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Falha no organismo protege contra HIV
Mutação que torna algumas pessoas mais sujeitas a doenças como o diabetes ajuda sistema imune a caçar vírus da Aids
Novo estudo mostra como
o mecanismo funciona e
pode abrir nova frente na
tentativa de criar vacina;
artigo tem elogio de Nobel
DA REDAÇÃO
Uma mutação genética que
pode causar doenças autoimunes como o diabetes tipo 1 confere a seus portadores inusitada vantagem: seus organismos
passam a combater o HIV.
Cientistas acabam de revelar
o mecanismo por trás desse fenômeno, abrindo um nova
frente na tentativa de criar uma
vacina contra a Aids.
A descoberta, descrita em estudo na revista "Nature", é fruto de um trabalho conduzido
por cientistas da Universidade
Harvard e do MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts).
O grupo descreve como usou
uma ampla estratégia, que incluiu simulação do sistema
imunológico por computador e
testes genéticos em pacientes,
para obter seus resultados.
A mutação estudada pelos
cientistas é identificada pela sigla HLA B57. Ela faz com que os
linfócitos, células de defesa do
sangue, atuem de forma mais
abrangente. Eles são capazes de
capturar vírus que sofreram
mudanças e poderiam passar
despercebidos pelo sistema
imune.
A vantagem da mutação por
si só já era conhecida. Mas, sem
saber seu mecanismo de ação,
os cientistas não tinham como
tentar fazer uma vacina que
imitasse essa estratégia. No novo estudo, porém, pesquisadores mostram como a HLA B57
induz a produção de linfócitos
que reconhecem e atacam até
mesmo o HIV "disfarçado".
O truque para o linfócito com
a mutação reconhecer o HIV é
que, em vez de fazer a busca
usando um conjunto grande de
características do vírus, ele o
identifica usando só um pequeno pedaço das proteínas que o
recobrem -um peptídeo.
Ao simplificar o processo, o
sistema imune corre o risco de
atacar células do próprio organismo, causando doenças. Mas,
em compensação, ele não deixa
de atacar o HIV porque o vírus
mudou só um pedaço de sua
enorme casca de proteínas.
Normalmente, linfócitos que
agem como policiais "paranoicos" -enxergando o rosto do
suspeito em toda molécula que
encontra- são destruídos pelo
organismo. Nos pacientes com
a HLA B57, porém, eles são livres para agir, porque não saem
à caça dos vírus carregando
uma lista grande de características, evitando um pouco o excesso de ataques a "inocentes".
Prova de fogo
Para saber se a teoria estava
correta, cientistas fizeram testes de DNA em pacientes portadores de genes com características similares ao HLA B57.
Neste grupo, aqueles que haviam contraído o HIV de fato
dificilmente desenvolviam a
doença. Quase 2.000 pessoas
foram avaliadas no trabalho.
Segundo Bruce Walker, um
dos líderes do estudo, a descoberta levou tempo porque necessitou que um grande conhecimento sobre a estratégia de
ação do vírus se acumulasse.
"O HIV está se revelando aos
poucos", disse, em comunicado
à imprensa. "Isso é mais um
ponto a favor da luta contra o
vírus, mas ainda temos um longo caminho pela frente."
O trabalho dos cientistas recebeu um elogio público de David Baltimore, Prêmio Nobel de
Medicina de 1975, que hoje estuda HIV e imunologia.
"Esse é um estudo notável
porque parte de uma observação clínica, integra-a a observações experimentais, gera um
modelo [hipótese] validável e
deriva deste um profundo entendimento sobre o o comportamento do sistema imune humano", escreveu o cientista.
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