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Gross diz apostar em novo acelerador
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando David J. Gross começou a trabalhar na tentativa de
unificar numa só teoria todas as
forças da natureza, após desvendar como funciona o cimento do
núcleo atômico, achou que não ia
levar muito para resolver o problema. Hoje, mais de 20 anos depois, o Nobel de Física admite que
cantou vitória antes da hora.
Até hoje, ele continua se dedicando ao esforço, tentando explicar o mundo com a teoria das supercordas (que propõe que todas
as partículas são na verdade cordas vibrando em dez dimensões),
mas não sabe quando ele vai concretamente render frutos. "Vinte
anos atrás eu pensava: "Bem, talvez em uns poucos anos". Vinte
anos depois, eu não sei. Pode levar
cinco anos, pode levar 20."
Para os entusiastas, entretanto,
ele faz uma previsão: acredita que
grandes descobertas serão feitas
no campo experimental em três
anos, com um novo acelerador de
partículas europeu. "Será muito
empolgante." Leia a entrevista
concedida à Folha.
(SN)
Folha - O sr. já esperava que fosse
receber o Prêmio Nobel?
David Gross - De algum modo
você espera, mas quando acontece é sempre uma surpresa. Mas
devo dizer que cheguei a pensar:
"É, provavelmente vai acontecer".
Folha - Não lhe ocorreu que talvez a Real Academia de Ciências da
Suécia tivesse esquecido vocês?
Gross - Bem, é um sentimento
que surgiu, mas, você sabe, nós
sabemos que a Real Academia
trabalha devagar...
Folha - Como o sr. vê o avanço
que promoveu, em vista das fronteiras atuais da física?
Gross - Nossa descoberta foi essencial para os atuais esforços de
unificação. Apresentamos uma
força que fica mais fraca conforme as partículas estão mais próximas, e é preciso inseri-la no contexto das outras forças na busca
de uma explicação unificada da
natureza. É algo que tem sido trabalhado nas últimas décadas.
Folha - Hoje não se vê nenhum sinal no horizonte de que o problema
da unificação esteja para ser resolvido. Quanto tempo vai levar?
Gross - Vinte anos atrás eu pensava, "bem, talvez em uns poucos
anos". Vinte anos depois, e eu não
sei. Pode levar cinco anos, pode
levar 20. Mas tem gente trabalhando nisso.
Folha - O grande lampejo ainda
está para surgir?
Gross - Eu tenho trabalhado na
chamada teoria das supercordas
há uma década ou duas. É uma
tentativa de unificar todas as forças da natureza e é, de longe, a
idéia mais promissora hoje.
Folha - A teoria das cordas hoje
carece de métodos experimentais
adequados para ser verificada.
Quão grave é isso para o campo?
Gross - Esse é um grande problema. Sabe, com a gravidade, as coisas acontecem em escala natural.
Nas outras forças, a escala é menor, mas conseguimos observá-las. Mas, no caso da teoria de cordas, a escala está muito, muito
longe do que temos e do que teremos no futuro em termos de métodos experimentais. Então é um
grande problema. Mas não nos
impedirá de seguir trabalhando.
Folha - Ainda que em medições
indiretas, o que podemos esperar
para o futuro, em termos de experimentos?
Gross - Temos esperança de que
um novo acelerador, no Cern, em
Genebra, que vai começar a operar em três anos, irá realizar profundas descobertas. Será muito
empolgante.
Folha - O sr. já sabe o que vai fazer com o dinheiro do prêmio?
Gross - (Risos) Não, ainda não tive tempo de pensar nisso.
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