São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

Próximo Texto | Índice

IG NOBEL

Pesquisa britânica mostrou que avestruzes se apaixonam por humanos e ganhou o "antiprêmio" Nobel de Biologia

Ave amorosa leva prêmio de ciência inútil

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você tem uma criação de avestruzes, provavelmente vai entender a pesquisa que ganhou o Ig Nobel de Biologia de 2002. Um grupo de pesquisadores do Reino Unido publicou um artigo sobre um bizarro comportamento dessas aves em criatórios: algumas delas iniciam seu ritual de acasalamento não entre elas, mas voltadas para um ser humano.
O artigo descrevendo esse comportamento insólito foi publicado em uma respeitada revista especializada britânica, a "British Poultry Science", em 1998.
Um dos co-autores, Charles Paxton, da Universidade de St. Andrews, Escócia, viajou por sua conta para Cambridge, Massachusetts (EUA), para receber o prêmio, na cerimônia realizada anteontem à noite no teatro Sanders, da Universidade Harvard.
Não foi só ele que foi. Nada menos que sete dos dez vencedores foram até Harvard, vindos de lugares como Japão, Austrália, Alemanha e Reino Unido.
Pois esse "antiprêmio" Nobel, distribuído há pouco mais de uma década (o nome é um trocadilho com "ignóbil") deixou de ser temido pelos cientistas, que agora vêem nele uma maneira de se divertir, ou de virarem estrelas por um dia.
"A cada ano, dos dez novos prêmios Ig Nobel, cerca de metade vai para coisas que a maioria das pessoas consideraria louváveis -embora um tanto patetas. A outra metade vai para coisas que seriam menos recomendáveis, na opinião de algumas pessoas. Os julgamentos ficam a cargo do observador", afirma o criador do prêmio, Marc Abrahams, da revista humorística "Annals of Improbable Research" (Anais da Pesquisa Improvável).
Os prêmios são concedidos para pesquisas que "não podem ou não devem ser reproduzidas" (um dos princípios básicos da ciência é a reprodutibilidade dos experimentos). A frase é ambígua, de acordo com Abrahams.
Ela serve tanto para aquelas pesquisas ruins ou de pseudociência que nem deveriam ter sido feitas, mas, lembra Abrahams, também serve para indicar aquelas que não podem ser refeitas.
Uma análise dos prêmios mostra que isso faz sentido. Se o prêmio de Economia foi concedido a executivos fraudulentos que "adaptaram o conceito matemático de números imaginários para uso no mundo dos negócios", o de Medicina foi para um pesquisador sério de uma universidade séria que publicou um artigo sério em uma revista séria de ciência -mas com um tema capaz de provocar gargalhadas.
Chris McManus, do University College, de Londres, ganhou o Ig Nobel pelo seu artigo "Assimetria Escrotal no Homem e na Escultura Antiga", publicado na revista "Nature" em 1976. McManus também foi à cerimônia.

Bichos
A pesquisa com animais teve dois vencedores este ano.
Os fabricantes de um brinquedo japonês ganharam o prêmio da Paz "por promoverem a paz e a harmonia entre as espécies" -o cachorro e o homem.
O brinquedo "Bow-Lingual" é um equipamento de "tradução" cachorro-homem, de latidos para fala. Um gravador-transmissor é colocado na coleira do cachorro. A "mensagem" do latido é transmitida para um aparelho, que faz a tradução. O nome do brinquedo é um trocadilho em inglês com a palavra "bilingual" (bilíngue). "Bow" equivale a "au-au".
Representantes da companhia de brinquedos Takara, e Matsumi Suzuki, presidente do Laboratório Acústico do Japão, também compareceram à cerimônia.
Antes de conceder um prêmio, Abrahams pergunta ao cientista se a concessão poderia prejudicá-lo. Até hoje, meia dúzia de escolhidos recusaram o prêmio.
Em compensação, há um bicampeão. O francês Jacques Benveniste ganhou o Ig Nobel de Química em 1991, pela descoberta da "memória da água" e em 1998, ao anunciar que essa memória poderia ser transmitida pela internet.


Próximo Texto: Medicina: Vinagre modificado ataca tumor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.