|
Próximo Texto | Índice
Novo mapa mostra aqüífero Guarani mais limitado
Trabalho indica que fluxo de águas na reserva subterrânea é mais lento do que se achava e sugere cautela com poços
Estudo preliminar aponta que área do reservatório hídrico deve ser 10% menor do que estimativa anterior; trabalho sai até o fim do ano
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quanto mais os geólogos estudam o aqüífero Guarani -a
maior reserva hídrica subterrânea das Américas- mais fica
claro que ele não é o mar inesgotável de água doce que se
imaginava existir há algumas
décadas. Um novo mapeamento realizado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista)
constata que o fluxo de água na
camada geológica que compõe
o aqüífero é mais lenta do que
se imaginava anteriormente.
O novo mapa hidrogeológico
realizado pelo Laboratório de
Estudo de Bacias, da Unesp, está em fase de finalização e deve
ficar pronto até o fim do ano.
Mas já está claro para os cientistas que o panorama revelado
no trabalho sugere cautela.
O fluxo mais lento significa
que, se o ritmo de extração das
águas é muito intenso em um
local, a água acaba ali e demora
para reaparecer. É um risco,
portanto, apostar no Guarani
para suprir a crescente demanda de água no interior paulista.
"No caso de necessidade de
extração de grandes volumes, a
alternativa de se concentrar
um elevado número de poços
em pequenas áreas pode não
ser a mais correta", diz Didier
Gastmans, da Unesp. Segundo
o geólogo, é preciso cuidar para
que os lugares mais favoráveis
-onde o aqüífero fica perto da
superfície, como Ribeirão Preto- sejam superexplorados.
"Os técnicos responsáveis pela
elaboração de políticas públicas de recursos hídricos terão
de considerar que a água subterrânea terá que ser aduzida
até os pontos de consumo."
Um provável resultado do
novo mapa da Unesp será a "diminuição" do Guarani em 10%,
em razão da adoção de novos
critérios geológicos. O padrão
está sendo adotado para o projeto internacional de proteção
do reservatório, do qual a
Unesp participa. "Hoje se conhece a real extensão do aqüífero em território argentino e
uruguaio, o que no início do
projeto era mera suposição."
Segundo Gastmans, porém, a
extensão total do aqüífero é
uma "questão menor" comparada à perspectiva de problemas regionais. Um deles é o da
poluição da agricultura, sobretudo a de cana-de-açúcar.
"Com a prática da fertirrigação
com vinhaça [resíduo da fabricação de álcool], podemos em
longo prazo ter problemas com
concentrações elevadas de nitrato nas águas", diz.
Outra preocupação é a entrada de contaminantes no aqüífero por meio de poços escavados
sem precaução. Em algumas
áreas de Santa Catarina a água
já é inadequada para consumo
humano por excesso de sulfatos e cloretos. Regiões mais
"azaradas", como Presidente
Prudente, estão sobre águas
não potáveis do aqüífero, com
excesso natural de flúor.
Próximo Texto: Foco: Governo da China admite que imagem de tigre raro na mata foi montagem Índice
|