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MEDICINA
Pesquisa feita com 85 ratos de laboratório na USP demonstra efeitos de material particulado sobre o organismo
Poluição prejudica o coração de roedores
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A poluição do ar não prejudica
somente os pulmões. É isso que
mostra uma pesquisa realizada
com 85 ratos saudáveis de laboratório expostos ao material particulado fino proveniente da queima de combustíveis.
Os ratos estudados sofreram
danos no sistema cardíaco e circulatório. Os efeitos foram notados depois de apenas um dia.
Segundo a pesquisadora Dolores Helena Rivero, 33, da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), os ratos tiveram redução do controle autonômico do coração, ou seja, ficaram
mais propensos à morte súbita.
Os animais usados no estudo
foram anestesiados, entubados e,
depois, receberam uma solução
com o material particulado pela
traquéia -assim, o poluente
atingiu diretamente o sistema respiratório dos animais. O material
particulado foi obtido em agosto
do ano passado por um filtro instalado no prédio da Faculdade de
Medicina, na avenida Dr. Arnaldo, na capital paulista.
Segundo a bióloga, o estudo indica que não só pessoas que já têm
problemas cardíacos são afetadas
pela poluição do ar. "Qualquer
um pode começar a sentir os efeitos de viver em São Paulo ou em
grandes cidades", afirmou.
Outro efeito notado nos ratos
foi o estreitamento das artérias
pulmonares, o que gera maior
pressão para o coração e pode
causar insuficiência cardíaca.
"Também observei que as células
sangüíneas sofreram alterações,
ficaram inflamadas", disse.
Queimadas
E não é só a poluição das grandes cidades que pode prejudicar o
organismo. Grande parte do material resultante da queima de vegetação (ou biomassa) é de partículas finas e ultrafinas, que conseguem atingir as partes mais profundas do aparelho respiratório.
Segundo o médico Marcos Abdo Arbex, também do Laboratório de Poluição Atmosférica da
USP, hoje se sabe que o material
particulado proveniente das queimadas também afeta o aparelho
cardiocirculatório das pessoas.
Segundo ele, a cada dez microgramas por metro cúbico de aumento de partículas em suspensão, sobe 5,05% o número de
atendidos por hipertensão. "Já
havíamos mostrado que quando
se queimava a cana-de-açúcar aumentava a procura pelo setor de
emergência em Araraquara [interior de São Paulo]. Neste ano,
quantificamos também a procura
em razão de hipertensão", disse.
O trabalho foi apresentado em
maio nos EUA e, em setembro, será apresentado no Congresso Europeu de Doença Respiratória,
em Copenhague (Dinamarca).
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