São Paulo, quarta-feira, 05 de janeiro de 2011

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Amostra de DNA indica cores de cabelo

Análise de sangue ou saliva encontrados em cena de crime oferece informação sobre a aparência de bandido

Pessoas ruivas são identificadas com mais facilidade, mas acerto ultrapassa 80% mesmo em loiros e morenos

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

O que antes parecia mera ficção de seriados policiais já é realidade: pode-se descobrir a cor do cabelo de alguém com base em uma pequena amostra de seu DNA.
A técnica, desenvolvida por cientistas europeus, tem alto índice de precisão. Para cabelos pretos ou ruivos, o índice de acerto ultrapassa 90%. No caso de loiros e castanhos, é de mais de 80%.
Ou seja: se um bandido se atrapalhar na cena do crime e deixar para trás um pouco de saliva ou uma gota de sangue, os polícias já terão algum vestígio de sua aparência para investigar.
Isso é útil sobretudo em casos sem testemunhas ou em um grupo de suspeitos muito amplo.

MÉTODO
Para identificar os "ingredientes" do DNA que determinam a cor dos fios, os pesquisadores analisaram 45 SNPs (pronuncia-se "snips") -alterações de uma só letra química- de 12 genes.
Foram estudadas quase 400 amostras de voluntários, todos poloneses.
Embora a influência desses genes na cor dos cabelos não seja exatamente uma novidade para os cientistas, essa foi a primeira vez que eles realizaram uma pesquisa tão ampla sobre o assunto.
Eles descobriram que certas alterações são praticamente exclusivas, ou pelo menos bem mais comuns, em cada cor.
As mudanças que provocam o cabelo vermelho são consideradas mais "nítidas" do que as outras e há tempos já estão documentadas na literatura científica.
Mesmo que isso já fosse um grande avanço, não ajudava tanto assim na hora de resolver um crime, segundo especialistas na área.
"O teste anterior [que conseguia identificar apenas se o indivíduo era ruivo] não era muito útil porque os ruivos são normalmente muito raros", afirma Manfred Kayser, um dos autores do trabalho, publicado na revista "Human Genetics".
"Por isso, nós procuramos investigar se o DNA poderia ser usado para avaliar com precisão também as outras cores", completou o pesquisador, que é chefe do Departamento de Biologia Molecular Forense do Centro Médico Erasmus, na Holanda.

CURTO PRAZO
Segundo ele, o trabalho demonstra cientificamente que é possível determinar a cor dos cabelos com base em amostras de DNA.
Agora, seria preciso criar protocolos, o que poderia ser feito em pouco tempo.
"As técnicas usadas para analisar o DNA e descobrir a cor dos cabelos já estão em uso em vários laboratórios de criminalística no mundo todo", diz o cientista.
"Tecnicamente falando, não há problema com a parte relacionada aos métodos de investigação laboratorial", avalia Kayser.
Um empecilho muito maior, de acordo com o cientista, viria das legislações que regem análises de DNA.
Alguns países, como a Holanda, onde ele trabalha, têm leis bastante rígidas sobre o que pode ou não ser estudado nos genes. Sobretudo em casos policiais.
No Brasil, até agora, existe pouca regulação sobre o uso de exames de DNA em investigações criminais.
No caso de pesquisas em laboratório, por outro lado, a legislação obriga os pesquisadores a cumprirem uma série de diretrizes.
O mesmo grupo de Kayser também conseguiu, há cerca de dois anos, determinar com precisão a cor dos olhos das pessoas apenas com base em seu DNA.
Dessa forma, os cientistas -e também a polícia- conseguem saber cada vez mais sobre os criminosos, mesmo que as pistas deixadas sejam realmente muito pequenas.


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