São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Avião solar tentará dar volta ao mundo

Protótipo idealizado por suíço começa a voar no ano que vem, e tentativa de circunavegação deve ocorrer em 2011

Aeronave produzida pelo explorador que contornou a Terra em balão terá asas do tamanho das de um Airbus, mas abrigará só uma pessoa

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro homem a ter conseguido dar a volta ao mundo em um balão sem escalas quer agora fazer a circunavegação a bordo de um avião sem gastar uma gota de combustível.
O suíço Bertrand Piccard, 49, de uma moderna dinastia de exploradores do ar e do mar, está agora construindo o primeiro protótipo de um avião movido a energia solar.
Se tudo der certo, no ano que vem, a primeira aeronave "Solar Impulse" -Impulso Solar em inglês- deverá levantar vôo e pousar sem usar combustíveis fósseis, esses restos de antigos seres vivos na forma de petróleo ou carvão dos quais depende toda a civilização hoje.
Não vai ser fácil, apesar dos 70 milhões envolvidos no projeto -dos quais Piccard e colaboradores já dispõem de cerca de 44 milhões, por meio de patrocinadores como as empresas suíças Solvay (de materiais especiais), Omega e o banco alemão Deutsche Bank. O projeto também tem apoio da empresa francesa fabricante de aviões Dassault e da ESA (Agência Espacial Européia).
Mesmo com a melhor tecnologia disponível agora e no futuro próximo, porém, o Solar Impulse só vai poder carregar um tripulante, e voar à velocidade de um automóvel. É quase um retorno aos primórdios da aviação, no início do século 20.
A potência disponível não seria estranha aos autores do primeiro vôo de todos, feito pelos irmãos americanos Orville e Wilbur Wright em 1903. Um dia de operação dos motores elétricos do Solar Impulse têm potência comparável ao pioneiro aviãozinho dos Wright.
Isso significa que o avião solar vai voar com a velocidade de um carro bem comportado em estrada: em média, 70 km/h.
Os olhos de Piccard brilham quando fala no projeto Solar Impulse. Durante uma entrevista alguns dias atrás, em Paris, após uma apresentação no salão aeronáutico de Le Bourget, ele não conseguia conter o sorriso e o entusiasmo.

Questão de educação
Mas como Piccard foi se meter nesse tipo de coisa? Seria "genético", como disse à revista "Popular Mechanics" em 2005? Estaria "no sangue"?
"Está na minha educação. Desde pequeno encontrei astronautas, exploradores. Eram amigos do meu pai", disse o aventureiro em entrevista à Folha. "Fiz a escolha assim que tive a primeira oportunidade", afirma o psiquiatra com currículo de explorador.
Bertrand Piccard diz que teve a idéia do projeto ainda quando voava em balão em 1999 em volta do planeta. Em parte, ele respondia a uma provocação da imprensa: haveria ainda algum desafio para um explorador moderno?
"Um vôo sem combustível", diz Piccard, era algo com o que ele já sonhava durante o longo vôo do balão -que, apesar de não ter motor, precisa de gás quente para voar.
Já em 2001 Piccard e o colega balonista Brian Jones começaram a investigar a área da "aviação solar", visitando os pioneiros da área nos EUA. Mas o projeto que veio a seguir, oficialmente lançado em 28 de novembro de 2003, pretende ser uma vitrine de tecnologias limpas e de ponta da Europa, na vital área aeroespacial e da eletrônica.
O estudo inicial foi feito pela Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, que delegou a tarefa ao engenheiro e piloto André Borschberg. Ele passou a ser um dos pilotos do Solar Impulse. A primeira volta ao mundo, prevista para 2011, vai demandar mais de um piloto, e pousos para efetuar o rodízio. Só depois que a tecnologia permitir uma cabine de vôo para piloto e co-piloto que se poderá pensar em um vôo sem escalas de volta ao mundo.
No ano que vem, Piccard espera já conseguir fazer os primeiros vôos de teste, e em 2010 espera já estar conseguindo atravessar o Atlântico.


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