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Dupla acha buracos negros "siameses"
Corpos com centenas de milhares de vezes a massa do Sol giram um em torno do outro, bem no centro de uma galáxia
Observação do fenômeno foi feita de maneira indireta, por meio da luz emitida pela matéria que está prestes a ser engolida para sempre
RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma dupla de astrônomos
anunciou ontem a descoberta
de um par de buracos negros
negros gigantes, orbitando um
o outro, no centro de uma galáxia. Essa estrutura binária, até
então concebida apenas em
teoria, pode ajudar a entender
como se formam esses monstros galácticos, que tem massas
de até 100 mil vezes a do Sol, e
onde a gravidade é tão grande
que nem a luz pode escapar.
O fenômeno, que ainda carece de confirmação definitiva,
foi detectado de maneira indireta por Todd Boroson e Tod
Lauer, do Observatório Nacional de Astronomia Óptica, do
Arizona. Astrônomos independentes, porém, dão crédito à
descoberta e dizem que ela ajuda a entender a evolução das
galáxias, já que se acredita que
todas tenham ao menos um
grande buraco negro central.
Apesar de difíceis de detectar, buracos negros binários devem ser relativamente comuns
nas galáxias que estão em fusão, já previam os teóricos. Nenhum astrônomo, porém, tinha
efetivamente visto isso.
A distância entre os dois buracos negros detectados agora
-0,3 ano-luz- é pequena: apenas um décimo da distância do
Sol à estrela mais próxima. Eles
orbitam um o outro, como duas
pessoas de mãos dadas girando.
Um impede o outro de ser jogado para fora, unidos pelos "braços" da força gravitacional.
A teoria diz que em algum
momento eles se unirão num
evento com nível absurdo de
energia. Em 2006, a Nasa fez
uma simulação computacional
sobre como isso poderia ser.
Um evento desses envolveria
mais energia do que o brilho de
todas as estrelas do Universo
juntas. Ondas gravitacionais se
afastariam à velocidade da luz e
o espaço ao redor "tremeria".
A hipótese de que essas megatrombadas podem mesmo
acontecer se fortalece agora
com o trabalho de Boroson e
Lauer. Isso também pode ajudar a entender como se formam os buracos negros do núcleo de uma galáxia -muito
maior do que o tipo que existe
na periferia dela, remanescente
da morte de uma única estrela.
"Ninguém sabe muito bem como os buracos negros supermaciços se formam", diz Laerte
Sodré Jr., astrônomo da USP.
Boroson e Lauer descrevem
em estudo hoje na revista "Nature" como conseguiram detectar os dois buracos negros. Não
é algo trivial, já que eles não
emitem luz direta. A matéria
que se agrega em torno de um
buraco negro antes de ser engolida definitivamente, porém,
emite ondas eletromagnéticas,
e cada buraco negro se relaciona com uma frequência de onda diferente, como se fossem
cores distintas. Ao ver frequências diferentes sendo emitidas
do núcleo da galáxia estudada,
concluíram que há uma dupla
de superburacos negros lá.
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