|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Estudo cria roedor à prova de obesidade
Animal geneticamente alterado tem organismo menos eficiente no gasto de energia e não engorda com dieta calórica
Pesquisa aponta novo rumo na tentativa de criar terapia para obesos humanos; no entanto, animais são menos resistentes a exercício físico
DA REPORTAGEM LOCAL
Eficiência energética é a palavra de ordem para enfrentar o
aquecimento global ultimamente. Mas, como arma contra
a obesidade, um grupo de pesquisadores nos EUA aposta
mesmo é na ineficiência. Eles
conseguiram fazer com que os
músculos de camundongos de
laboratório virassem gastadores inveterados de energia, o
que parece tornar os bichos à
prova de engordar.
É como se o organismo dos
roedores fosse originalmente
um carro 1.0, um bocado econômico, e acabasse transformado num automóvel de luxo,
com motor "beberrão". E, gastando mais energia durante atividades físicas, é muito mais difícil se tornar obeso, explica o
grupo em artigo na revista especializada "Cell Metabolism".
Molengas
O grupo coordenado por Alexey Alekseev, da Clínica Mayo,
um dos principais centros privados de pesquisa médica nos
EUA, admite que há um porém
na abordagem. Ocorre que os
camundongos submetidos ao
tratamento (na verdade, um tipo específico de alteração genética) perdem parcialmente a resistência física durante exercícios mais pesados.
Mesmo assim, eles apostam
que se trata de uma avenida
promissora contra o excesso de
gordura, que tem chance de ser
explorada em humanos com as
devidas modificações. Afinal,
em pontos tão básicos do metabolismo quanto o gasto de
energia, a diferença entre pessoas e camundongos é bem menor do que se imagina.
Ao operar seu truque, Alekseev e companhia precisam brigar com milhões de anos de
evolução. É que, num mundo
onde a comida sempre foi escassa, o organismo dos seres vivos foi otimizado pela seleção
natural para ser pão-duro, economizando o máximo de energia para continuar vivo.
Um desses mecanismos para
evitar a gastança é o chamado
canal de potássio sensível a
ATP, ou canal KATP, para encurtar (veja infográfico acima).
Trata-se de um sensor, especialmente importante nas células dos músculos, que está atento à presença de ATP, molécula
que é o principal combustível
do organismo. Os canais avisam as células sobre a disponibilidade de energia, impedindo
que elas gastem mais do que
podem obter do corpo.
Os canais KATP, portanto,
são "salvaguardas da economia
de energia corporal", escrevem
os cientistas. A função é importantíssima porque, durante a
atividade física, o gasto de energia nos músculos -que em repouso não ultrapassa 20% do
total do corpo- pode aumentar
até cem vezes. E se o organismo
ficasse sem esses sensores?
Foi essa pergunta que os
cientistas tentaram responder
ao criar camundongos geneticamente modificados que não
dispunham dos canais KATP
em suas células musculares.
Os pesquisadores compararam o desenvolvimento e o metabolismo dos bichos com outro grupo de camundongos,
sem alterações genéticas. As
duas classes de cobaias foram
acompanhadas durante cerca
de um ano, por meio da comparação de parâmetros como consumo de oxigênio e presença de
gordura corporal. Ambos os tipos de roedores receberam, em
dado momento, dietas ricas em
gordura, semelhantes às que levam à obesidade em pessoas.
O que acontece é que os dois
grupos manifestam diferenças
de peso a partir de 20 semanas
de vida, e elas acabam permanecendo até o fim da vida. Os
camundongos sem os canais
KATP, quando submetidos à
dieta "gorda", acabam com peso normal, equivalente ao dos
camundongos não modificados
com dieta mais regrada.
Por outro lado, quando se
exercitavam em rodinhas instaladas nas suas gaiolas, os roedores alterados passavam só
metade do tempo correndo, em
comparação com os normais.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
Texto Anterior: No blog Próximo Texto: Esperança: Interações com cérebro também inspiram drogas Índice
|