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PALEONTOLOGIA
Sistema nervoso do Archaeopteryx, o elo perdido entre aves e répteis, era totalmente adaptado ao vôo
Dinossauro tinha cérebro de passarinho
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Uma tomografia feita em um
dos fósseis mais famosos do mundo revela que o elo perdido entre
aves e répteis tinha um cérebro
surpreendentemente desenvolvido e adaptado para o vôo. O exame também sugere que as aves
modernas são mesmo descendentes dos dinossauros.
O fóssil em questão é um dos sete únicos exemplares de Archaeopteryx, um dinossauro alado também classificado como a
ave mais antiga do mundo. O animal viveu na Europa no final do
Período Jurássico (205 milhões a
144 milhões de anos atrás).
Pouco maior que um pombo, o
Archaeopteryx ("asas antigas",
em grego) surpreende os estudiosos desde o século 19, quando foi
descoberto, no sul da Alemanha.
O fóssil tem penas bem desenvolvidas, como as dos pássaros, e
dois braços que parecem funcionar como asas. Mas outros detalhes de seu esqueleto o aproximam dos dinossauros, como o
formato do crânio, os ossos da
perna e a articulação do ombro,
que fica exatamente no meio do
caminho entre braço e asa.
Durante muito tempo, os paleontólogos acreditaram que essas esquisitices anatômicas tornassem o Archaeopteryx pouco
adaptado ao vôo. "Ele não era
muito manobrável e não tinha
músculos do peito desenvolvidos
o suficiente para sustentar grandes vôos", disse à Folha Angela
Millner, do Museu Britânico de
História Natural, em Londres.
Num estudo cujos resultados
saem hoje na revista científica
"Nature" (www.nature.com),
Millner e colegas resolveram buscar a identidade do elo perdido
num lugar insuspeito: dentro da
sua cabeça. E descobriram que o
bicho tinha literalmente um cérebro de passarinho.
O cérebro em si decompôs e desapareceu há milhões de anos.
Mas o exemplar de Archaeopteryx preservado no museu britânico tem um crânio intacto, que o
grupo submeteu a uma tomografia computadorizada. O exame,
que consiste em uma seqüência
de raios X, montou uma imagem
tridimensional do sistema nervoso do dinopássaro.
O resultado mostra que o animal tinha boa parte do cérebro
dedicada ao sentido da visão, assim como as aves modernas. O
sistema nervoso central é proporcionalmente grande, cerca de três
vezes maior que o de répteis de
tamanho equivalente. Os canais
semicirculares, que ajudam a
manter o equilíbrio, também são
bem desenvolvidos no animal,
como nas aves. Juntos, esses traços davam ao bicho um sentido
de orientação espacial altamente
desenvolvido -um equipamento neural adaptado ao vôo. "Isso
nos surpreendeu", contou Millner, por telefone.
Segundo o paleobiólogo Kevin
Padian, da Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos), o novo estudo corrobora a
hipótese de que as aves evoluíram
dos dinossauros, apesar de mostrar que o cérebro do Archaeopteryx já era mais parecido com o
das aves. Um dinossauro bípede
carnívoro chamado troodonte,
que viveu depois do dinopássaro,
também tinha uma arquitetura
cerebral parecida. "Isso mostra
que os dinossauros sofreram uma
redução de tamanho antes de
voar", disse Padian.
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