|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BIOPIRATARIA
Acusado estava de férias
Alemão é preso por transportar aranhas
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O alemão Dietmar Pinz, 52, foi
preso na terça-feira no aeroporto
de Brasília pela Polícia Federal
quando tentava voltar à Alemanha após quase um mês de férias
no Brasil. Na mochila, Pinz levava
cinco pequenas aranhas. Preso
por contrabando, o alemão entrou na lista dos estrangeiros tachados de biopiratas, que tentam
levar amostras da fauna nacional.
À embaixada da Alemanha,
Pinz disse que recolheu as aranhas no chão e nas paredes dos
hotéis em que se hospedou no
Brasil, onde estava em férias desde o início do mês.
Na bagagem de turista, ele levava ainda um facão, pinça profissional, binóculos, câmera digital,
o livro "Arquivos de Zoologia" e
dezenas de fotos de insetos e animais da fauna brasileira.
Segundo a assessora jurídica da
embaixada, Isolde Stephan, os tubos de filme fotográfico em que as
aranhas estavam tinham o nome
do hotel na tampa. "Ele não sabia
que uma aranha de parede poderia ser um animal exótico", disse.
"Foi erroneamente confundido
com um biopirata, mas seu único
hobby é viajar uma vez ao ano para fotografar animais."
Pinz é um serralheiro que tem
apenas o ensino fundamental
completo. Órfão, viveu até os 18
anos em instituições sociais. Hoje,
além do trabalho de serralheiro,
dá palestras em escolas sobre sua
paixão: os insetos, que coleciona
em vidros ou por meio de fotos.
Segundo Isolde, na única viagem que faz ao ano, com suas economias, o alemão se dedica a tirar
fotos e filmar animais. "Ele não
tem envolvimento com biopiratas, não tem antecedentes criminais e leva uma vida simples, com
pouco dinheiro, o que não aconteceria com um biopirata", relata.
A prisão de Pinz chocou a cidade de Münster, próxima a Düsseldorf, na Alemanha. O serralheiro,
que continua na carceragem da
PF, em Brasília, tem recebido cartas solidárias de pais de alunos para quem deu aulas sobre insetos.
A embaixada da Alemanha
também vem recebendo telefonemas do dono da serralheria em
que Pinz trabalha -e que estaria
prestes a parar com sua produção
pela falta do serralheiro-chefe.
O advogado de Pinz, Roberto
Sobral, pediu a liberação com base no princípio da insignificância,
já que as cinco aranhas teriam sido colhidas de quartos em que
Pinz ficou hospedado. Segundo
Sobral, a lei que trata do contrabando de animais é tão ampla que
qualquer pessoa que matar uma
aranha em casa pode ser presa.
Sobral quer que Pinz responda
processo em liberdade. "Como
ele teve o passaporte apreendido,
não pode deixar o país", diz.
Segundo a Superintendência da
Polícia Federal em Brasília, a prisão seguiu os procedimentos previstos na lei. A liberação do alemão depende de decisão judicial.
Texto Anterior: Brasileiro diz que criou biocelular antes Próximo Texto: Arqueologia: Fuligem destrói pinturas rupestres no PI Índice
|