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Lula diz que apóia estudo com embrião
Na véspera do julgamento da lei que autoriza células-tronco, presidente afirma que mundo "não pode prescindir" da técnica
"Eu gostaria que passasse [a constitucionalidade das pesquisas com células-tronco humanas], mas não posso firmar expectativa"
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na véspera da sessão do STF
(Supremo Tribunal Federal)
que irá decidir sobre a liberação
ou não do uso de células-tronco
de embriões humanos para
pesquisas, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse ontem ser "particularmente favorável" à aprovação da continuidade das pesquisas.
"Eu, particularmente, sou favorável à aprovação da [pesquisa com] célula-tronco. Acho
que o mundo não pode prescindir de um conhecimento científico que pode salvar a humanidade de muitas coisas", disse o
presidente ontem, após a inauguração do Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar
Lattes, em Campinas.
Foi a declaração mais explícita de Lula sobre o assunto desde que a Lei de Biossegurança
começou a ser debatida, em
2003. Na campanha presidencial de 2006, quando a lei já havia sido aprovada, Lula foi
questionado sobre se apoiava
essa linha de pesquisa -questionada por religiosos de sua
base. Sem responder, limitou-se a comentar os investimentos
de seu governo na área.
Lula afirmou, no entanto,
que não iria comentar suas expectativas em relação à votação
pelo STF da Adin (ação direta
de inconstitucionalidade) que
quer barrar as pesquisas com
células embrionárias, prevista
para ocorrer hoje.
"Eu gostaria que passasse [a
constitucionalidade das pesquisas com células-tronco],
mas não posso firmar expectativa quando a Suprema Corte se
reúne. Cada ministro é muito
bem preparado para votar."
A atual Lei de Biossegurança,
aprovada pelo Congresso em
março de 2005, permite que
cientistas usem embriões inviáveis ou congelados há mais
de três anos para pesquisas.
Para o ex-procurador-geral
da República Claudio Fonteles,
autor da ação de inconstitucionalidade, a vida humana começa na fecundação e, portanto,
destruir embriões para fins de
pesquisa fere a Constituição,
que garante a "inviolabilidade
do direito à vida".
A posição de Fonteles é defendida pela Igreja Católica,
que critica a possibilidade de
aprovação das pesquisas, alegando que seria um passo para
a aprovação do aborto.
Defensores das pesquisas
alegam que não é possível equiparar os direitos de um embrião de cem células com os de
um ser humano formado.
"Trevas"
Pelo menos dois ministros de
Lula -José Gomes Temporão,
da Saúde, e Tarso Genro, da
Justiça- também se manifestaram ontem a favor da Lei de
Biossegurança.
Um grupo de portadores de
doenças neurodegenerativas
favorável à utilização de embriões em pesquisa esteve ontem com Temporão, com parlamentares da frente da Saúde e
com o advogado-geral da
União, José Antonio Dias Toffoli -este fará hoje no Supremo
a defesa da permanência das
pesquisas com embriões.
"Se o resultado for negativo,
nós entraremos num período
de grave retrocesso, eu diria de
trevas", declarou Temporão.
"Essa não é uma questão de fé, é
da ciência. Não acho razoável
que uma religião queira impor
seus dogmas."
O posicionamento em defesa
das pesquisas com embriões foi
reforçado por Tarso. "Eu tenho
a mesma posição do Temporão.
Eu acho a posição dele sensata,
muito prudente e torço para
que seja vencedora."
Toffoli tentou evitar a contraposição entre a igreja e a
ciência. "Não se deve falar de
bem contra o mal. Os dois lados
partem da premissa da defesa
da vida, são dois valores positivos. No julgamento não vai se
perder o mal e ganhar o bem."
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