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Movimento da pupila antecipa momento da tomada de decisão
Experimento liga circuitos nervosos da visão a centro da iniciativa no cérebro
Folha Imagem
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O ambíguo "cubo de Necker" |
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando estamos olhando para um objeto, antes mesmo de
conseguirmos reconhecê-lo já
o analisamos e já "julgamos"
como devemos tratá-lo. Essa é
a maneira inusitada com que a
visão opera no cérebro, conforme demonstra um estudo publicado na edição de hoje do periódico científico "PNAS".
Num elegante experimento
que demonstrou o fenômeno,
um grupo liderado por Olivia
Carter, do Laboratório de Ciências Visuais da Universidade
Harvard, dispensou modernas
tecnologias de mapeamento
cerebral. Para saber o que se
passava na cabeça das pessoas,
bastou a ela observar os olhos
das pessoas, e o comportamento das pupilas revelou tudo.
No experimento, voluntários
foram apresentados a uma série de imagens ambíguas. Uma
delas era o "cubo de Necker",
uma figura clássica de ilusão de
óptica, que dá margem a uma
dupla interpretação sobre sua
perspectiva.
Quando olhavam para o cubo, os voluntários relatavam de
tempo em tempo qual das duas
perspectivas parecia real. Mas
eles mudavam de idéia o tempo
todo. Enquanto acompanhava
o que as pessoas diziam, a pesquisadora também monitorava
o diâmetro de suas pupilas. Ela
percebeu que, em alguns momentos, as pupilas dos voluntários sofriam um espasmo, dilatando-se, e logo em seguida eles
"trocavam" de idéia sobre a interpretação da imagem.
A neurocientista Carter, porém, sabia que a dilatação de
pupilas estava ligada a um fenômeno interno no cérebro: a reação em cadeia de uma molécula
chamada norepinefrina, transmissora de impulsos nervosos.
Quando ativada em um setor
do tronco cerebral -estrutura
que conecta o cérebro à medula
espinhal- essa substância provoca o alargamento da pupila.
Esse mesmo mecanismo está
associado também à tomada de
iniciativa. A norepinefrina age
no momento em que uma pessoa deixa de analisar um problema para pôr a mão na massa
e começar a resolvê-lo. Carter
descobriu que essa via de transmissão de impulsos nervosos,
que impele as pessoas à ação, é
a mesma que inconscientemente obriga as pessoas a escolherem uma das interpretações
da visão que lhes é apresentada.
"A evidência atual sugere que
esse complexo está envolvido
em otimizar o equilíbrio entre
"aproveitar" (continuar fazendo
o que se faz) e "explorar" (libertar-se e escolher uma das alternativas possíveis)", escreveram
Carter e colegas na "PNAS".
É como se fosse o instante
em que uma pessoa prestando
vestibular se dá conta de que
não sabe resolver uma questão
e "chuta" uma das alternativas.
A neurociência, afinal, está
mostrando que o mero ato de
olhar já implica em uma tomada de decisão.
(RAFAEL GARCIA)
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