São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Capital chinês aposta em energia limpa

País ainda depende do carvão para 75% de sua matriz, mas empresários já começam a lucrar com tecnologias verdes

Tentativa de criar estímulo político para crescimento da economia não prejudicar o ambiente, porém, acabou naufragando com a crise


Jin Liu/France Presse
Pedestres caminham perto de usina eólica em Dali, na província de Yunnan, sudoeste da China

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Energia solar, eólica, carvão limpo e carros e bicicletas elétricas viraram sinônimos de grandes negócios na China. Não se trata por enquanto de uma nova consciência ecológica, e sim da vontade de empresários locais de dominarem indústrias que prometem render bilhões, no futuro.
"A degradação ambiental é séria na China, mas a possibilidade de fazer grandes negócios com energias renováveis está criando todo um setor dinâmico na economia chinesa", disse à Folha Ricky Wang, vice-diretor da ENN, empresa distribuidora de gás e carvão gaseificado, que produz também painéis solares e investe pesado na pesquisa de energia eólica.
"Estamos cem anos atrás do Ocidente em várias indústrias, mas nas energias renováveis podemos competir de igual para igual", diz Henry Li, diretor de exportações da montadora BYD, que lançou modelos de carro elétrico no mercado.
Se aproveitar seu potencial, a China pode deixar de ser vilã ambiental para se tornar salvadora das tecnologias verdes, graças a sua escala de produção, seu potencial consumidor e sua mão de obra barata.
Por conta de seus baixos custos, a China já é o principal produtor e exportador de painéis solares fotovoltaicos de silício. Fabricantes novatas como Suntech e Trina ultrapassaram multinacionais já estabelecidas como a BP Solar e a Sharp.
Em Ordos, na Província da Mongólia Interior, no norte do país, está em construção a maior usina eólica do mundo, que deve ficar pronta em 2010. A China promete ter 15% de sua energia vindo de fontes renováveis até 2020.
O país se tornou o maior mercado mundial para bicicletas elétricas -são 65 milhões delas, mais que todos os carros de passeio no país. Em 2008, 22 milhões foram vendidas, contra só 200 mil em 2000.

Produto interno sujo
Atualmente 75% da energia chinesa vem do carvão. De acordo com o Greenpeace, 70% dos rios, lagos e reservatórios da China estão contaminados -um terço da água no árido norte chinês é tão poluído que não presta nem para agricultura nem para uso industrial.
Há três anos, o vice-ministro do ambiente, Pan Yue, pediu que o governo deixasse de avaliar lideranças comunistas apenas pelo crescimento do PIB (o que acelerava desastres ecológicos por estimular construção desenfreada e ignorar impacto ambiental) e sugeriu que fosse calculado o "PIB verde", que mediria também o impacto do crescimento econômico.
A ideia recebeu elogios no início, mas depois foi criticada por ser difícil de implantar e de calcular. No ano passado, depois da desaceleração econômica causada pela recessão global, foi totalmente arquivada. Pan, que antes era um dos poucos ministros chineses que apareciam muito na mídia, desapareceu -e não respondeu aos pedidos de entrevista da Folha.
Prefeitos e governadores continuam a ser promovidos pelo crescimento do PIB, a despeito de desastres ambientais. E 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo estão na China.


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