São Paulo, terça-feira, 06 de outubro de 2009

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Estudo de envelhecimento celular rende Nobel a trio

Cientistas dos EUA revelaram esquema de proteção do DNA contra deterioração

Justin Ide/Harvard University News Office
Jack Szostak recebe ligação para parabenizá-lo em sua casa

Carol Greider, Jack Szostak e Liz Blackburn descobriram sistema que tem elo com o câncer e outros problemas em que célula vira "imortal"


REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Prêmio Nobel em Medicina ou Fisiologia deste ano contempla descobertas sobre um sistema usado pelas células para corrigir seus próprios erros de projeto. Sem os telômeros, que mais parecem tampinhas de garrafa na ponta dos cromossomos (as estruturas que carregam o DNA), organismos complexos como os seres humanos rapidamente ficariam sem seu material genético.
Esses "arremates" dos cromossomos, bem como a molécula que ajuda a montá-los, a telomerase, têm um elo importante com o envelhecimento das células e sua capacidade de multiplicação. O sistema é um bocado importante para entender e combater doenças como o câncer, situação em que esses processos saem dos trilhos.
Tudo isso mais do que justifica a láurea concedida pelo Instituto Karolinska, da Suécia, aos cidadãos americanos Jack Szostak (nascido na Inglaterra), Elizabeth "Liz" Blackburn (nascida na Austrália) e Carol Greider. Cada um leva um terço do prêmio de US$ 1,42 milhão. Em mais de cem anos da honraria, só dez mulheres levaram o Nobel de medicina, já incluindo Blackburn e Greider.
Como quase sempre acontece na ciência de ponta, Greider, de 48 anos, contou que sua pesquisa começou com o desejo de entender como as células funcionam, e não com a intenção de intervir diretamente em doenças humanas. "Financiar esse tipo de ciência baseada na curiosidade é muito importante", afirma ela, hoje professora da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

"Pergunta básica"
Szostak, (pronuncia-se "chôstac"), de 56 anos, concorda. "Não tínhamos ideia de todas as implicações posteriores", diz o pesquisador, hoje na Escola Médica de Harvard.
Já Liz Blackburn, 60, da Universidade da Califórnia em San Francisco, declarou: "A pesquisa em si não muda nada, claro, mas é ótimo receber esse reconhecimento e partilhá-lo".
Pesquisadores brasileiros que também estudam o funcionamento dos telômeros falaram à Folha sobre a importância dos trabalhos premiados.
"É possível comparar os telômeros às pontinhas de plástico do cadarço de um tênis", diz o médico Rodrigo Saloma Rodrigues, pesquisador dos NIH (sigla inglesa para Institutos Nacionais de Saúde), nos EUA.
"Por causa da maneira como o nosso DNA é replicado [copiado], as pontas dos cromossomos deveriam ficar de fora desse processo, o que levaria à perda progressiva do DNA. Os telômeros impedem que isso aconteça, assim como as pontas de plástico impedem que o cadarço fique esgarçado", explica Rodrigues. Em geral, a divisão celular faz com que as gerações de células ganhem telômeros cada vez mais curtos.
Isso só não vale para alguns tipos especializados de células, como as oriundas da medula óssea, que dão origem aos vários tipos celulares do sangue. Para se manterem "jovens", tais células empregam a telomerase para evitar que seus telômeros sejam encurtados.
"Fazer com que uma célula normal produza telomerase pode torná-la imortal", conta Rodrigues. Aliás, não há nada de bom nisso: a imortalidade celular é típica do câncer. Por isso, entender a interação entre telômeros e telomerase pode inspirar novas drogas contra tumores. E o encurtamento radical dos telômeros também pode ter relação com doenças.
"Muita gente no Brasil dizia que não era tão importante estudar telômeros. Esse prêmio mostra que essa avaliação é mais por ignorância", diz Maria Isabel Cano, professora de genética na Unesp de Botucatu.

Com Associated Press



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