São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2010

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"Pai" de bebês de proveta leva o Nobel de Medicina

Britânico Robert Edwards, 85, teve primeiro êxito com técnica há 32 anos

Pesquisa ainda desperta críticas de religiosos; primeira menina teve gravidez natural e vê cientista como "avô"

Alastair Grant/Associated Press
Edwards posa com dois de ‘seus’ bebês em foto de 1998

RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

O Prêmio Nobel em Medicina ou Fisiologia de 2010 vai para uma técnica que revolucionou a maneira como se vê a reprodução humana: a criação de bebês de proveta.
O britânico Robert Edwards, 85, é o laureado por desenvolver a fertilização in vitro. Desde os anos 1970, ela já possibilitou o nascimento de 4 milhões de crianças. O número é assim alto porque mais de 10% dos casais têm problemas de infertilidade.
As primeiras pessoas que o médico atendeu foram John e Lesley Brown, casal que tentava ter filhos havia nove anos. Em 1978, nascia Louise Brown, filha deles.

TRÊS DÉCADAS
Brown foi o fruto de quase 30 anos de trabalho. O cientista britânico já tentava achar uma forma segura de unir óvulos e espermatozoides humanos arredios desde os anos 1950. Quando a menina nasceu, houve grita sobre Edwards estar tentando brincar de ser Deus.
Religiosos ainda hoje polemizam sobre o assunto. O Vaticano disse ontem que esse Nobel foi "fora de lugar".
Para Renato Fraietta, médico da Unifesp, além do fator religioso, resta certo preconceito com a técnica por falta de informação.
"Diminuiu muito, mas ainda há desconhecimento. As pessoas pensam que o filho pode não ser delas. Parece uma coisa de outro mundo."
Isso não acontece somente entre pessoas menos instruídas, mesmo porque o procedimento ainda é bastante caro -no Brasil, pode variar entre R$ 15 mil e R$ 50 mil.
O tempo mostrou que a técnica de Edwards é segura. Crianças nascidas graças à fertilização in vitro parecem ter saúde tão boa quanto as concebidas naturalmente. O comitê do Nobel, aliás, destaca que, após essas décadas todas, "bebês" de proveta estão tendo seus próprios filhos, sem problemas.
"Ter filhos é a coisa mais importante na vida", disse há alguns anos Edwards, que, em idade avançada, preferiu não falar com a imprensa após a premiação.

VOVÔ OCUPADO
"Bob é muito ocupado, mas nós realmente gostamos de vê-lo", disse em 2008 Louise Brown, que vive em Bristol, no Reino Unido.
Brown, que diz que "Bob" é como um avô para ela, sempre foi rechonchudinha e conta que, na escola, colegas perguntavam coisas do tipo "Como você coube em um tubo de ensaio?". "Crianças podem ser bem cruéis", afirma.
Tirando isso, porém, diz ter tido uma infância bastante normal, próxima da sua irmã Natalie, quatro anos mais nova, também bebê de proveta -a mãe tinha mesmo dificuldades para engravidar.
Louise engravidou naturalmente, de um segurança de casa noturna, com quem casou em 2004. Ela hoje trabalha no setor administrativo de uma empresa de encomendas. Edwards foi ao casamento deles.


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