São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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Gross diz apostar em novo acelerador

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando David J. Gross começou a trabalhar na tentativa de unificar numa só teoria todas as forças da natureza, após desvendar como funciona o cimento do núcleo atômico, achou que não ia levar muito para resolver o problema. Hoje, mais de 20 anos depois, o Nobel de Física admite que cantou vitória antes da hora.
Até hoje, ele continua se dedicando ao esforço, tentando explicar o mundo com a teoria das supercordas (que propõe que todas as partículas são na verdade cordas vibrando em dez dimensões), mas não sabe quando ele vai concretamente render frutos. "Vinte anos atrás eu pensava: "Bem, talvez em uns poucos anos". Vinte anos depois, eu não sei. Pode levar cinco anos, pode levar 20."
Para os entusiastas, entretanto, ele faz uma previsão: acredita que grandes descobertas serão feitas no campo experimental em três anos, com um novo acelerador de partículas europeu. "Será muito empolgante." Leia a entrevista concedida à Folha. (SN)
 

Folha - O sr. já esperava que fosse receber o Prêmio Nobel?
David Gross -
De algum modo você espera, mas quando acontece é sempre uma surpresa. Mas devo dizer que cheguei a pensar: "É, provavelmente vai acontecer".

Folha - Não lhe ocorreu que talvez a Real Academia de Ciências da Suécia tivesse esquecido vocês?
Gross -
Bem, é um sentimento que surgiu, mas, você sabe, nós sabemos que a Real Academia trabalha devagar...

Folha - Como o sr. vê o avanço que promoveu, em vista das fronteiras atuais da física?
Gross -
Nossa descoberta foi essencial para os atuais esforços de unificação. Apresentamos uma força que fica mais fraca conforme as partículas estão mais próximas, e é preciso inseri-la no contexto das outras forças na busca de uma explicação unificada da natureza. É algo que tem sido trabalhado nas últimas décadas.

Folha - Hoje não se vê nenhum sinal no horizonte de que o problema da unificação esteja para ser resolvido. Quanto tempo vai levar?
Gross -
Vinte anos atrás eu pensava, "bem, talvez em uns poucos anos". Vinte anos depois, e eu não sei. Pode levar cinco anos, pode levar 20. Mas tem gente trabalhando nisso.

Folha - O grande lampejo ainda está para surgir?
Gross -
Eu tenho trabalhado na chamada teoria das supercordas há uma década ou duas. É uma tentativa de unificar todas as forças da natureza e é, de longe, a idéia mais promissora hoje.

Folha - A teoria das cordas hoje carece de métodos experimentais adequados para ser verificada. Quão grave é isso para o campo?
Gross -
Esse é um grande problema. Sabe, com a gravidade, as coisas acontecem em escala natural. Nas outras forças, a escala é menor, mas conseguimos observá-las. Mas, no caso da teoria de cordas, a escala está muito, muito longe do que temos e do que teremos no futuro em termos de métodos experimentais. Então é um grande problema. Mas não nos impedirá de seguir trabalhando.

Folha - Ainda que em medições indiretas, o que podemos esperar para o futuro, em termos de experimentos?
Gross -
Temos esperança de que um novo acelerador, no Cern, em Genebra, que vai começar a operar em três anos, irá realizar profundas descobertas. Será muito empolgante.

Folha - O sr. já sabe o que vai fazer com o dinheiro do prêmio?
Gross -
(Risos) Não, ainda não tive tempo de pensar nisso.


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