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Bióloga descobre cavalo com tromba que viveu no Brasil
Estrutura permitia que ele, em vez de comer grama como os cavalos atuais, devorasse ramos de arbustos
Causas da extinção de grandes animais como o "Hippidion principale", há mais de 10 mil anos, ainda não estão claras
Sandro Castelli
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Ilustração mostra a espécie se alimentando em arbusto, com pequena tromba saindo da sua face; ao contrário dos cavalos atuais, sua alimentação não era só de grama
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA
O termo preferido pelos
biólogos, um tanto hermético, é "probóscide vestibular". Em português mais castiço: uma tromba modesta. O
que, em se tratando de um
cavalo, é bastante esquisito.
Esquisito, mas real, indica
a análise de uma bióloga da
Unirio (Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro).
A explicação para traços
misteriosos do crânio do Hippidion principale, que viveu
no Brasil na Era do Gelo, é ele
ter tido uma "trombinha".
"Nos sítios paleontológicos, muitas vezes o Hippidion
aparece com o Equus neogeus, semelhante ao cavalo
atual", diz Camila Bernardes.
"Se animais com parentesco muito próximo habitam o
mesmo local, é porque há diferenças entre eles que minimizam a competição."
A maior pista veio do osso
nasal do crânio do bicho, que
é projetado para a frente.
"Pelo crânio, parece um unicórnio", brinca a bióloga.
O lugar onde se encaixam
o osso nasal e o osso maxilar
do bicho é recuado perto do
que se vê nos cavalos de hoje,
e a região é cheia de depressões, as chamadas fossas.
É possível saber, analisando calombos e depressões na
estrutura óssea, como eram
os músculos de um animal.
Assim, Bernardes concluiu que os músculos responsáveis por erguer o lábio
superior do Hippidion eram
bem mais potentes, e capazes de repuxar o beiço do bicho por uma extensão maior,
do que os dos equinos atuais.
A tromba possivelmente
ajudava o animal a ser especialista em agarrar e devorar
ramos de pequenos arbustos
com o superlábio. Assim, ele
não competia tanto com o
Equus, um comedor de grama, como os cavalos atuais.
O bicho tinha patas relativamente curtas. Era parrudo,
quase um pônei, e habitava
savanas bastante secas.
Seus fósseis foram encontrados em sítios do Piauí à
Bahia, no Nordeste, e em Minas Gerais e no Rio Grande
do Sul, além de Peru, Bolívia
e Argentina. A distribuição
do Equus neogeus é similar.
Todos os cavalos sul-americanos estavam extintos
quando a Era do Gelo terminou, há 10 mil anos -os cavalos atuais foram "importados" há poucos séculos.
As causas do sumiço são
controversas. Para uns, grandes herbívoros foram caçados até a extinção pelos primeiros humanos que chegaram às Américas. Para outros, a culpa foi das mudanças climáticas, que teriam gerado perda de habitat.
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