São Paulo, domingo, 06 de março de 2005 |
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Micro/Macro Veleiros solares estão para zarpar
MARCELO GLEISER
No caso da luz, materiais podem tanto absorvê-la como refleti-la. Um veleiro solar é basicamente uma caravela espacial com velas capazes de refletir a luz solar. O material mais comum é o "mylar", mas outros estão sendo desenvolvidos, como o polímero CP-1, com espessura de 2,5 milionésimos de metro: quanto mais fino e resistente, mais eficiente é o veleiro solar. Como não somos empurrados pela luz do Sol, sabemos que a pressão exercida pela luz é muito pequena. As velas solares têm dimensões imensas. O veleiro que irá ser lançado em abril, Cosmos-1, tem uma vela de 600 metros quadrados. Outros projetos pretendem usar velas ainda maiores, de um quilômetro quadrado. As velas propostas são oito triângulos arranjados lado a lado em um círculo, como as pás de um moinho de vento ou um guarda-chuva, com a parte de dentro apontando na direção do Sol. Quem já tentou manter um guarda-chuva aberto contra o vento sabe que a força é máxima nesse alinhamento. O projeto foi desenvolvido pela Sociedade Planetária, uma organização sem fins lucrativos fundada por Carl Sagan, Lou Friedman e Bruce Murray em 1980. Friedman encabeça o projeto do veleiro solar, que está sendo construído em Moscou. Essa união entre cientistas dos EUA e da Rússia mostra que colaborações entre os dois países na exploração do espaço não ocorrem apenas por meio de órgãos governamentais, mas, também, da iniciativa privada. Como o primeiro a escrever sobre veleiros solares de forma concreta foi o russo Konstantin Tsiolkovsky, em 1921, a colaboração ganha ainda mais significado. Um míssil russo modificado será lançado de um submarino nuclear no mar de Barents até a altitude de 800 quilômetros, de onde liberará a sua carga, o Cosmos-1. Se tudo correr bem, os oito triângulos irão desabrochar sem problemas, formando a vela. A aceleração causada pela pressão da luz atua devagar: em um dia, a velocidade aumenta até 160 km/h. Em cem dias, a velocidade será de 16 mil km/h. Mas em três anos será de 160 mil km/h, capaz de chegar a Plutão em menos de cinco anos, muito mais rápido do que qualquer foguete convencional. Portanto, o importante é ter calma: no fim, velocidades altíssimas são atingidas. Se a vela abrir, um raio de microondas de 450 quilowatts será apontado em sua direção, tentando acelerar a espaçonave a partir da Terra. No futuro, "postos de aceleração" poderão ser espalhados pelo Sistema Solar, cada um dotado com seu canhão de laser. Os exploradores dos séculos 16 e 17 conquistaram os mares em suas caravelas. Quem sabe a conquista do espaço não será também feita a vela? Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu" Texto Anterior: Fechando o cerco Próximo Texto: Ciência em dia - Marcelo Leite: Promessas e dívidas da biotecnologia Índice |
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