São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2007

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Fóssil raro estica vida evolutiva das medusas

Grupo teria surgido há 505 milhões de anos e diversificado rápido, diz estudo

Para pesquisador da USP, que participou do trabalho, achados "fantásticos" ainda ajudam a provar quando os olhos "complexos" surgiram

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Não bastasse o achado ser raríssimo - as águas-vivas por terem apenas partes moles no corpo dificilmente acabam virando fósseis- ele ainda reescreveu a história evolutiva desse grupo de seres vivos, bastante importante até hoje.
Os fósseis de medusas encontrados em Utah, no interior dos Estados Unidos, empurrou o surgimento desses invertebrados em 205 milhões de anos. Agora, os cientistas já sabem que eles surgiram 505 milhões de anos atrás e não há 300 milhões, como indicavam os registros fósseis até então.
"Não é fácil encontrar fósseis de animais tão gelatinosos e moles como as medusas. Mas, em condições especiais, isso pode ocorrer", disse à Folha o pesquisador brasileiro Antônio Marques. O zoólogo do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo) é um dos autores do estudo que acaba de ser publicado na revista norte-americana "PLoS ONE". Ao todo, cinco tipos de organismos foram identificados.
De acordo com Marques, as impressões das medusas só ficaram perpetuadas porque deve ter ocorrido uma rápida deposição de grãos de areia bem finos no meio marinho.
"E deveria haver também outros fatores associados, com condições anóxicas (sem oxigênio), que limitam, por exemplo, a decomposição microbiológica dos organismos que foram fossilizados", explica.
Os achados, considerados "fantásticos" pelo pesquisador brasileiro mostram como o grupo das medusas, os cnidários, tiveram uma evolução bastante rápida.
"Existia uma diversidade [números diferentes de representantes] incrível naquela época. E, praticamente, todas as linhagens identificadas há milhões de anos continuam vivas ainda hoje, inclusive no Brasil", informa Marques. Alguns, como os que vivem em águas australianas, são considerados um dos seres marinhos mais venenosos que se tem notícia, causando também várias mortes por ano.

Salto evolutivo
Os olhos como estruturas complexas, já se sabia, surgiu no grupo das cubomedusas. O problema é que não se tinha pistas de quando essas águas-vivas tinham aparecido.
"Um dos animais que aparece no nosso estudo é parente de uma cubomedusa atual, que ocorre inclusive no Brasil", disse o pesquisador da USP.
Como os dois grupos são próximos, a inferência, segundo os zoólogos, pode ser feita. "Presume-se que as cubomedusas apareceram há muito tempo [há 505 milhões de anos, pelos novos dados] e que, portanto, os olhos [complexos] também."


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