São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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GENÔMICA

Estudo do material genético da espécie revela que as variações individuais se concentram em trechos específicos

Grupo mapeia fragilidade do DNA humano

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As variações genéticas que diferenciam um ser humano de outro não estão distribuídas a esmo na "receita" de cada um, mas se concentram em trechos específicos de seus genomas. Ao que parece, o código está protegido por um sistema de segurança que diz onde vale a pena apostar em alterações e onde é melhor não mexer.
A constatação, feita por pesquisadores norte-americanos, deve ser uma ajuda crucial na verdadeira batalha da genômica. Não basta simplesmente obter a decifração completa do código genético humano (tarefa que já foi feita, sem causar nenhuma revolução médica notável), mas identificar quais são os genes envolvidos em doenças e por que eles não se comportam como deveriam.
Segundo os cientistas, o mapeamento de onde as variações se concentram no genoma humano ajuda a escolher trechos onde a busca deve ser intensificada. "As regiões com muita variabilidade provavelmente têm mais influência sobre o risco de doenças", afirma David Altshuler, um dos autores do estudo produzido pelo Instituto Whitehead, em Cambridge, Massachusetts (EUA), e publicado hoje pela revista "Nature Genetics" (genetics.nature.com).
Uma dica de onde começar a procurar vem bem a calhar. O genoma humano é como um livro escrito em código com 3 bilhões de letras. Cada pessoa tem uma versão exclusiva dele, com milhões de pequenas diferenças com relação a todos os outros. A maioria dessas variações consiste na alteração de apenas uma letra numa dada posição (substituição com a vizinha ou simplesmente apagamento também contam), o que os cientistas chamam de SNP (pronuncia-se "snip"), sigla em inglês para designar "polimorfismo de nucleotídeo único".
Foi exatamente a distribuição de SNPs que a turma do Whitehead mapeou. Em média, deve haver uma letra trocada a cada 1.250 no genoma humano. Mas os cientistas descobriram que o DNA pode ser dividido em pedaços que, ao longo de até 100 mil letras, possuem pouquíssimas alterações e outros tantos, de mesmo comprimento, que concentram um monte de SNPs.
"Em um certo nível não ficamos tão surpresos, porque a teoria predizia alguma variabilidade. Mas ficamos surpresos ao descobrir que as regiões com muitos SNPs e as com poucos se estendiam por segmentos tão grandes do genoma", conta Altshuler. "Isso não havia sido previsto."

Rumo à aplicação
Altshuler confessa que esse estudo ainda não fez nada por encontrar potenciais trechos de DNA ligados a problemas de saúde, "embora achemos que esse tipo de pesquisa vá nos ajudar a planejar a próxima rodada de estudos, para descobrir genes que efetivamente causam doenças".
O pesquisador acredita que um passo importante foi dado na direção da medicina personalizada -aquela que levará em conta essas diferenças sutis que cada um tem em seu genoma para desenvolver tratamentos sob medida. "A descoberta de que a recombinação acontece em pontos específicos joga a nosso favor", ele diz. "Ela deve acelerar a caça por genes que influenciam doenças e respostas para a medicina."
Mas falta ainda entender exatamente qual é o mecanismo que cria os oásis e os desertos de SNPs. "Acho que o próximo passo é entender por que há essas diferenças dramáticas na taxa de recombinação", diz. "Há sequências particulares de DNA que causam a recombinação? Jeitos particulares de o DNA se enrolar no núcleo? Se soubermos isso, talvez possamos prever onde ocorrem as misturas entre cromossomos, o que iria guiar ainda melhor os estudos genéticos de doenças."



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