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Célula "segura" ajuda roedor paraplégico
Camundongos voltaram a se movimentar após tratamento com células adultas reprogramadas por japoneses
Grupo usou método de
triagem que diminui o
risco de tumor durante
terapia, o que facilitaria
uso em seres humanos
REINALDO JOSÉ LOPES
DE SÃO PAULO
Roedores paralisados por
lesões na medula espinhal
voltaram a se movimentar,
graças a células adultas reprogramadas para assumir
um estado muito versátil, semelhante ao embrionário.
O feito, obra de uma equipe japonesa, inclui um esquema para evitar que essas
células saiam do controle,
um dos grandes temores que
ainda cercam o emprego terapêutico delas em pessoas.
Antes de usar determinado grupo de células para tratar os camundongos paraplégicos, os cientistas verificaram se elas levavam à formação de tumores em outros bichos (veja quadro à direita).
As que não produziram
cânceres tiveram sucesso em
recuperar a lesão na coluna
das cobaias, relata a equipe
na edição desta semana da
revista científica "PNAS".
Um dos autores da pesquisa, Shinya Yamanaka, é o
pioneiro no estudo das chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (ou células iPS, para encurtar).
Yamanaka e companhia
têm mostrado que qualquer
célula do corpo adulto pode
ser forçada a adquirir uma
"síndrome de Peter Pan",
voltando à condição polivalente que tinha no início do
desenvolvimento.
Seria possível usar uma
amostra de pele de um tetraplégico e "convencer" algumas das células nessa amostra a se tornarem pluripotentes, ou seja, capazes de assumir a função de qualquer tecido. Inclusive a do tecido
nervoso destruído na lesão
que paralisou a pessoa.
SEM REJEIÇÃO
Assim, o paciente ganharia um transplante sem risco
de rejeição, já que as células
vieram do organismo dele. O
plano soa perfeito, mas a
transformação das células
envolve a ativação de genes
que, dependendo da situação, podem levar à indesejada formação de tumores.
Para evitar isso, os cientistas primeiro produziram células iPS e depois usaram-nas para criar neuroesferas,
agregados de vários tipos de
células do sistema nervoso.
"Eles ainda desfizeram essa primeira neuroesfera e
criaram uma segunda, o que
diminui a chance de sobrar
alguma célula indiferenciada [em estado "genérico'] que
pudesse levar a tumores",
explica o biólogo Stevens Rehen, especialista em iPS da
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro).
Finalizando o processo, as
neuroesferas foram implantadas no cérebro de camundongos, e os cientistas esperaram para ver quais grupos
de células produziam tumores nos camundongos.
Sabendo disso, os japoneses testaram os dois tipos de
célula nas cobaias com lesões: as que produziam tumores e as que não os geravam. Como esperado, só o segundo tipo fez os bichos ficarem em pé de novo.
"É uma prova de princípio
interessante", diz Rehen. "O
problema é que eles esperaram 24 semanas para ver se
os tumores apareciam na
triagem inicial. É tempo demais, porque a lesão dos pacientes já estaria cicatrizada,
dificultando a volta dos movimentos", afirma ele.
Por isso, Yamanaka tem
defendido a criação de bancos públicos de células iPS,
já testadas. Quando alguém
sofresse um acidente, elas
poderiam ser usadas com segurança sem muita espera.
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