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No MS, em três anos 270 mil hectares viram carvão
Valor equivale a duas vezes o território da cidade de SP em matas do Pantanal
Estimativa foi feita pelo Ibama; para ambientalista, produção de carvão vegetal na região serve para bancar a abertura de mais pastos
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
A produção de carvão vegetal
para a indústria siderúrgica fez
desaparecer nos últimos três
anos cerca de 270 mil hectares
de matas nativas do Pantanal
de Mato Grosso do Sul, o que
equivale a duas vezes o território da cidade de São Paulo.
A estimativa foi feita pelo
Ibama no Estado e levou em
conta a demanda utilizada pelas indústrias no período e as
informações sobre movimentação de cargas contidas nas
guias do DOF (Documento de
Origem Florestal).
"O avanço das carvoarias sobre as matas nativas, legalmente ou não, é uma séria ameaça à
sobrevivência do Pantanal",
afirma o superintendente do
Ibama-MS, David Lourenço.
Entre 2007 e 2009, segundo
o Ibama, Mato Grosso do Sul
movimentou 8,6 milhões de
metros cúbicos de carvão vegetal -a conta inclui o carvão importado do Paraguai. O auge foi
o ano de 2007, com 4,5 milhões
de metros cúbicos.
Em 2009, diz o Ibama, houve
queda significativa na produção: 1,2 milhão de metros cúbicos. O órgão atribui o resultado
à crise internacional e ao aumento na fiscalização.
No período, diz Lourenço, a
produção derivada de florestas
plantadas representou "praticamente nada" em relação à demanda da indústria. "Do produzido, 99% se dá por meio de
lenha de floresta nativa. Não temos dúvida em relação a isso."
Cada 80 metros cúbicos de
lenha nativa rende, em média,
40 metros de carvão. A maior
parte dessa madeira é retirada
da região do planalto pantaneiro, afirma o superintendente.
"Antes a produção se concentrava no oeste do Estado.
Mas o enfraquecimento gradativo do cerrado por lá levou a
uma migração para o planalto
pantaneiro, onde temos 47% de
matas nativas preservadas."
Para Luiz Benatti, chefe de
proteção ambiental do Ibama
no Estado, as indústrias carvoeira e siderúrgica são hoje
duas das principais "indutoras
do desmatamento" do cerrado.
"A carvoarias atuam diretamente. E as siderúrgicas só
querem saber de colocar mais
carvão para dentro da indústria, sem se importar com a origem e as condições em que foi
produzido", afirma.
O ambientalista Alcides Faria, diretor-executivo da ONG
sul-mato-grossense Ecoa (Ecologia e Ação), diz que até mesmo as áreas da planície pantaneira já são alvo das carvoarias.
"Entre os impactos possíveis
estão a erosão e o assoreamento dos rios", diz Faria.
Para fazer pasto
De acordo com ele, a transformação de matas nativas em
carvão é hoje uma opção rentável para a ampliação de áreas
para a pecuária. "Muitos fazendeiros usam as natas nativas de
suas propriedades para financiar, por meio da produção de
carvão, a abertura de novas
pastagens", afirma.
O processo segue o mesmo
rumo, diz o ambientalista, nas
regiões pantaneiras da Bolívia e
do Paraguai, que hoje também
são grandes produtoras de carvão de origem nativa. "Há uma
nítida expansão dessas atividades por todo o bioma."
"Exagero"
O presidente do sindicato do
setor metalúrgico no Estado,
Irineu Milanesi, diz que considera "exagerada" a estimativa
feita pelo Ibama. De acordo
com ele, as florestas plantadas
"já são uma realidade". "Não
conseguiríamos sustentar a indústria só com carvão de origem nativa. Isso é um exagero
do Ibama", diz Milanesi.
Para Marcos Brito, do sindicato que representa a indústria
carvoeira, a ideia de que matas
nativas são derrubadas para a
produção de carvão é um "equívoco". "O que existe é o aproveitamento do material resultante de áreas desmatadas legalmente para a agropecuária."
Segundo ele, o setor é o que
mais gera empregos no Estado
e será autossustentável em "sete a oito anos". "Já temos 307
mil hectares plantados e devemos chegar a 500 mil hectares.
Este processo já está bastante
adiantado", afirma Brito.
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