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MEDICINA
Núcleo da Unifesp vai pesquisar doenças brasileiras; falta de resultados mudou rumo de centro pioneiro na USP
Brasil ganha novo centro de geneterapia
MARCUS VINICIUS MARINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil ganhou na semana passada seu maior centro de geneterapia. O Centro Interdisciplinar
de Terapia Gênica, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo), foi inaugurado em uma
área de mil metros quadrados, na
zona sul da capital paulista.
A inauguração deve atiçar polêmica na comunidade científica,
porque, embora promissora, essa
área da medicina tem sido cercada de falhas práticas e problemas
de biossegurança.
A terapia gênica tem como meta
induzir o corpo do doente a produzir seu próprio "remédio", por
meio da introdução de genes que
possam repor aqueles com defeito ou ausentes no organismo. A
técnica é bastante debatida, já que
envolve incorporação de genes
em seres humanos.
No novo centro, cinco laboratórios, liderados por pesquisadores
de três departamentos da Unifesp, produzirão pesquisas e tratamentos em geneterapia.
"Será um instituto para desenvolver pesquisa básica, mas que
está planejado para ter interface
com a área clínica", explica o
coordenador do centro, Luiz Rodolpho Travassos. Resultados das
pesquisas, segundo o cientista, serão repassados a áreas clínicas da
Unifesp, para que tratamentos sejam concebidos para a população.
A construção do centro consumiu cerca de R$ 1 milhão e foi financiada pelo CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico), pela
Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e pela universidade.
A existência de centros como
esse é vital para a medicina brasileira, diz Travassos, pois nesse
momento muitos similares funcionam a pleno vapor nos EUA e
na Europa. "É importante desenvolver técnicas para tratar doenças mais tipicamente brasileiras
ou adaptar tratamentos de doenças comuns também em outros
países para a realidade nacional."
As principais linhas de pesquisa
serão: desenvolvimento de vetores (meios de introdução dos genes "curativos" nas células, como
vírus modificados), imunoterapia
do câncer, doenças infecciosas e
doenças cardiovasculares.
Com a pesquisa do novo instituto, portadores de disfunções como isquemia (enfermidade relacionada à falta de circulação sanguínea) e a fibrose cística (doença
hereditária que afeta glândulas)
podem ser beneficiados.
Desistência
O Cintergen, como é conhecido
o centro, não é o primeiro projeto
do gênero no Brasil. Em 2000, foi
inaugurado o Centro de Terapia
Gênica da Associação dos Amigos
de Portadores de Distrofia Muscular de Ribeirão Preto (AADM),
com a intenção de desenvolver
tratamentos ligados à doença.
O centro da AADM, no entanto,
foi convertido em Centro de Terapia Celular, segundo sua atual
coordenadora, Mayana Zatz, professora do Instituto de Biociências
da USP. "Não considerei os resultados [da terapia gênica] na área
clínica muito satisfatórios", explica a cientista. Já Travassos discorda: "Na minha opinião, a terapia
gênica é a medicina do futuro. A
medicina tende a ser cada vez
mais molecular, e todos os ramos
da medicina podem ser beneficiados quando se associa a pesquisa
a algum tipo de terapia gênica".
Riscos
A terapia gênica não é, no entanto, desprovida de riscos. Frequentemente, ela é relacionada
com o exemplo dos alimentos geneticamente modificados (transgênicos), por também envolver a
incorporação de novos genes em
seres vivos.
Em 1999, Jesse Gelsinger, um
adolescente portador de uma
doença metabólica rara, morreu
nos EUA ao ser tratado com terapia gênica. No ano passado, duas
crianças submetidas a geneterapia para curar uma síndrome
imunológica grave na Europa adquiriram leucemia.
"Do ponto de vista de tratamento, a pesquisa em terapia gênica
não deslanchou como se esperava
há dez anos. E existem riscos
enormes", afirma Zatz.
Para Travassos, o país não pode
esperar mais para pesquisar na
área. "A terapia gênica já deslancha no hemisfério Norte. A gente
por aqui tem sempre de ficar para
trás e depender dos outros?".
A geneterapia abre as possibilidades da introdução no homem
de genes de outras espécies, como
micróbios e animais. "Se você tiver uma planta ou um organismo
que faça esse serviço, por que não
fazer?", pergunta Travassos.
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