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Zona afetada pelo óleo no golfo vira praça de guerra
Esforço de limpeza quintuplica número de habitantes
de comunidade pesqueira paralisada na Louisiana
Moradores espalham
placas protestando
contra a BP e o governo
Obama, que subiu o tom
dos ataques à empresa
CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL À LOUISIANA
Nas comunidades à beira-mar do Estado da Louisiana,
os turistas e barcos de pesca
deram lugar a helicópteros e
jipes do Exército e a um batalhão de funcionários da BP,
empresa responsável pelo
maior vazamento de petróleo
da história dos EUA.
Aos moradores resta assistir à movimentação, calculando os prejuízos causados
pela suspensão indefinida
dos negócios e espalhando
placas de protesto contra a
BP e o presidente americano,
Barack Obama.
A transformação da paisagem fez com que o jornal
"USA Today" comparasse a
pequena comunidade de Venice, na foz do Mississippi, a
Bagdá. Um exagero.
Mas o fato é que mais de
2.000 pessoas foram deslocadas para lá para trabalhar
no desastre -cerca de cinco
vezes a população local.
Na marina de Venice, em
vez de pescadores e velejadores, as instalações estão ocupadas por jornalistas e funcionários contratados para a
contenção de danos.
RETIRANTE
O hondurenho José Adonai, 36, que limpava os barcos pesqueiros, conta à Folha que decidiu abandonar a
Louisiana e voltar a seu país,
por falta de trabalho.
Ele mostra o que restou
para a sua especialidade: esfregar os cascos das poucas
embarcações que voltam arrastando óleo do mar. Uma
mancha amarronzada, a
dois palmos acima da linha
d'água, comprova o passeio .
Uma das maneiras encontradas pelos barqueiros para
sobreviver à crise foi cobrar
até US$ 1.000 para levar repórteres a um tour pelo entorno da área onde houve a
explosão, cujo acesso é restrito. Outros são pagos pela
BP para transportar equipamentos e trabalhadores.
Mesmo assim, as perdas
com a pesca e o turismo parados na época mais lucrativa do ano são grandes. O dono da marina, Bill Butler, 48,
calcula em US$ 100 mil o
prejuízo que teve no Memorial Day, feriado nacional, na
semana passada. Ele diz ainda não ter aberto um processo contra a BP "porque não
se chuta cachorro morto",
mas reclama da "falta de liderança" do presidente.
"Obama é uma piada. Isso
aqui está o caos. Ele deveria
ser um líder e dizer: "Do que
vocês precisam? O que podemos lhes dar?". Dê o equipamento e saia do caminho. O
povo da Louisiana é quem
sabe o que deve ser feito."
Obama está sentindo a
pressão: diante do bombardeio da imprensa, do Congresso e dos cinco Estados
afetados, o presidente cancelou viagens à Austrália e à
Indonésia e fez anteontem a
sua terceira visita ao golfo do
México desde o início do vazamento, em 20 de abril.
Texas, Louisiana, Mississippi e Alabama são governados por republicanos; a
Flórida, por um independente, ex-republicano.
A reação do presidente democrata, considerada lenta,
ineficiente e pouco assertiva,
foi comparada à resposta de
George W. Bush ao furacão
Katrina, que devastou parte
da Louisiana, em 2005.
Obama admitiu a responsabilidade do governo em 27
de maio, mais de um mês
após a explosão da plataforma que matou 11 pessoas e
despejou pelo menos 100 milhões de litros de petróleo no
golfo até agora.
A aprovação pública da
reação ao vazamento despencou, e Obama começou a
subir o tom contra a BP. Disse em entrevista que é seu
trabalho "ter a certeza de
que tudo seja feito para fechar esse negócio", em referência poço que ainda vaza.
Na sexta-feira, na Louisiana, Obama bateu mais forte:
"Não quero vê-los dando migalhas por aqui", disparou,
notando que a BP anunciou
a distribuição de US$ 10 bilhões em dividendos. "É bilhão, com B", disse.
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