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ANÁLISE
BP prometeu ir "além" do óleo, mas se afogou nele
Indústria negligenciou contenção em profundidade, diz engenheiro
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Parece irônico que o desastre do golfo ameace levar
à bancarrota justamente a
BP. Afinal, a britânica foi a
primeira petroleira a jurar
que iria "além do petróleo".
Há uma década, numa iniciativa de marketing de US$
200 milhões, a British Petroleum encurtou seu nome para a sigla atual e adotou o slogan "Beyond Petroleum".
A ideia era reconhecer
que, sim, óleo e gás ainda
eram necessários, mas eram
coisa do passado: o futuro
pertencia às energias renováveis, como a eólica e a solar.
O logo da empresa foi
substituído por um ecológico
girassol estilizado. E seu executivo-chefe, John Browne,
chegou a se juntar com o
Greenpeace em 2002 para pedir a George W. Bush que ratificasse o Protocolo de Kyoto.
Anos antes, a BP já se destacara das irmãs ao reconhecer que a mudança climática
era real (enquanto a Exxon financiava ataques ao IPCC).
Mas, no chão, os atos da
BP diziam outra coisa.
A empresa fez lobby pela
perfuração do santuário ecológico do Alasca no mesmo
ano em que mudava o logo.
Em 2006, foi processada pelo
vazamento de 1 milhão de litros de óleo na tundra.
Em 2008, o mesmo Greenpeace que fazia coro antibush com John Browne tentou entregar a seu sucessor,
Tony Hayward, o troféu "Pincel de Esmeralda", por considerar a BP campeã da propaganda enganosa verde.
Apesar do discurso ambientalista, a BP investia só
1,39% de seus fundos em
energia solar e 93% (US$ 20
bilhões) em óleo e gás.
SEM PLANO B
Aparentemente, nem um
centavo desse dinheiro foi
gasto no desenvolvimento de
um método para conter vazamentos em águas profundas.
E nisso a BP não está só.
"O estado da arte da indústria do petróleo não tem procedimentos para estancar
um vazamento a 1.500 metros de profundidade", diz o
engenheiro Segen Estefen,
diretor de tecnologia e inovação da Coppe-UFRJ.
Isso vale também para a
Petrobras. Depois do derrame de 2000 na baía da Guanabara, a empresa tem cuidado mais da segurança, diz
Estefen. "Mas ela segue as
tendências internacionais."
A Petrobras, ao se preparar
para explorar o óleo do pré-sal em águas muito mais profundas que as do golfo, a até
2.500 metros, tem uma chance de se adiantar às "tendências" no quesito segurança.
Já a BP, se tivesse agido de
acordo com o próprio marketing, não teria perdido um
terço de seu valor de mercado. Talvez ainda ostentasse o
epíteto "Beyond Petroleum"
-hoje misteriosamente desaparecido de seu site.
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