São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Opositora do uso de embrião erra currículo

Documento descrevia ativista anticélulas-tronco como bolsista da Fapesp; cientista nega erro por má fé

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A biomédica que inspirou a Procuradoria Geral da República a questionar a lei que libera o uso de células-tronco embrionárias informou de modo errado que era bolsista da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Lilian Eça admitiu ontem à Folha que errou ao preencher seu próprio currículo no banco de dados do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), mas nega tê-lo feito com intenção de enriquecer sua formação artificialmente. Mesmo sem bolsa, por enquanto, a pesquisadora pertence ao grupo da cientista Alice Ferreira, do Departamento de Biofísica da Unifesp.
"Sou sim do grupo da doutora Alice, uma das maiores pesquisadoras que nós temos em estudos de sinais de células de medula óssea. Eu errei, mas não houve má fé", disse Eça.
Em reportagem publicada ontem, o jornal "O Estado de São Paulo" afirmou que Eça havia fraudado seu currículo tanto em relação a sua filiação acadêmica, quanto ao fato de ela ter declarado que era bolsista da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os erros já foram corrigidos no currículo da pesquisadora na internet.
"Estou sim fazendo pós-doutorado na Unifesp. Escrevi um projeto e ele está sendo analisado pela Fapesp", afirmou a pesquisadora, que também preside o Instituto de Pesquisas de Células-Tronco, uma instituição sem fins lucrativos. "A nossa sede está sendo reformada", explicou Eça.
De acordo com a biomédica, o fato de ela ser contra às pesquisas com células-tronco embrionárias, pode estar por trás de uma eventual perseguição contra ela. Nos últimos anos, Ferreira vem sendo uma das maiores porta-vozes do grupo que se opõe ao uso de embriões em pesquisas genéticas.
"Sou a favor de pesquisa com células-tronco adultas. Mesmo as embrionárias podem ser pesquisadas, mas desde que derivadas das adultas. Já é possível fazer isso", diz Eça.
Questionada sobre se a posição dela é mais religiosa do que científica, a pesquisadora se defende novamente. "Não. Estudamos sinas celulares. Quando o espermatozóide encontra o óvulo, os sinais medulares e todos os outros já estão lá. Na época do Pasteur, ninguém via as bactérias que provocavam as infecções, mas ele já via".

Razão antecipada
Para Eça, é fundamental que se possa ter a liberdade para se pensar de maneira diferente do ponto de vista científico. "As células embrionárias não estão levando a nada e não vão levar a nada. Vamos ter que esperar entre dez a quinze anos para vermos que temos razão."
Para a geneticista Mayana Zatz, pró-reitora de Pesquisa da USP, o discurso contra as células-tronco embrionárias deveria ser só científico e não religioso. "Religião nós temos que respeitar. E a própria lei considera que nenhum embrião será usado para a pesquisa se os seus progenitores não quiserem. Isso já está previsto", disse a pesquisadora, uma das maiores defensoras no Brasil hoje, de que se possa pesquisar as células embrionárias.
"Não sou contra às adultas, também. Na verdade, hoje, trabalho com essas células".
Para ela, não se pode distorcer fatos científicos. "Fala-se que as células adultas estão tratado 75 doenças. Mas isso não é verdade. O que ocorre é a injeção de células adultas nos pacientes, o que é bem diferente de tratar", diz.


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