São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2005

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ARQUEOLOGIA

Pesquisadores questionam interpretação, mas reconhecem importância da descoberta, que é inesperada

Israelense pode ter achado palácio de Davi em Jerusalém

DO "THE NEW YORK TIMES"

Uma arqueóloga israelense diz ter descoberto em Jerusalém Oriental o lendário palácio do rei bíblico Davi. Seu trabalho foi apoiado por um instituto de pesquisa conservador de Israel e financiado por um banqueiro judeu americano que gostaria de provar que Jerusalém foi mesmo a capital de um poderoso reino na época de Davi, como diz a Bíblia.
Outros pesquisadores disseram duvidar que as fundações descobertas pela arqueóloga, Eliat Mazar, pertencem mesmo ao palácio do suposto ancestral de Jesus. Mas reconhecem que a descoberta é rara e importante: um grande edifício público do século 10 a.C., junto com fragmentos de cerâmica da época de Davi e Salomão e um sinete (usado para carimbar documentos) que pertenceu a um funcionário mencionado no livro do profeta Jeremias.
A descoberta provavelmente vai se tornar mais um argumento numa das maiores controvérsias da arqueologia bíblica: será que Davi teve alguma importância histórica ou não passava de um chefe tribal, governando uma colina? Há também a implicação política: na disputa entre judeus e palestinos pelo controle de Jerusalém, muitos afirmam que Israel usou sua suposta origem no lugar como um mito que justificava a conquista e a ocupação.
Segundo Hani Nur el-Din, palestino e professor de arqueologia na Universidade Al-Quds, a arqueologia bíblica é um esforço dos israelenses "para fazer a evidência histórica se encaixar num contexto bíblico". "Eles têm um botão e querem fazer um terno com ele." Mesmo os arqueólogos israelenses não têm tanta certeza de que Mazar achou o palácio -a casa que Hirão, rei de Tiro, construiu para Davi, conforme o Segundo Livro de Samuel. A construção também pode ser a fortaleza de Sião, que Davi tomou dos jebuseus (povo não-israelita que ocupava a região antes dele), ou algo de que a Bíblia não fala.

Reino unido
De qualquer maneira, eles se dizem impressionados com a descoberta. "Esse é um dos primeiros indícios que temos da Jerusalém de Davi e Salomão, um período que pareceu brincar de esconde-esconde com os arqueólogos no último século", disse Gabriel Barkay, arqueólogo da Universidade Bar-Ilan. "A Jerusalém que era capital do reino unido [antes da divisão da Palestina nos reinos rivais de Judá e Israel] é praticamente desconhecida."
Baseada na Bíblia e em um século de arqueologia no local, Mazar, 48, especulou que uma famosa estrutura com degraus de pedra escavada antes era parte da fortaleza que Davi conquistou. Imaginou também que seu palácio ficaria pouco depois do perímetro original dos muros da cidade, no caminho para a Esplanada do Templo, edificada por seu filho, Salomão.
"Quando os filisteus [grandes inimigos dos israelitas] vinham lutar, a Bíblia diz que Davi descia de sua casa para a fortaleza", diz ela. "Fiquei pensando: descia de onde? Então imaginei que talvez houvesse algo aqui [em Jerusalém Oriental]", conta a arqueóloga.
Mazar acredita ter achado a resposta: um grande edifício público, com pelo menos alguma cerâmica da época, e um sinete governamental de Jeucal, filho de Selemias, mencionado no Livro de Jeremias. O prédio pode ser razoavelmente datado com a cerâmica achada acima e abaixo dele. Sob o "palácio", ela encontrou fragmentos dos séculos 12 a.C. ou 11 a.C., pouco antes da conquista da cidade por Davi. Acima estavam as fundações de um edifício monumental, com pedras grandes usadas para fazer muros de 1,8 m de espessura. Num canto havia cerâmica dos séculos 10 a.C. ao 9 a.C., mais ou menos a época do reino unido de Israel.
Infelizmente, ela não encontrou o piso do edifício. Está claro que o prédio foi construído depois da produção da cerâmica, mas não é tão claro quanto tempo depois.
A última escavação de Mazar, que custou US$ 500 mil, foi patrocinada por Roger Hertog, banqueiro nova-iorquino. Ele quer demonstrar que "a Bíblia reflete a história judaica". Três famílias vivem nas casas que Mazar quer escavar a seguir. Uma é muçulmana, outra cristã e a terceira é judia.

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