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Frango precedeu naus de Colombo
Osso de galinha achado no Chile mostra que polinésios desembarcaram na América antes do século 16
Análise de DNA mostra que
primeiro espécime trazido
ao continente tinha mais
semelhança com aves dos
povos ilhéus do Pacífico
STEVE CONNOR
DO "INDEPENDENT"
Um osso de galinha encontrado no Chile foi apresentado
ontem por arqueólogos como a
evidência mais forte até hoje de
que navegadores da Polinésia
chegaram às Américas antes de
o Novo Mundo ter sido descoberto pelos europeus.
A possibilidade de polinésios
terem tido contato direto com
povos indígenas da América do
Sul há mais de 600 anos é aventada há tempos por antropólogos, mas sem indícios muito
concretos.
Um trabalho publicado agora
por cientistas chilenos e neozelandeses, porém, mostrou que
o povos ilhéus do Pacífico podem ter chegado ao continente
pelo menos cem anos antes de
Cristóvão Colombo. E levando
frangos vivos na bagagem.
O osso de frango apresentado
pelos cientistas, descrito em estudo na edição de hoje da revista "PNAS" (www.pnas.org), é
anterior ao século 15 e possui
DNA semelhante ao de variedades de galinhas atuais na Polinésia.
Galinhas domésticas criadas
hoje no mundo um todo são
provavelmente um espécie derivada de de aves selvagens
criadas na Índia séculos atrás.
Os povos indígenas americanos, porém, que chegaram às
Américas há mais de 10 mil
anos pelo estreito de Bering,
ainda não dominavam o trato
com os frangos.
O fato, porém entrava em
conflito com relatos históricos
do conquistador espanhol
Francisco Pizzaro, que afirmou
ter visto sacerdotes incas usarem galinhas em sacrifícios em
1532 no Peru.
Muitos historiadores defendiam a idéia de que aquelas
aves teriam sido introduzidas
na região pelos próprio espanhóis, mas a hipótese da travessia polinésia ganha força
agora com o estudo na "PNAS"
"A teoria mais comum sugeria que exploradores espanhóis
ou portugueses teriam introduzido os frangos quando chegaram à costa oeste da América
do Sul por volta de 1500", diz
Alice Storey, antropóloga da
Universidade de Auckland, na
Nova Zelândia, autora principal do estudo. "Essas novas evidências genéticas, porém, sugerem que os frangos vieram
da Polinésia e dão suporte à
idéia de que polinésios desembarcaram na costa oeste da
América do Sul."
Os osso de frango datado pelos pesquisadores haviam sido
encontrado em meio mais de
50 fragmentos achados no sítio
arqueológico de El Arenal, na
península de Arauco (centro do
Chile). Segundo os pesquisadores, a ave analisada deve ter vivido entre 1321 e 1407, e provavelmente chegou à América do
Sul mais de cem anos antes do
navegado português Pedro Álvares Cabral.
Conexão cultural
"Os resultados fornecem não
apenas evidências sólidas da introdução dos frangos nas Américas, mas sugere com força que
ela foi obra dos polinésios", escrevem os autores.
Até agora, porém evidências
de uma conexão cultural direta
entre polinésios -povos derivados do Sudeste Asiático- e
nativos sul-americanos eram
circunstanciais. Lingüistas já
haviam identificado similaridades na fala de alguns povos, e
antropólogos já haviam apontado para a presença de espécies de planta americanas na
Polinésia. A batata-doce e a cabaça, por exemplo, chegaram às
ilhas do Pacífico muito antes da
Expansão Ultramarina espanhola e portuguesa.
Storey e e seus colegas sugerem que marinheiros polinésios podem ter usado a força
dos ventos alísios do hemisfério Sul para navegar junto com
sua carga de frangos vivos até a
Costa do Chile.
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