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GENÔMICA
Estudo do material genético da espécie revela que as variações individuais se concentram em trechos específicos
Grupo mapeia fragilidade do DNA humano
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
As variações genéticas que diferenciam um ser humano de outro
não estão distribuídas a esmo na
"receita" de cada um, mas se concentram em trechos específicos
de seus genomas. Ao que parece,
o código está protegido por um
sistema de segurança que diz onde vale a pena apostar em alterações e onde é melhor não mexer.
A constatação, feita por pesquisadores norte-americanos, deve
ser uma ajuda crucial na verdadeira batalha da genômica. Não
basta simplesmente obter a decifração completa do código genético humano (tarefa que já foi feita,
sem causar nenhuma revolução
médica notável), mas identificar
quais são os genes envolvidos em
doenças e por que eles não se
comportam como deveriam.
Segundo os cientistas, o mapeamento de onde as variações se
concentram no genoma humano
ajuda a escolher trechos onde a
busca deve ser intensificada. "As
regiões com muita variabilidade
provavelmente têm mais influência sobre o risco de doenças", afirma David Altshuler, um dos autores do estudo produzido pelo Instituto Whitehead, em Cambridge,
Massachusetts (EUA), e publicado hoje pela revista "Nature Genetics" (genetics.nature.com).
Uma dica de onde começar a
procurar vem bem a calhar. O genoma humano é como um livro
escrito em código com 3 bilhões
de letras. Cada pessoa tem uma
versão exclusiva dele, com milhões de pequenas diferenças com
relação a todos os outros. A maioria dessas variações consiste na alteração de apenas uma letra numa dada posição (substituição
com a vizinha ou simplesmente
apagamento também contam), o
que os cientistas chamam de SNP
(pronuncia-se "snip"), sigla em
inglês para designar "polimorfismo de nucleotídeo único".
Foi exatamente a distribuição
de SNPs que a turma do Whitehead mapeou. Em média, deve
haver uma letra trocada a cada
1.250 no genoma humano. Mas os
cientistas descobriram que o
DNA pode ser dividido em pedaços que, ao longo de até 100 mil letras, possuem pouquíssimas alterações e outros tantos, de mesmo
comprimento, que concentram
um monte de SNPs.
"Em um certo nível não ficamos
tão surpresos, porque a teoria
predizia alguma variabilidade.
Mas ficamos surpresos ao descobrir que as regiões com muitos
SNPs e as com poucos se estendiam por segmentos tão grandes
do genoma", conta Altshuler. "Isso não havia sido previsto."
Rumo à aplicação
Altshuler confessa que esse estudo ainda não fez nada por encontrar potenciais trechos de
DNA ligados a problemas de saúde, "embora achemos que esse tipo de pesquisa vá nos ajudar a
planejar a próxima rodada de estudos, para descobrir genes que
efetivamente causam doenças".
O pesquisador acredita que um
passo importante foi dado na direção da medicina personalizada
-aquela que levará em conta essas diferenças sutis que cada um
tem em seu genoma para desenvolver tratamentos sob medida.
"A descoberta de que a recombinação acontece em pontos específicos joga a nosso favor", ele diz.
"Ela deve acelerar a caça por genes que influenciam doenças e
respostas para a medicina."
Mas falta ainda entender exatamente qual é o mecanismo que
cria os oásis e os desertos de SNPs.
"Acho que o próximo passo é entender por que há essas diferenças
dramáticas na taxa de recombinação", diz. "Há sequências particulares de DNA que causam a recombinação? Jeitos particulares
de o DNA se enrolar no núcleo? Se
soubermos isso, talvez possamos
prever onde ocorrem as misturas
entre cromossomos, o que iria
guiar ainda melhor os estudos genéticos de doenças."
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