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Estudo de envelhecimento celular rende Nobel a trio
Cientistas dos EUA revelaram esquema de proteção do DNA contra deterioração
Justin Ide/Harvard University News Office
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Jack Szostak recebe ligação para parabenizá-lo em sua casa
Carol Greider, Jack Szostak e
Liz Blackburn descobriram
sistema que tem elo com o
câncer e outros problemas
em que célula vira "imortal"
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Prêmio Nobel em Medicina ou Fisiologia deste ano contempla descobertas sobre um
sistema usado pelas células para corrigir seus próprios erros
de projeto. Sem os telômeros,
que mais parecem tampinhas
de garrafa na ponta dos cromossomos (as estruturas que
carregam o DNA), organismos
complexos como os seres humanos rapidamente ficariam
sem seu material genético.
Esses "arremates" dos cromossomos, bem como a molécula que ajuda a montá-los, a
telomerase, têm um elo importante com o envelhecimento
das células e sua capacidade de
multiplicação. O sistema é um
bocado importante para entender e combater doenças como o
câncer, situação em que esses
processos saem dos trilhos.
Tudo isso mais do que justifica a láurea concedida pelo Instituto Karolinska, da Suécia,
aos cidadãos americanos Jack
Szostak (nascido na Inglaterra), Elizabeth "Liz" Blackburn
(nascida na Austrália) e Carol
Greider. Cada um leva um terço
do prêmio de US$ 1,42 milhão.
Em mais de cem anos da
honraria, só dez mulheres levaram o Nobel de medicina, já incluindo Blackburn e Greider.
Como quase sempre acontece na ciência de ponta, Greider,
de 48 anos, contou que sua pesquisa começou com o desejo de
entender como as células funcionam, e não com a intenção
de intervir diretamente em
doenças humanas. "Financiar
esse tipo de ciência baseada na
curiosidade é muito importante", afirma ela, hoje professora
da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
"Pergunta básica"
Szostak, (pronuncia-se
"chôstac"), de 56 anos, concorda. "Não tínhamos ideia de todas as implicações posteriores", diz o pesquisador, hoje na
Escola Médica de Harvard.
Já Liz Blackburn, 60, da Universidade da Califórnia em San
Francisco, declarou: "A pesquisa em si não muda nada, claro,
mas é ótimo receber esse reconhecimento e partilhá-lo".
Pesquisadores brasileiros
que também estudam o funcionamento dos telômeros falaram à Folha sobre a importância dos trabalhos premiados.
"É possível comparar os telômeros às pontinhas de plástico
do cadarço de um tênis", diz o
médico Rodrigo Saloma Rodrigues, pesquisador dos NIH (sigla inglesa para Institutos Nacionais de Saúde), nos EUA.
"Por causa da maneira como
o nosso DNA é replicado [copiado], as pontas dos cromossomos deveriam ficar de fora
desse processo, o que levaria à
perda progressiva do DNA. Os
telômeros impedem que isso
aconteça, assim como as pontas de plástico impedem que o
cadarço fique esgarçado", explica Rodrigues. Em geral, a divisão celular faz com que as gerações de células ganhem telômeros cada vez mais curtos.
Isso só não vale para alguns
tipos especializados de células,
como as oriundas da medula
óssea, que dão origem aos vários tipos celulares do sangue.
Para se manterem "jovens",
tais células empregam a telomerase para evitar que seus telômeros sejam encurtados.
"Fazer com que uma célula
normal produza telomerase
pode torná-la imortal", conta
Rodrigues. Aliás, não há nada
de bom nisso: a imortalidade
celular é típica do câncer. Por
isso, entender a interação entre telômeros e telomerase pode inspirar novas drogas contra
tumores. E o encurtamento radical dos telômeros também
pode ter relação com doenças.
"Muita gente no Brasil dizia
que não era tão importante estudar telômeros. Esse prêmio
mostra que essa avaliação é
mais por ignorância", diz Maria
Isabel Cano, professora de genética na Unesp de Botucatu.
Com Associated Press
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