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Análise
Lula arrisca perder o bonde de Copenhague
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
É mais comum o governo Lula perder uma boa oportunidade de calar. Ontem ele deixou
passar em branco uma chance
de falar -e dizer a que veio, em
matéria de aquecimento global
e liderança mundial.
O acordo de Copenhague,
que deveria ser fechado em dezembro para substituir o Protocolo de Kyoto a partir de
2012, está à beira do abismo. A
última rodada de negociação,
em Barcelona, vai de mal a pior.
Países africanos, que têm
muito a perder caso se confirmem as previsões científicas de
aumento de 3C ou mais neste
século, ameaçam abandonar a
reunião. Bolívia e Venezuela,
que nada têm a perder no quesito responsabilidade, lançaram gás e gasolina na fogueira.
Era o momento adequado
para Lula demonstrar a liderança inovadora que lhe atribuem no estrangeiro. Mesmo
que não anunciasse os 40% de
redução de emissões de gases
do efeito estufa almejados por
seu ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, qualquer cifra
acima dos 20% garantidos pela
trajetória atual de redução do
desmatamento já ajudaria a aliviar a atmosfera.
A decisão fica adiada até 13 de
novembro, quando faltarão 22
dias para Copenhague. O Brasil
segue o exemplo dos EUA, que
não conseguem fechar uma posição por dificuldades políticas
domésticas. A diferença é que
lá se trata de uma dissensão no
Legislativo, não no Executivo.
Ronda o Planalto o velho espectro da incapacidade de arbitrar entre visões divergentes.
Os ministérios do Meio Ambiente, das Relações Exteriores, da Ciência e Tecnologia,
das Minas e Energia e da Agricultura nunca chegarão a um
acordo sem intervenção do
presidente da República.
O Brasil pode, sim, contribuir
para desatar o nó de Copenhague. Só depende de Lula.
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