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IG NOBEL
Pesquisa britânica mostrou que avestruzes se apaixonam por humanos e ganhou o "antiprêmio" Nobel de Biologia
Ave amorosa leva prêmio de ciência inútil
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você tem uma criação de
avestruzes, provavelmente vai entender a pesquisa que ganhou o Ig
Nobel de Biologia de 2002. Um
grupo de pesquisadores do Reino
Unido publicou um artigo sobre
um bizarro comportamento dessas aves em criatórios: algumas
delas iniciam seu ritual de acasalamento não entre elas, mas voltadas para um ser humano.
O artigo descrevendo esse comportamento insólito foi publicado
em uma respeitada revista especializada britânica, a "British
Poultry Science", em 1998.
Um dos co-autores, Charles
Paxton, da Universidade de St.
Andrews, Escócia, viajou por sua
conta para Cambridge, Massachusetts (EUA), para receber o
prêmio, na cerimônia realizada
anteontem à noite no teatro Sanders, da Universidade Harvard.
Não foi só ele que foi. Nada menos que sete dos dez vencedores
foram até Harvard, vindos de lugares como Japão, Austrália, Alemanha e Reino Unido.
Pois esse "antiprêmio" Nobel,
distribuído há pouco mais de
uma década (o nome é um trocadilho com "ignóbil") deixou de
ser temido pelos cientistas, que
agora vêem nele uma maneira de
se divertir, ou de virarem estrelas
por um dia.
"A cada ano, dos dez novos prêmios Ig Nobel, cerca de metade
vai para coisas que a maioria das
pessoas consideraria louváveis
-embora um tanto patetas. A
outra metade vai para coisas que
seriam menos recomendáveis, na
opinião de algumas pessoas. Os
julgamentos ficam a cargo do observador", afirma o criador do
prêmio, Marc Abrahams, da revista humorística "Annals of Improbable Research" (Anais da
Pesquisa Improvável).
Os prêmios são concedidos para pesquisas que "não podem ou
não devem ser reproduzidas"
(um dos princípios básicos da
ciência é a reprodutibilidade dos
experimentos). A frase é ambígua, de acordo com Abrahams.
Ela serve tanto para aquelas pesquisas ruins ou de pseudociência
que nem deveriam ter sido feitas,
mas, lembra Abrahams, também
serve para indicar aquelas que
não podem ser refeitas.
Uma análise dos prêmios mostra que isso faz sentido. Se o prêmio de Economia foi concedido a
executivos fraudulentos que
"adaptaram o conceito matemático de números imaginários para
uso no mundo dos negócios", o
de Medicina foi para um pesquisador sério de uma universidade
séria que publicou um artigo sério
em uma revista séria de ciência
-mas com um tema capaz de
provocar gargalhadas.
Chris McManus, do University
College, de Londres, ganhou o Ig
Nobel pelo seu artigo "Assimetria
Escrotal no Homem e na Escultura Antiga", publicado na revista
"Nature" em 1976. McManus
também foi à cerimônia.
Bichos
A pesquisa com animais teve
dois vencedores este ano.
Os fabricantes de um brinquedo
japonês ganharam o prêmio da
Paz "por promoverem a paz e a
harmonia entre as espécies" -o
cachorro e o homem.
O brinquedo "Bow-Lingual" é
um equipamento de "tradução"
cachorro-homem, de latidos para
fala. Um gravador-transmissor é
colocado na coleira do cachorro.
A "mensagem" do latido é transmitida para um aparelho, que faz
a tradução. O nome do brinquedo
é um trocadilho em inglês com a
palavra "bilingual" (bilíngue).
"Bow" equivale a "au-au".
Representantes da companhia
de brinquedos Takara, e Matsumi
Suzuki, presidente do Laboratório Acústico do Japão, também
compareceram à cerimônia.
Antes de conceder um prêmio, Abrahams pergunta ao cientista se a concessão poderia prejudicá-lo. Até hoje, meia dúzia de escolhidos recusaram o prêmio.
Em compensação, há um bicampeão. O francês Jacques Benveniste ganhou o Ig Nobel de Química em 1991, pela descoberta da "memória da água" e em 1998, ao
anunciar que essa memória poderia ser transmitida pela internet.
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