|
Próximo Texto | Índice
Partícula "fantasma" surge em colisão em acelerador nos EUA
Choque gerou
matéria não
prevista pela
teoria baseada na
física quântica
que explica o
universo
microscópico
Teóricos tentam explicar
relato usando especulações
sobre espaço com mais de
três dimensões ou matéria
que não interage com a luz
Fermilab
|
|
O detector CDF, do acelerador de partículas Tevatron, que registrou o fenômeno desconhecido
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma partícula elementar
nunca vista nem imaginada pode ter sido detectada em um fenômeno registrado num experimento nos EUA. Apelidada
pelos descobridores de "evento
fantasma" num estudo divulgado às vésperas do Halloween,
na semana passada, a observação foi primeiro motivo de piada. Mas agora está fazendo os
cientistas quebrarem a cabeça.
O fenômeno foi visto no acelerador de partículas Tevatron,
do Fermilab, laboratório em
Batavia (EUA). Segundo os físicos, o surgimento de um certo
grupo de partículas no experimento não pode ser explicado
pelo Modelo Padrão, a teoria
baseada em física quântica que
explica o mundo microscópico.
O relato da observação ainda
não passou por revisão técnica
independente, mas já está sendo comentado por físicos em
blogs e corredores de universidades. Segundo alguns pesquisadores, há uma chance de o fenômeno poder ser explicado
pela produção da chamada matéria escura -que não emite luz
nem radiação- ou por teorias
que especulam que o espaço
tem mais de três dimensões.
O Tevatron funciona usando
ímãs para acelerar núcleos de
átomos a velocidades próximas
à da luz, formando raios que
"trombam" uns com os outros
dentro de um tubo. Nas colisões, as partículas se desintegram e transformam-se em
componentes mais fundamentais da matéria: mais partículas.
O que os físicos viram de estranho agora foi a produção em
excesso de múons, partículas
similares aos elétrons, que são
produzidas em quase todas as
colisões nesse tipo de experimento. Os múons detectados
agora no Tevatron, porém, estavam sendo produzidos em regiões "muito distantes" do ponto de colisão das partículas
-mais de 1,5 cm. Alguns desses
eventos puderam ser explicados, mas ainda há uma lacuna.
Talvez os múons tenham saído
da desintegração secundária de
uma partícula desconhecida.
"No momento, somos incapazes de explicar o número e as
propriedades dos eventos remanescentes, em cada qual pelo menos um potencial múon
foi produzido fora do tubo do
raio", afirma o estudo, assinado
por cerca de dois terços dos
mais de 600 pesquisadores que
trabalham no CDF (Detector
de Colisões do Fermilab).
"Se isso estiver certo, é mesmo incrivelmente entusiasmante", diz o teórico Neal Weiner, da Universidade de Nova
York. "Seria o indício físico de
algo talvez mais interessante
do que temos imaginado."
Weiner, um dos autores de
uma teoria para explicar a natureza da matéria escura no
Universo, diz que já começaram a fazer contas para saber se
o "fantasma" se encaixa em seu
modelo. Segundo ele, porém,
nada garante que uma explicação qualquer surja logo. "Mas
eu ficaria entusiasmado com os
dados do CDF mesmo assim."
Explicações mundanas
Segundo os próprios físicos
que detectaram o novo fenômeno, porém, não está 100%
claro se algo tão inusitado foi
observado. "Ainda não descartamos uma explicação mundana para isso, e queremos deixar
isso bem claro", diz Jacobo Konigsberg, porta-voz do CDF.
Fora do Tevatron, também
há um pouco de ceticismo. "O
CDF é uma experiência de respeito, que já tem muitos anos
rodando; é uma colaboração séria e com credibilidade", disse à
Folha Ignácio Bediaga, do
CBPF (Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas), que leu o estudo. Segundo ele, porém, é cedo para tentar encaixar o "fantasma" em teorias com dimensões extra ou matéria escura.
"Como cerca de um terço dos
colaboradores não quis assinar
o trabalho, significa que há uma
certa insegurança sobre o próprio fenômeno", diz o físico.
"Eu prefiro esperar um pouco
mais."
(RAFAEL GARCIA)
Com "New Scientist"
Próximo Texto: LHC poderá investigar o novo fenômeno Índice
|