São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Japonês clona roedor congelado

Experimento torna mais real a perspectiva de "ressuscitar" espécies da Era Glacial, como o mamute

Animal refrigerado por 16 anos a -20C gerou cópias; "barriga de aluguel" é agora o desafio para estender a técnica a bichos extintos

Sergei Cherkashin - 02.jul.07/Reuters
Mamute congelado achado na Rússia; clonagem do animal não é impossível, diz estudo japônes

DA REPORTAGEM LOCAL

A possibilidade de ressuscitar animais extintos há milhares de anos -dentre os quais os mamutes- pode ir além do delírio ficcional, mostra um experimento de biólogos japoneses. Extraindo DNA de um camundongo congelado por 16 anos, os cientistas produziram clones saudáveis do animal.
A realização está descrita em estudo publicado hoje na revista "PNAS", assinado pelo grupo de pesquisa de Teruhiko Wakayama, do Centro de Biologia do Desenvolvimento, em Kobe. O cientista ficou famoso em 1999, ao produzir o primeiro clone de um mamífero macho.
Os cientistas relatam como produziram filhotes de roedor transferindo núcleos de células do animal morto para óvulos novos, criando uma linhagem de células-tronco embrionárias. Só após reproduzir as células de maneira estável, os núcleos destas foram transferidos para outros óvulos, que finalmente geraram os clones, paridos por uma mãe de aluguel. Os camundongos nasceram idênticos ao animal congelado.
"Sugeria-se que a "ressurreição" de espécies extintas congeladas (como o mamute-lanoso) seria impraticável, uma vez que não haveria células vivas disponíveis e o material genômico remanescente estaria inevitavelmente degradado", escrevem os cientistas no estudo. "Aqui, relatamos a produção de camundongos clonados a partir de corpos mantidos congelados a até 20C negativos."
Além disso, afirma o artigo, o animal congelado usado no experimento não tinha sido submetido a nenhum tipo de "crioproteção" -uso de substâncias que previnem a deterioração de tecidos, como no congelamento de espermatozóides em clínicas de fertilidade.
Segundo Wakayama, o sucesso do experimento se deve, em parte, à escolha do órgão de onde foi tirado o DNA clonado.
"Inesperadamente, o melhor órgão para fonte de núcleos doadores [de DNA] foi o cérebro", escreveu. Segundo o pesquisador, provavelmente a alta concentração cerebral de glicose, um açúcar, pode ter ajudado a preservar mais células. "É sabido que [açúcares] podem ser usados como crioprotetores, e a função cerebral é altamente dependente da glicose."
Algo que também ajudou, segundo os autores, foi o estabelecimento de linhagens de células-tronco embrionárias antes da clonagem propriamente dita. O filhotes clonados surgiram de óvulos que receberam cromossomos indiretamente -das células cultivadas, não do camundongo refrigerado.

Barriga de aluguel
Para Wakayama, criar células-tronco deve ser o primeiro passo para produzir clones de cadáveres de mamutes preservados no gelo. Pelo menos dois já foram achados congelados na Sibéria nos últimos anos.
Um entrave ainda sem solução para recriar bichos extintos, porém, é achar um modo de fazer o embrião se desenvolver.
"A falta de espécies para os óvulos receptores [de DNA] e para mães de aluguel é um dos maiores problemas", dizem os cientistas. "Contudo, técnicas de transferência nuclear entre espécies poderiam solucionar esse problema e fornecer uma possibilidade de reconstituir genomas ou animais a partir de amostras congeladas."


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