São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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Cientista reclama de salário a Lula

Funcionários de institutos do MCT ganham 35% menos que pesquisadores em outras entidades federais

Grupo aponta disparidade salarial entre carreiras científicas na União; Fiocruz Inmetro, IBGE e Inpi tiveram melhora isolada em 2006

Rafael Andrade - 01.out.2007/Folha Imagem
Lula em visita à Fiocruz, beneficiada por novo plano de carreira


RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas de entidades federais que hoje trabalham em institutos não-ligados ao MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) estão ganhando salários até 35% maiores que os de seus colegas, e a disparidade está motivando protestos. Em carta enviada na última terça-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pesquisadores apontam o problema.
"Um recém-formado sem pós-graduação recebe como salário inicial nas instituições favorecidas mais do que um pesquisador com pós-doutorado nas instituições do Plano de Carreira de C&T", diz o texto.
Entre as instituições que se beneficiaram por estar fora do MCT estão o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia), o Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e a Fundação Oswaldo Cruz. No ano passado, o Ministério do Planejamento emancipou essas instituições, que então ganharam autonomia para reformular suas folhas de pagamento sem ferir regras de isonomia salarial.
"Isso criou um disparate enorme entre eles e a gente", diz Paulo Pellegrini, do Observatório Nacional, uma das instituições que continuam sob a bandeira do MCT. "Fica difícil justificar por que se criou essa desigualdade monstruosa."
Pellegrini, que preside a Anpesq (Associação Nacional dos Pesquisadores do CNPq, que na verdade congrega todos os cientistas subordinados ao MCT), é uma das pessoas que redigiram a carta a Lula.
"Fizemos uma carta assim porque tínhamos tentado isso em todas as esferas, mas não conseguimos reconhecimento", diz o pesquisador. Segundo ele, não houve intenção de contestar a autoridade do ministro da Ciência e Tecnologia para tratar do problema: "A gente tem ouvido sinais de que o ministro Sergio Rezende estaria fazendo algo para que o Planejamento fosse convencido".
O Ministério do Planejamento afirma que as negociações com cientistas estão "em andamento". Em 9 de outubro, acontece uma rodada de negociação entre representantes dos servidores da área e da Secretaria de Recursos Humanos.
Segundo a Anpesq, a inflação de 1996 a 2007 foi de 192%, e os salários ligados ao MCT foram reajustados em apenas 130%.
Sem a correção da disparidade, cientistas temem que a diferença de salários prejudique a contratação de cientistas.
"Isso é muito grave", diz Lígia Rodrigues, professora do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), outra instituição ligada ao MCT. "No Inmetro, por exemplo, no primeiro nível em que o pesquisador entra -só com diploma de graduação- o salário inicial é de R$ 5.301. Nos nossos institutos, o pesquisador só entra se já tiver doutorado, e o início dele é R$ 5.225."
Nas vagas para cientistas em topo de carreira, a diferença de salários entre os dois institutos é de 35% agora, mas deve se ampliar para 55% após a regulamentação de uma lei que concede uma nova gratificação àqueles profissionais.
Segundo Rodrigues, o problema da diferença de salários entre institutos e universidades federais já vinha causando um desequilíbrio, pois os professores universitários ganhavam mais. "Agora, justo numa época em que essa disparidade estava se reduzindo, aparece algo que cria mais diferença".
Em um concurso do CBPF em 1994, por exemplo, três cientistas inscritos e aprovados desistiram da vaga por causa dos salários. Um deles preferiu ficar em uma universidade federal pouco expressiva na área de física. Um outro físico ouvido pela Folha desistiu da vaga em favor de uma bolsa de pós-doutorado de curto período.
O receio do CBPF agora é que seus salários voltem a ser pouco competitivos. "Nós vimos os números impressionantes do concurso do último concurso do Inmetro, com centenas de candidatos por vaga, em alguns casos", diz Rodrigues. "É claro que isso é bom para o Inmetro e para esses outros institutos, que são importantes para o país, mas o CBPF não é menos importante."


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