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Opositora do uso de embrião erra currículo
Documento descrevia ativista anticélulas-tronco como bolsista da Fapesp; cientista nega erro por má fé
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A biomédica que inspirou a
Procuradoria Geral da República a questionar a lei que libera o
uso de células-tronco embrionárias informou de modo errado que era bolsista da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Lilian Eça admitiu ontem à
Folha que errou ao preencher
seu próprio currículo no banco
de dados do CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico), mas
nega tê-lo feito com intenção
de enriquecer sua formação artificialmente. Mesmo sem bolsa, por enquanto, a pesquisadora pertence ao grupo da cientista Alice Ferreira, do Departamento de Biofísica da Unifesp.
"Sou sim do grupo da doutora Alice, uma das maiores pesquisadoras que nós temos em
estudos de sinais de células de
medula óssea. Eu errei, mas
não houve má fé", disse Eça.
Em reportagem publicada
ontem, o jornal "O Estado de
São Paulo" afirmou que Eça havia fraudado seu currículo tanto em relação a sua filiação acadêmica, quanto ao fato de ela
ter declarado que era bolsista
da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo). Os erros já foram
corrigidos no currículo da pesquisadora na internet.
"Estou sim fazendo pós-doutorado na Unifesp. Escrevi um
projeto e ele está sendo analisado pela Fapesp", afirmou a pesquisadora, que também preside
o Instituto de Pesquisas de Células-Tronco, uma instituição
sem fins lucrativos. "A nossa
sede está sendo reformada",
explicou Eça.
De acordo com a biomédica,
o fato de ela ser contra às pesquisas com células-tronco embrionárias, pode estar por trás
de uma eventual perseguição
contra ela. Nos últimos anos,
Ferreira vem sendo uma das
maiores porta-vozes do grupo
que se opõe ao uso de embriões
em pesquisas genéticas.
"Sou a favor de pesquisa com
células-tronco adultas. Mesmo
as embrionárias podem ser
pesquisadas, mas desde que derivadas das adultas. Já é possível fazer isso", diz Eça.
Questionada sobre se a posição dela é mais religiosa do que
científica, a pesquisadora se defende novamente. "Não. Estudamos sinas celulares. Quando
o espermatozóide encontra o
óvulo, os sinais medulares e todos os outros já estão lá. Na
época do Pasteur, ninguém via
as bactérias que provocavam as
infecções, mas ele já via".
Razão antecipada
Para Eça, é fundamental que
se possa ter a liberdade para se
pensar de maneira diferente do
ponto de vista científico. "As
células embrionárias não estão
levando a nada e não vão levar a
nada. Vamos ter que esperar
entre dez a quinze anos para
vermos que temos razão."
Para a geneticista Mayana
Zatz, pró-reitora de Pesquisa
da USP, o discurso contra as células-tronco embrionárias deveria ser só científico e não religioso. "Religião nós temos que
respeitar. E a própria lei considera que nenhum embrião será
usado para a pesquisa se os seus
progenitores não quiserem. Isso já está previsto", disse a pesquisadora, uma das maiores defensoras no Brasil hoje, de que
se possa pesquisar as células
embrionárias.
"Não sou contra às adultas,
também. Na verdade, hoje, trabalho com essas células".
Para ela, não se pode distorcer fatos científicos. "Fala-se
que as células adultas estão tratado 75 doenças. Mas isso não é
verdade. O que ocorre é a injeção de células adultas nos pacientes, o que é bem diferente
de tratar", diz.
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