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Técnica gera vacina de gripe mais rápido
Células de insetos substituíram ovos de galinha no cultivo de vírus H1N1; produção passou de seis meses para dois meses
Velocidade da fabricação é hoje o principal gargalo para
resposta eficaz contra o mal
em escala planetária; faltam
os testes em seres humanos
24.abr.2009 -Associated Press
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Aspecto do vírus H1N1 ao microscópio, em imagem feita por cientistas de centro dos EUA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em vez de serem cultivadas
em ovos de galinha, como acontece hoje, as vacinas de gripe do
futuro poderão ser obtidas a
partir de células de mariposas,
num processo bem mais rápido
do que o disponível atualmente. Pesquisadores austríacos
demonstraram a viabilidade da
ideia ao obter uma imunização
contra o vírus da gripe suína
com as células de insetos.
A equipe liderada por Florian
Krammer, da Universidade de
Recursos Naturais e Ciências
da Vida Aplicadas de Viena, testou com sucesso a vacina obtida
em camundongos, constatando
que os roedores tinham o sistema imune (de defesa) de seu organismo ativado pelo produto.
O avanço é importante quando se leva em conta a metodologia quase arcaica que predomina na fabricação das vacinas
contra os vírus da gripe mundo
afora. O processo de cultivo em
embriões de galinha é complicado e relativamente lento, levando a um ciclo de produção
que dura cerca de seis meses.
Já o grupo austríaco, em artigo na revista científica "Biotechnology Journal", afirma
ser capaz de chegar ao mesmo
resultado em cerca de dois meses. O tempo mais curto de produção poderia fazer grande diferença no número de vidas salvas durante uma pandemia
(epidemia mundial) causada
por um vírus muito agressivo.
Vírus contra vírus
Krammer e seus colegas se
aproveitaram das propriedades
de outro agente patogênico, do
grupo dos baculovírus, para
realizar seus experimentos.
Os baculovírus infectam invertebrados -até onde se sabe,
não são capazes de fazer o mesmo com mamíferos como o homem. Como muitos outros vírus, eles "convencem" as células de seus hospedeiros a produzirem seus componentes.
O grupo austríaco, portanto,
modificou geneticamente os
baculovírus para que eles carregassem a receita genética de
dois componentes essenciais
dos vírus da gripe. Depois, usaram esses vírus alterados para
infectar, em laboratório, células de duas espécies de mariposas, bem conhecidas dos cientistas porque, na fase de lagarta,
elas são pragas da agricultura.
O truque deu certo: os vírus
modificados fizeram com que
as células produzissem os componentes da gripe, que não chegavam perto de ter as propriedades do vírus verdadeiro.
Mesmo assim, eles eram suficientes para alertar o sistema
de defesa do organismo a ponto
de ele produzir anticorpos contra o vírus H1N1 que andou
aterrorizando o mundo no ano
passado. Um desses componentes é a hemaglutinina, uma
espécie de "pé-de-cabra" molecular que o vírus da gripe usa
para se grudar à membrana das
células e então invadi-las.
Os dados obtidos em camundongos de laboratório sugerem
que a estratégia é promissora.
Antes, porém, é preciso garantir, por exemplo, que o baculovírus não contrabandeie
nada de indesejável para as células dos vacinados. Um sinal
de que isso é possível é que uma
vacina contra o vírus HPV, causador do câncer de colo do útero, é fabricada utilizando a
mesma abordagem e já está disponível no mercado da Europa.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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