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Terra está sob forte estresse, diz estudo
Mudança do clima é só um dos problemas; pesca predatória e uso intensivo do solo também causam desequilíbrios
Grupo internacional, que é
presidido por brasileiro,
estuda o planeta como se
ele fosse um grande e único
sistema, cheio de interações
DA REDAÇÃO
Com os resultados apresentados na sexta-feira em Paris
pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima), o mundo já sabe que a culpa pelas aceleradas alterações
climáticas das últimas décadas
é do próprio homem.
Mas, conforme mostram as
últimas análises do IGBP (Programa Internacional Geosfera-Biosfera, na sigla em inglês), as
várias outras alterações em
curso na Terra também devem
ser debitadas na conta dos humanos. O alerta desse grupo de
cientistas, presidido pelo brasileiro Carlos Nobre, do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é bem claro.
As mudanças climáticas são
apenas uma das causas que estão estressando o planeta. Existem várias outras que precisam
ser estudadas e levadas também em consideração.
"O estudo da Terra como um
sistema (com a terra representada pela geosfera e a vida pela
biosfera), onde se olha não apenas para o clima, mas para as
mudanças nos oceanos e no uso
do solo, e para o papel que os
humanos desempenham em
tudo isso, é fundamental para
que possamos construir um
planeta sustentável", disse na
sexta-feira Kevin Noone, diretor do IGBP.
A partir dessa visão sistêmica, os dados mais recentes que
emergiram dos trabalhos de
pesquisa do grupo internacional revelam que existem problemas em todos os lugares.
Na terra, por exemplo, 50%
da superfície do planeta, hoje,
está domesticada de forma direta pelo homem. Esse uso indevido do solo gera erosões nas
grandes cidades até diminuição
nas dimensões das praias nas
zonas litorâneas.
No mar, a pesca predatória já
ocorre sobre 75% das espécies
de valor comercial. Além disso,
a atmosfera, por causa também
do homem, apresenta uma variabilidade que foge dos padrões naturais existentes nos
últimos 650 mil anos.
A extinção das espécies vegetais e animais também atingiu
padrões irreais neste século.
Os cientistas do IGBP concordam que o mundo está assistindo a sexta grande onda de
extinção de todos os tempos.
Para Noone, o último relatório do IPCC reforça também a
importância da abordagem sistêmica proposta por ele.
"Nossa visão é que precisamos considerar as interações
entre terra, atmosfera, água,
gelo, vida animal, sociedades
humanas, tecnologias e economias. Tudo isso em escalas geográfica e temporal", defende.
Águas geladas
Enquanto os políticos tentam agora criar formas de combater o aquecimento global, e
os eventos extremos começam
a ocorrer, como a enchente em
Jacarta, Indonésia, nesses últimos dias - a pior dos últimos
cinco anos pelo menos -, novas
evidências científicas do estresse vão surgindo.
Um dos artigos publicados na
última edição da revista científica "Science" ilustram a importância sistêmica realçada
pelos pesquisadores do IGBP.
Em várias partes do mundo,
como no litoral chileno e mesmo na região de Cabo Frio, na
costa fluminense, existem as
chamadas zonas de ressurgência. Águas frias, ricas em nutrientes, que emergem até a superfície do mar.
Conclusão prática desse fenômeno? No total, 20% da pesca mundial com fins comerciais
ocorrem nessas zonas, apesar
de elas cobrirem menos de 1%
da superfície oceânica.
Os pesquisadores descobriram que em alguns desses locais, principalmente no litoral
de Marrocos, as águas que chegam em áreas menos profundas estão cada vez mais geladas.
E isso, por causa do aquecimento global, estaria alterado a
interação entre água e ar.
Antes de qualquer tipo de comemoração, em princípio
águas mais geladas poderiam
trazer até mais nutrientes e,
então, aumentar ainda mais a
produção de pescado, é bom saber o que dizem os autores do
artigo científico.
Na verdade, um grupo de
pesquisadores da Alemanha,
Romênia e Austrália.
"Nessas regiões existem um
balanço complexo entre temperatura, química do oceano,
circulação das águas e pressão
por causa da pesca".
A autora principal do estudo,
a alemã Helen McGregor, da
Universidade de Bremen, não
tem como dizer se essas alterações nas zonas de ressurgência
- já foram obtidos registros parecidos na Califórnia, no Atlântico Sul e no Mar da Arábia-,
farão com que a produção do
pescado suba ou desça.
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