|
Texto Anterior | Índice
ARQUEOLOGIA
Pesquisadores questionam interpretação, mas reconhecem importância da descoberta, que é inesperada
Israelense pode ter achado palácio de Davi em Jerusalém
DO "THE NEW YORK TIMES"
Uma arqueóloga israelense diz
ter descoberto em Jerusalém
Oriental o lendário palácio do rei
bíblico Davi. Seu trabalho foi
apoiado por um instituto de pesquisa conservador de Israel e financiado por um banqueiro judeu americano que gostaria de
provar que Jerusalém foi mesmo
a capital de um poderoso reino na
época de Davi, como diz a Bíblia.
Outros pesquisadores disseram
duvidar que as fundações descobertas pela arqueóloga, Eliat Mazar, pertencem mesmo ao palácio
do suposto ancestral de Jesus.
Mas reconhecem que a descoberta é rara e importante: um grande
edifício público do século 10 a.C.,
junto com fragmentos de cerâmica da época de Davi e Salomão e
um sinete (usado para carimbar
documentos) que pertenceu a um
funcionário mencionado no livro
do profeta Jeremias.
A descoberta provavelmente vai
se tornar mais um argumento numa das maiores controvérsias da
arqueologia bíblica: será que Davi
teve alguma importância histórica ou não passava de um chefe tribal, governando uma colina? Há
também a implicação política: na
disputa entre judeus e palestinos
pelo controle de Jerusalém, muitos afirmam que Israel usou sua
suposta origem no lugar como
um mito que justificava a conquista e a ocupação.
Segundo Hani Nur el-Din, palestino e professor de arqueologia
na Universidade Al-Quds, a arqueologia bíblica é um esforço
dos israelenses "para fazer a evidência histórica se encaixar num
contexto bíblico". "Eles têm um
botão e querem fazer um terno
com ele." Mesmo os arqueólogos
israelenses não têm tanta certeza
de que Mazar achou o palácio -a
casa que Hirão, rei de Tiro, construiu para Davi, conforme o Segundo Livro de Samuel. A construção também pode ser a fortaleza de Sião, que Davi tomou dos jebuseus (povo não-israelita que
ocupava a região antes dele), ou
algo de que a Bíblia não fala.
Reino unido
De qualquer maneira, eles se dizem impressionados com a descoberta. "Esse é um dos primeiros
indícios que temos da Jerusalém
de Davi e Salomão, um período
que pareceu brincar de esconde-esconde com os arqueólogos no
último século", disse Gabriel Barkay, arqueólogo da Universidade
Bar-Ilan. "A Jerusalém que era capital do reino unido [antes da divisão da Palestina nos reinos rivais de Judá e Israel] é praticamente desconhecida."
Baseada na Bíblia e em um século de arqueologia no local, Mazar,
48, especulou que uma famosa estrutura com degraus de pedra escavada antes era parte da fortaleza
que Davi conquistou. Imaginou
também que seu palácio ficaria
pouco depois do perímetro original dos muros da cidade, no caminho para a Esplanada do Templo,
edificada por seu filho, Salomão.
"Quando os filisteus [grandes
inimigos dos israelitas] vinham
lutar, a Bíblia diz que Davi descia
de sua casa para a fortaleza", diz
ela. "Fiquei pensando: descia de
onde? Então imaginei que talvez
houvesse algo aqui [em Jerusalém
Oriental]", conta a arqueóloga.
Mazar acredita ter achado a resposta: um grande edifício público,
com pelo menos alguma cerâmica da época, e um sinete governamental de Jeucal, filho de Selemias, mencionado no Livro de Jeremias. O prédio pode ser razoavelmente datado com a cerâmica
achada acima e abaixo dele. Sob o
"palácio", ela encontrou fragmentos dos séculos 12 a.C. ou 11
a.C., pouco antes da conquista da
cidade por Davi. Acima estavam
as fundações de um edifício monumental, com pedras grandes
usadas para fazer muros de 1,8 m
de espessura. Num canto havia
cerâmica dos séculos 10 a.C. ao 9
a.C., mais ou menos a época do
reino unido de Israel.
Infelizmente, ela não encontrou
o piso do edifício. Está claro que o
prédio foi construído depois da
produção da cerâmica, mas não é
tão claro quanto tempo depois.
A última escavação de Mazar,
que custou US$ 500 mil, foi patrocinada por Roger Hertog, banqueiro nova-iorquino. Ele quer
demonstrar que "a Bíblia reflete a
história judaica". Três famílias vivem nas casas que Mazar quer escavar a seguir. Uma é muçulmana, outra cristã e a terceira é judia.
Texto Anterior: Estrela da morte Índice
|