São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997.

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CIÊNCIA
A vida e a morte das aves brasileiras


Livro escrito pelo alemão Helmut Sick reúne dados sobre a fauna do país
ROBERTO IIZUKA
da Reportagem Local

O Brasil não é só um dos países com maior biodiversidade do planeta. É também o ``país das aves''. Aproximadamente 17% das espécies existentes -calculado em 9.700- vivem ou passam eventualmente pelo território brasileiro. A porcentagem aumenta para 55,3% se forem consideradas apenas as espécies sul-americanas.
A nova edição de ``Ornitologia Brasileira'' (Editora Nova Fronteira, 862 págs., R$ 160,00) reúne essas e outras observações, coletadas durante os mais de 50 anos de estudos feitos pelo cientista alemão naturalizado brasileiro Helmut Sick.
Morto em 1991 aos 81 anos, Sick foi um nos pioneiros do estudo de campo na área da ornitologia e um dos primeiros pesquisadores a estudar o canto (vocalização), hoje considerado uma espécie de ``impressão digital'' das aves.
Segundo José Fernando Pacheco, do Laboratório de Ornitologia do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador da nova edição, as aves eram definidas pela sua morfologia, ou seja, pela forma do corpo (plumagem, cor etc.).
Sick costumava dizer, entretanto, que o ``canto trai a ave''. Segundo ele, mais de dois terços das aves não são vistas, mas escutadas. ``Mais de 90% de todo o nosso levantamento foi feito pelo ouvido'', escreve ele.
Sick comenta ainda que quem desconhece a riqueza do som produzido pelas aves costuma se queixar da ``pobreza'' de aves nos trópicos, locais onde a observação é limitada pela vegetação normalmente densa.
Música instrumental
As aves emitem dois tipos de som. "O que sai da parte inferior da traquéia e os chamados sons não-vocais, uma espécie de música instrumental, produzida quando as aves vibram as penas", diz.
Todas as aves contam com um repertório, que, dependendo da espécie, pode ser riquíssimo. Há o canto, que ocorre durante o período reprodutivo, entre três e quatro meses, da primavera até o verão. ``É um canto territorial, no qual as aves defendem seus recursos alimentares'', diz Pacheco. Além do canto, as aves emitem sons de apelo, que são curtos e servem para manter contato com outras aves, e de alarme.
Os sabiás, por exemplo, têm um repertório rico porque apresentam dialetos geográficos, uma espécie de ``sotaque'' regional.
Entre as espécies com cantos territoriais melodiosos estão o tico-tico e a corruíra, conhecida em alguns estados como cambaxilra ou garrincha.
Ameaçadas de extinção
Segundo o livro, 134 espécies de aves estão ameaçadas de extinção, principalmente devido a destruição da Mata Atlântica, que abriga mais de 10% de todas as aves registradas no Brasil.
Sick registrou 1.677 espécies, estatística que leva em conta as espécies localizadas em território sob jurisdição brasileira, ou seja, as aves que vivem, por exemplo, em ilhas.
A abundância de aves no Brasil é realçada quando comparada aos mamíferos. A relação das espécies de mamíferos para as de ave é de cerca de um para seis, ou seja, para cada mamífero brasileiro há seis aves.

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