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TECNOLOGIA
Designer afirma que grupo britânico que apresentou um telefone "germinável" pode ter plagiado sua idéia
Brasileiro diz que criou biocelular antes
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
No começo da semana, um grupo de pesquisadores britânicos
ganhou o noticiário apresentando
um celular "plantável" -uma capa de plástico biodegradável com
uma semente de flor dentro, que
germinava após o descarte. Agora, um designer brasileiro diz que
a idéia pode ter sido plagiada de
sua dissertação de mestrado, feita
na Itália e disponível na internet
desde junho.
Belmer Negrillo, paulista de 29
anos, foi em 2002 para Ivrea, norte da Itália, fazer mestrado em tecnologia aplicada ao design (design interativo) no Interaction
Ivrea, um instituto financiado pela Telecom Italia. Sua dissertação,
intitulada "Appetite for Technology" ("Apetite para Tecnologia",
em inglês), apresenta objetos como uma luminária de pão e um
CD de massa de macarrão.
Um dos capítulos da tese, desenvolvida a partir de setembro
de 2003 e defendida em junho
deste ano, tem o título de "Mobile.Seed, a Proposal" ("Celular.Semente, uma Proposta"), no qual
detalha o projeto de um telefone
celular feito de um biopolímero
-uma espécie de plástico biodegradável- que contém em seu
invólucro uma semente de flor. A
semente fica protegida por uma
janela de plástico transparente, à
vista do usuário.
Em vez de descartar o celular e
receber uma semente de flor no
posto de reciclagem, como acontece hoje na Europa, o usuário literalmente plantaria seu telefone.
Dentro de alguns dias, a degradação do plástico alimentaria a semente, fazendo a planta brotar. A
tese pode ser lida na internet
(people.interaction-ivrea.it/b.negrillo/thesis/Belmer-Appetite2004screen.pdf).
Choque
Negrillo diz ter ficado chocado
ao ler nos jornais, na última quarta-feira, que um grupo da Universidade de Warwick, no Reino
Unido, havia apresentado à imprensa um projeto exatamente
igual: uma carcaça de telefone celular contendo uma semente numa janela de plástico que germinava ao ser plantada.
"O conceito é exatamente o
mesmo, o que é preocupante se
considerarmos que esta idéia não
foi atingida por um pensamento
lógico linear", disse o designer à
Folha. "A capinha biodegradável
é um raciocínio linear. Muita gente tem trabalhado nisso. Mas a
mecânica de fazer isso com uma
flor é uma idéia especial."
Negrillo diz ter pensado no
"biocelular" a partir de janeiro.
"Eu sempre tive rejeição a telefone celular. Tanto que não tenho
um até hoje", conta, dizendo que
não quis criar uma necessidade.
Dessa birra nasceu o conceito do
"Mobile.Seed", que foi até testado
"em campo" - num vaso com
terra- com um polímero à base
de amido disponível comercialmente, que o designer brasileiro
diz não ter resistência suficiente
ao calor e a deformação.
Patente
Ainda na tese, ele prevê que o
invólucro reciclável esteja no
mercado em 2008 e um telefone
celular 100% biodegradável surja
em 2025. Ele não patenteou a invenção: disponibilizou sua dissertação de mestrado publicamente.
"Um pedido de patente na Itália
custa 10 mil", afirma Negrillo.
"Estou muito aborrecido com
essa história. Esse designer não teve nem a decência de me contatar", dispara o britânico Kerry
Kirwan, de Warwick.
Segundo o pesquisador, a idéia
do celular biodegradável surgiu
em janeiro de 2003, numa conversa dele com um pesquisador da
PVAXX, empresa de materiais de
ponta que desenvolveu o plástico.
"Nós temos documentação formal de janeiro de 2003, quando
pedimos dinheiro ao governo britânico para o desenvolvimento. É
estranho, do meu ponto de vista,
que o designer não tenha me contatado diretamente. Também
houve publicações dos EUA que
saíram no ano passado", afirmou,
ameaçando acionar o departamento jurídico da universidade
para "cuidar" de Negrillo.
"Acho que o que eles começaram a fazer em 2003 foram os
plásticos", diz o brasileiro.
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