olhar apenas para os "peixes"
que ficam na superfície do mar
fazendo a interface entre o exterior e o interior do oceano -
imagem que também pode ser
transportada para o nível celular, no caso das proteínas-
Souza e seus colaboradores
querem dar um passo além.
O objetivo deles é encontrar
aquelas moléculas que devem
estar presente com mais freqüência nos diversos processos
tumorais já estudados.
"Ainda é muito cedo para falar sobre quais tipos de câncer
vai ser possível focar primeiro,
mas tudo indica que entre eles
estarão, por exemplo, os de cólon, pulmão e de cabeça e pescoço", disse o cientista.
Promessa não-cumprida
A idéia de criar uma metodologia que olhe para o universo
dos dados gerados pelos projetos genoma espalhados pelo
mundo -que até hoje, quase
uma década depois da finalização do genoma humano, ainda
não se traduziram em aplicações médicas- é mais uma tentativa de fazer com essas pesquisas dêem resultados mais
práticos. De acordo com Souza,
é natural que exista um "descontentamento na sociedade".
"Na época áurea dos genomas sempre se achou que as
coisas seriam, talvez, bem mais
rápidas, mas não é assim."
O projeto do Ludwig também
terá a colaboração de outros
grupos de pesquisa. Além da
metodologia desenhada para
jogar sua rede sobre as proteínas, deverá contar com dois outros trunfos: "Além da nossa
base de dados, na qual confiamos, vamos usar várias outras
bibliotecas genéticas geradas
no mundo", explica Souza.
O trabalho de bioinformática, área de pesquisa de Souza,
também será fundamental para
conseguir separar os peixes que
interessam do resto do material que vem junto na rede. "Os
programas desenvolvidos por
nós, por exemplo, já foram importantes para chegar até as
3.591 proteínas", explica o pescador molecular. Até o ano que
vem, ele espera refinar sua rede
para reduzir esse total para algumas dezenas de proteínas
-só os peixes grandes.
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