São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2010

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Embrapa tenta evitar extinção de raça de gado

Restam apenas 500 exemplares do tucura, variedade típica do Pantanal

Raça já foi dominante, mas foi substituída; cientistas acham que a sua carne poderia ser mais bem explorada

Adriano Vizoni/Folhapress
Bois tucura em fazenda da Embrapa no Pantanal

GIULIANA MIRANDA
ENVIADA A CORUMBÁ (MS)

Pesquisadores do Pantanal estão tentando salvar da extinção o tucura, uma das raças de gado mais antigas da região e mais adaptadas a ela. Atualmente, restam apenas cerca de 500 exemplares entre as quase 3 milhões de cabeças de gado da área.
Também conhecido como bovino pantaneiro, o tucura já foi dominante entre os rebanhos locais, mas foi deixado de lado quando começou a importação maciça de raças muito maiores, como o nelore e outros zebus, a partir da década de 1950.
"Muitos produtores pantaneiros começaram a achar que o tucura simbolizava a pecuária atrasada", afirma Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal.
"Afinal, as raças importadas passaram por um intenso processo de melhoramento genético, enquanto o boi do pantanal se adaptou principalmente devido à seleção natural", diz.
O tucura chegou à região há mais de 300 anos, junto com os colonizadores ibéricos. Durante esse tempo, a raça foi se adaptando ao complexo ambiente pantaneiro -que tem longos períodos de seca e de cheia.
Um dos principais diferenciais do tucura é justamente este: quando outras raças já não conseguem mais pastar na vegetação inundada, ele ainda consegue resistir na região por certo tempo.
Isso acontece porque suas patas e seus cascos são mais resistentes à água. Uma ajuda e tanto no Pantanal, onde fazendas podem ficar submersas por até seis meses.
Apesar dessas características, o tucura parecia se encaminhar inevitavelmente para a extinção. Afinal, o porte compacto que lhe garante maior sobrevivência ante as intempéries pantaneiras é também seu maior "defeito" para os produtores: menos carne para vender.

VOLTA POR CIMA
Para evitar o desaparecimento da raça, que é um dos símbolos do Pantanal, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) iniciou um processo de conservação e de investigação de novos usos comerciais.
Os dados finais só ficam prontos no ano que vem, mas análises preliminares mostram que a carne da raça é de muito boa qualidade.
Por ter mais gordura entremeando suas fibras, a carne do tucura é bem mais macia do que a do gado da região. Isso, segundo a Embrapa, pode possibilitar cruzamentos que inserissem essa característica em outras raças.
Além disso, há margem para cortes especiais e, talvez, certificados para produção sustentável no Pantanal. Seria o "bife pantaneiro".
A coordenadora do projeto, Raquel Soares Juliano, diz que a resistência dos produtores já está diminuindo. Ela lembra que boa parte do sucesso do trabalho depende também deles.
"Se o produtor identificar um potencial de viabilidade econômica em um dos usos do tucura, ele será um parceiro na conservação e expansão da raça", afirma.
Por isso, é importante buscar novas características. Testes feitos na fazenda modelo da entidade, na sub-região de Nhecolândia, em Corumbá (MS), mostram que o tucura também tem um bom potencial leiteiro.
Além disso, a maturidade sexual precoce -ao menos seis meses antes do nelore- também seria um atrativo.


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