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QUÍMICA
Descoberta do funcionamento de catalisadores em reações orgânicas impulsiona indústria de plásticos e farmacêutica
Dança de moléculas rende Nobel para trio
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma dança molecular que mais
parece uma quadrilha deu ontem
o Prêmio Nobel em Química para
um trio de pesquisadores, um
francês e dois americanos. O balé
de átomos desvendado pelos três
está permitindo a criação rápida,
econômica e limpa de um batalhão de moléculas inovadoras,
úteis em áreas que vão dos plásticos à indústria farmacêutica.
Entre os especialistas, a dança
de moléculas elucidada pelo francês Yves Chauvin, 74, e aperfeiçoada pelos americanos Richard
Schrock, 60, e Robert Grubbs, 63,
atende pelo nome de metátese (algo como "troca de lugares", em
grego). "Antes deles, as pessoas
até faziam essas reações, mas elas
eram uma espécie de caixa-preta", conta Ronaldo Pilli, do Departamento de Química Orgânica
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Com as descobertas do trio, os
cientistas passaram a saber como
a metátese em moléculas orgânicas acontecia e, principalmente,
como controlá-la. Assim, não é
impossível imaginar o dia em que
a técnica, além de produzir moléculas desconhecidas e potencialmente úteis, também não deixará
resíduos. Por tudo isso, o comitê
da Academia Real de Ciências da
Suécia deixou a sobriedade de lado e deu uma exagerada em seu
comunicado oficial: "Logo, a imaginação será o único limite para a
construção de moléculas!"
Festa e mau humor
Se havia alguém com ânimo justamente oposto a esse entusiasmo
ontem, era o mais sênior dos vencedores. Pouco depois do anúncio do prêmio, Chauvin comentou, de mau humor: "O pessoal de
Estocolmo tinha me desejado boa
sorte com a imprensa, e acabo de
entender o que eles queriam dizer". Irritado com a o enxame de
repórteres em sua casa, na cidade
de Tours, o cientista do Instituto
Francês do Petróleo explodiu:
"Foram necessários 30 anos de
trabalho no laboratório para mostrar que o que eu descobri era interessante. Hoje eu vivo sozinho, e
os meus pensamentos vão para a
minha mulher, que morreu há
pouco mais de um ano. Estou fechando a minha porta e tentarei
não ser mais incomodado", disse
Chauvin, pedindo que os jornalistas se retirassem.
Schrock, do MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts), e
Grubbs, do Caltech (Instituto de
Tecnologia da Califórnia), parecem ter recebido melhor a notícia.
"Não estou conseguindo falar
muito bem. Tinha acabado de
acordar e estava começando a tomar café [quando soube do prêmio]. Achei que não era possível
que fosse verdade, mas era", disse
Schrock à Rádio Sueca. À Folha,
Grubbs ressaltou que as pesquisas
na área começaram de forma desinteressada, na tentativa de entender o mecanismo básico das
reações.
Inovadores
"O método catalítico que eles
desenvolveram foi totalmente
inovador", diz Ronaldo Pilli. O
centro da idéia são os chamados
catalisadores -moléculas que
aceleram e auxiliam reações químicas, sem participarem diretamente delas. Nas reações de metátese de alcenos (cadeias formadas
por átomos de carbono com ligações duplas entre si), que são as
que renderam o Nobel, ocorre
sempre a troca de um pedaço de
uma molécula por outro na molécula vizinha, e vice-versa.
Esse processo é que era a tal caixa-preta citada pelo pesquisador
da Unicamp. Chauvin propôs que
o catalisador da reação era um
metal-carbeno (um átomo de um
elemento químico metálico grudado aos tais carbonos de ligação
dupla). O francês descobriu que,
na verdade, o catalisador "desfazia o par" formado por uma das
moléculas e se unia a elas, formando um quarteto. Depois, o
conjunto se desfazia e o catalisador entregava parte da molécula
original a um novo "parceiro".
Uma vez desvendado esse mecanismo, o processo deu um salto
tremendo. "O Schrock desenvolveu o primeiro catalisador prático, que usava [o metal] molibdênio, e o Grubbs criou o que todo
mundo usa hoje, com base em rutênio", afirma Pilli. O importante
é que as criações de Grubbs são
relativamente pouco exigentes
quanto a condições ambientais, o
que facilita muito seu uso no laboratório e na indústria química.
Segundo o pesquisador da Unicamp, as vantagens econômicas
do método se unem às ambientais: perto de outros sistemas para
sintetizar compostos orgânicos, a
metátese deixa relativamente
poucos subprodutos. Além de
tornar a reação mais eficiente, isso
também diminui a quantidade de
poluentes. "O subproduto costuma ser o etileno, que tem impacto
relativamente pequeno no ambiente", afirma o cientista.
A lista dos compostos que podem ser produzidos com a técnica
não pára de crescer. Apesar de ser
usada inicialmente na indústria
petroquímica, a metátese já está
se espalhando para a fabricação
de fármacos e herbicidas. Ela também já foi utilizada para produzir
feromônios -os sinalizadores
moleculares que os insetos e outros animais utilizam.
Com agências internacionais
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