|
Próximo Texto | Índice
Austrália ratifica Kyoto e isola os EUA
Na abertura da conferência do clima, em Bali, americanos passam a ser os únicos a rejeitar acordo sobre efeito estufa
Segundo delegação dos Estados Unidos, país não vai travar as negociações sobre acordo para substituir o tratado que expira em 2012
DA REPORTAGEM LOCAL
O jogo de xadrez climático
começou ontem em Bali, na Indonésia. No primeiro dia da
Conferência das Nações Unidas, a Austrália movimentou
suas peças, para o ataque. Os
Estados Unidos, isolados, jogam na defensiva.
O novo primeiro-ministro
australiano, Kevin Rudd, assinou ontem, em Canberra, seu
primeiro documento no posto.
Como havia prometido na
campanha, ele ratificou a intenção do país em entrar no
Protocolo de Kyoto. Formalmente, a Austrália precisa esperar por 90 dias para ser um
membro efetivo do grupo.
Imediatamente, na Indonésia, os delegados australianos
não apenas anunciaram o ato,
como disseram que o país estava assumindo uma meta de cortar suas emissões em 60% até
2050 -além de ter 20% de
energia renovável em 2020. A
medida recebeu um minuto de
aplausos. "As pessoas apreciaram a coragem do governo da
Austrália de tomar essa posição
que é dramaticamente diferente", disse Yvo de Boer, secretário-executivo da convenção.
Sem aparentemente se intimidar com a decisão, que isolou
os Estados Unidos como o único país anti-Kyoto, um dos líderes da delegação norte-americana, Harlan Watson, disse que
seu país não está ali para ser um
obstáculo às negociações.
"Nosso objetivo é sermos flexíveis e trabalhar de forma construtiva na criação do "mapa do
caminho" de Bali", afirmou.
"Nós respeitamos a decisão
dos outros países, mas também
pedimos, claro, que os outros
respeitem a nossa." A posição
norte-americana de não aderir
ao protocolo foi tomada em
2001 pelo presidente George
W. Bush. Na visão do dirigente,
o acordo custaria vagas de emprego aos EUA. Além disso, para ele, foi um erro o acordo ter
excluído os países em desenvolvimento do grupo dos que
deveriam assumir metas.
"Os Estados Unidos investiram bilhões de dólares em novas tecnologias, que vão desde o
carvão limpo até o hidrogênio",
afirmou ontem, em Bali, Watson. "O corrente regime legal
de metas não está fazendo a sua
parte. Apenas alguns países estão conseguindo reduzir suas
emissões de forma significativa", disse o negociador dos Estados Unidos, referindo-se
principalmente ao Reino Unido e a Alemanha.
Segundo os números divulgados pelo norte-americano,
enquanto a população dos Estados Unidos cresceu 5% entre
2000 e 2005, e a economia 12%,
as emissões de carbono subiram apenas 1,6%. Mesmo assim, as emissões do país comandado por Bush ainda estão
16% acima dos índices de 1990,
ano base de Kyoto.
Tanto é verdade que o próprio Senado americano já estuda uma forma de, via legislação,
fazer o país adotar as metas.
Resultados concretos
Boer, representando a ONU,
tentou chamar os delegados
dos demais países para o jogo.
No discurso de abertura da
Conferência das Partes -esta é
a décima terceira da história-,
ele listou vários itens que precisam de acordos "urgentes".
Boer lembrou do fundo de
adaptação as mudanças climáticas para os países pobres e da
necessidade de estabelecer formas de transferência tecnológica entre o Norte e o Sul. O dirigente mencionou ainda a necessidade de se iniciar a diminuição das emissões de gases
que contribuem para o efeito
estufa a partir do desmatamento das florestas, item que diz
respeito diretamente ao Brasil.
Palavras e gestos
Entre os delegados que pediram a palavra no plenário e movimentaram as peças no primeiro dia, estiveram os representantes de Portugal e de Bangladesh. O primeiro, falando
também em nome da União
Européia, defendeu que seja estabelecido até 2009 um acordo
global com metas, porque muito provavelmente as emissões
vão continuar a subir na próxima década.
O representante dos países
pobres, que acabou de assistir
um ciclone ceifar 5.000 vidas
em seu país, reforçou a importância de haver um fundo para
a adaptação dos países aos desastres climáticos.
A agenda das próximas duas
semanas, pela sua densidade,
preocupa todos os delegados
que já estão em Bali. Resta saber se o jogo terá realmente um
fim na Indonésia.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Frases Índice
|