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ASTRONOMIA
Estudo sugere que estrela anã vermelha orbitando o principal astro do Sistema Solar seria causa de extinções
Sol tem irmã destrutiva, afirma cientista
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os astrônomos podem até discutir sobre quantos planetas há
no Sistema Solar. Mas a contagem
de estrelas sempre pareceu consenso: uma só. Basta olhar para o
céu durante o dia para vê-la -o
Sol, no centro do sistema planetário. Pois bem. Richard Muller jura
que são duas.
Desde 1984, esse astrônomo do
Laboratório Nacional Berkeley,
na Califórnia, Estados Unidos, defende que o Sol é uma estrela binária. Sua companheira seria uma
discreta anã vermelha, girando
em torno dele numa órbita bem
oval, com largura máxima de 1,5
ano-luz (um ano-luz é a distância
que um raio de luz percorre no
período de um ano).
Estrelas binárias ou até mesmo
trinárias, ou seja, que têm uma ou
duas outras estrelas dançando ao
seu redor, existem em grandes
quantidades no Universo. Mas
não com tamanha distância entre
elas. "Eu acho que esse é um viés
de observação", justifica Muller.
"Estrelas muito distantes comumente não são reconhecidas como um par."
Massacres inspiradores
A inspiração para a idéia de que
o Sol tem uma estrela companheira veio de episódios bem terrestres -as extinções em massa. Alguns cientistas já notaram que as
épocas dessas grandes catástrofes
são estranhamente separadas por
um intervalo regular de aproximadamente 26 milhões de anos.
E, em pelo menos dois casos (na
grande extinção que permitiu a
ascensão dos dinossauros, no final do Período Permiano, há 235
milhões de anos, e na que acabou
com os lagartões, no fim do Cretáceo, há 65 milhões de anos), essas
ocorrências estiveram ligadas a
grandes impactos de bólidos contra a superfície da Terra.
Muller acredita que cada um
desses episódios cataclísmicos
corresponde a uma reaproximação dessa anã vermelha do Sistema Solar, que ele apropriadamente chamou de Nêmesis -deusa
grega da indignação e da retribuição por boa sorte não merecida.
A cada 26 milhões de anos, a anã
passaria raspando pela nuvem de
Oort, um verdadeiro depósito de
cometas localizado na região externa do sistema, e atiraria uma
porção desses astros na direção
do Sol, causando uma chuva de
megapedregulhos nos planetas.
Até o próprio Muller confessa
que sua idéia é difícil de engolir.
"Eu tentei muito inventar outras
teorias que explicassem os dados,
e eu examinei cuidadosamente as
tentativas alheias", ele conta. "No
momento, eu não conheço nenhuma solução, exceto Nêmesis."
Dado que há tantas estrelas binárias por aí, a idéia de que o Sol
também faça parte de um sistema
duplo não é tão maluca assim.
Mas muitos cientistas acham que
uma órbita tão grande quanto a
de Nêmesis não seria estável o suficiente para manter a estrela por
aí desde a formação do Sol, há 5
bilhões de anos, até agora.
Para Muller, os cálculos confirmam que a órbita é razoavelmente estável. "Note que a teoria prevê
que a periodicidade não deve ser
precisa", diz. "Perturbações de
outras estrelas não seriam capazes de interromper a órbita, mas
seriam suficientes para causar
uma suave -de uns poucos milhões de anos- alteração no intervalo entre extinções."
Paradeiro desconhecido
Contudo, a idéia tem outro problema, de natureza menos sutil: se
Nêmesis de fato existe, onde está,
que ninguém achou até agora?
Uma das idéias para comprovar
a existência dessa companheira
solar seria observar o próprio Sol,
procurando traços da influência
gravitacional da anã em seu comportamento, como "puxões" que
acelerassem a estrela em sua órbita. "Eu estudei isso com muito
cuidado", diz Muller.
"As técnicas atuais não são sensíveis o suficiente para detectar a
aceleração [do Sol" causada por
Nêmesis", diz. "Para dizer a verdade, a aceleração causada por
Alfa Centauri [o sistema mais
próximo, a 4 anos-luz" é maior
que a [causada" por Nêmesis,
porque sua massa é maior."
Prova direta
Mesmo que a influência gravitacional de Nêmesis seja detectada,
nada seria melhor do que uma
observação direta. E, segundo
Muller, provavelmente Nêmesis
já foi achada -e ainda não identificada. "Nêmesis é, provavelmente, uma estrela anã vermelha com
magnitude 7 a 12 [pouco brilhante"", diz. "Quase todas essas estrelas foram catalogadas, mas poucas tiveram a distância medida."
No total, há no céu cerca de
3.000 estrelas candidatas. Muller
coordena atualmente um programa de observação para identificar
a suposta companheira do Sol.
"Já olhamos em cerca de mil, e
então nosso telescópio pediu
água. Construímos um novo, mas
tivemos problemas em encontrar
um bom lugar -e então ficamos
sem dinheiro", conta o pesquisador. "Estou com novos projetos
no horizonte, que vão fazer outras
coisas além de procurar Nêmesis,
então provavelmente iremos
atrair mais apoio."
E qual é o prazo de validade da
teoria? "Quando virmos que não
há nenhuma estrela, até a vigésima magnitude [estrelas pouco
brilhantes", que esteja orbitando
o Sol, então a teoria estará morta.
Espero saber a resposta em uma
década", diz Muller.
Mas ele acha que Nêmesis deve
ser encontrada bem antes disso.
E, se não for, ele não desanima.
"Se a teoria de Nêmesis estiver errada, então há alguma coisa ainda
mais exótica que explica os dados,
e eu não tenho a menor idéia do
que pode ser. Mas deve ser empolgante -e eu quero ser o primeiro a descobri-la."
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