São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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Zona afetada pelo óleo no golfo vira praça de guerra

Esforço de limpeza quintuplica número de habitantes de comunidade pesqueira paralisada na Louisiana

Moradores espalham placas protestando contra a BP e o governo Obama, que subiu o tom dos ataques à empresa

CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL À LOUISIANA

Nas comunidades à beira-mar do Estado da Louisiana, os turistas e barcos de pesca deram lugar a helicópteros e jipes do Exército e a um batalhão de funcionários da BP, empresa responsável pelo maior vazamento de petróleo da história dos EUA.
Aos moradores resta assistir à movimentação, calculando os prejuízos causados pela suspensão indefinida dos negócios e espalhando placas de protesto contra a BP e o presidente americano, Barack Obama.
A transformação da paisagem fez com que o jornal "USA Today" comparasse a pequena comunidade de Venice, na foz do Mississippi, a Bagdá. Um exagero.
Mas o fato é que mais de 2.000 pessoas foram deslocadas para lá para trabalhar no desastre -cerca de cinco vezes a população local.
Na marina de Venice, em vez de pescadores e velejadores, as instalações estão ocupadas por jornalistas e funcionários contratados para a contenção de danos.

RETIRANTE
O hondurenho José Adonai, 36, que limpava os barcos pesqueiros, conta à Folha que decidiu abandonar a Louisiana e voltar a seu país, por falta de trabalho.
Ele mostra o que restou para a sua especialidade: esfregar os cascos das poucas embarcações que voltam arrastando óleo do mar. Uma mancha amarronzada, a dois palmos acima da linha d'água, comprova o passeio .
Uma das maneiras encontradas pelos barqueiros para sobreviver à crise foi cobrar até US$ 1.000 para levar repórteres a um tour pelo entorno da área onde houve a explosão, cujo acesso é restrito. Outros são pagos pela BP para transportar equipamentos e trabalhadores.
Mesmo assim, as perdas com a pesca e o turismo parados na época mais lucrativa do ano são grandes. O dono da marina, Bill Butler, 48, calcula em US$ 100 mil o prejuízo que teve no Memorial Day, feriado nacional, na semana passada. Ele diz ainda não ter aberto um processo contra a BP "porque não se chuta cachorro morto", mas reclama da "falta de liderança" do presidente.
"Obama é uma piada. Isso aqui está o caos. Ele deveria ser um líder e dizer: "Do que vocês precisam? O que podemos lhes dar?". Dê o equipamento e saia do caminho. O povo da Louisiana é quem sabe o que deve ser feito."
Obama está sentindo a pressão: diante do bombardeio da imprensa, do Congresso e dos cinco Estados afetados, o presidente cancelou viagens à Austrália e à Indonésia e fez anteontem a sua terceira visita ao golfo do México desde o início do vazamento, em 20 de abril.
Texas, Louisiana, Mississippi e Alabama são governados por republicanos; a Flórida, por um independente, ex-republicano.
A reação do presidente democrata, considerada lenta, ineficiente e pouco assertiva, foi comparada à resposta de George W. Bush ao furacão Katrina, que devastou parte da Louisiana, em 2005.
Obama admitiu a responsabilidade do governo em 27 de maio, mais de um mês após a explosão da plataforma que matou 11 pessoas e despejou pelo menos 100 milhões de litros de petróleo no golfo até agora.
A aprovação pública da reação ao vazamento despencou, e Obama começou a subir o tom contra a BP. Disse em entrevista que é seu trabalho "ter a certeza de que tudo seja feito para fechar esse negócio", em referência poço que ainda vaza.
Na sexta-feira, na Louisiana, Obama bateu mais forte: "Não quero vê-los dando migalhas por aqui", disparou, notando que a BP anunciou a distribuição de US$ 10 bilhões em dividendos. "É bilhão, com B", disse.


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