São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2004

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BIOPIRATARIA

Acusado estava de férias

Alemão é preso por transportar aranhas

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O alemão Dietmar Pinz, 52, foi preso na terça-feira no aeroporto de Brasília pela Polícia Federal quando tentava voltar à Alemanha após quase um mês de férias no Brasil. Na mochila, Pinz levava cinco pequenas aranhas. Preso por contrabando, o alemão entrou na lista dos estrangeiros tachados de biopiratas, que tentam levar amostras da fauna nacional.
À embaixada da Alemanha, Pinz disse que recolheu as aranhas no chão e nas paredes dos hotéis em que se hospedou no Brasil, onde estava em férias desde o início do mês.
Na bagagem de turista, ele levava ainda um facão, pinça profissional, binóculos, câmera digital, o livro "Arquivos de Zoologia" e dezenas de fotos de insetos e animais da fauna brasileira.
Segundo a assessora jurídica da embaixada, Isolde Stephan, os tubos de filme fotográfico em que as aranhas estavam tinham o nome do hotel na tampa. "Ele não sabia que uma aranha de parede poderia ser um animal exótico", disse. "Foi erroneamente confundido com um biopirata, mas seu único hobby é viajar uma vez ao ano para fotografar animais."
Pinz é um serralheiro que tem apenas o ensino fundamental completo. Órfão, viveu até os 18 anos em instituições sociais. Hoje, além do trabalho de serralheiro, dá palestras em escolas sobre sua paixão: os insetos, que coleciona em vidros ou por meio de fotos.
Segundo Isolde, na única viagem que faz ao ano, com suas economias, o alemão se dedica a tirar fotos e filmar animais. "Ele não tem envolvimento com biopiratas, não tem antecedentes criminais e leva uma vida simples, com pouco dinheiro, o que não aconteceria com um biopirata", relata.
A prisão de Pinz chocou a cidade de Münster, próxima a Düsseldorf, na Alemanha. O serralheiro, que continua na carceragem da PF, em Brasília, tem recebido cartas solidárias de pais de alunos para quem deu aulas sobre insetos.
A embaixada da Alemanha também vem recebendo telefonemas do dono da serralheria em que Pinz trabalha -e que estaria prestes a parar com sua produção pela falta do serralheiro-chefe.
O advogado de Pinz, Roberto Sobral, pediu a liberação com base no princípio da insignificância, já que as cinco aranhas teriam sido colhidas de quartos em que Pinz ficou hospedado. Segundo Sobral, a lei que trata do contrabando de animais é tão ampla que qualquer pessoa que matar uma aranha em casa pode ser presa.
Sobral quer que Pinz responda processo em liberdade. "Como ele teve o passaporte apreendido, não pode deixar o país", diz.
Segundo a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, a prisão seguiu os procedimentos previstos na lei. A liberação do alemão depende de decisão judicial.


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