São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Nobel de Química vai para cristal que "não devia existir"

Israelense mostrou que estrutura cristalina pode ser formada por padrões complexos que nunca se repetem

Cientista chegou a ser expulso de laboratório por defender achados; aplicação prática ainda está em fase inicial

MARCO VARELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os meticulosos cadernos de laboratório do israelense Daniel Shechtman permitem datar com precisão a descoberta que acaba de render a ele o Prêmio Nobel em Química deste ano.
Foi na manhã de 8 de abril de 1982 que ele usou uma série de pontos de interrogação para marcar sua surpresa com o que estava vendo no microscópio: um cristal que não deveria existir.
Para o comitê do Nobel, ele "modificou a concepção fundamental do que é um objeto sólido", mostrando que os átomos podem se organizar em estruturas de grande complexidade, que não se repetem. Por isso, embora o achado ainda tenha pouca aplicação prática, ele foi considerado digno do prêmio.
Para Nivaldo Speziali, presidente da Sociedade Brasileira de Cristalografia, o ganhador mostrou "que a periodicidade estrutural [a repetição regular das mesmas estruturas] não é necessária na definição de cristal". Há exemplos de materiais artificiais e naturais com os quasicristais (como são chamados) do israelense. A arte medieval bolou estruturas parecidas.

TEIMOSIA
Shechtman precisou de muita persistência, pois a grande maioria dos cientistas duvidou de seus achados.
Um deles era Linus Pauling, ganhador do Nobel em 1954, conta Speziali. Por conta das reações negativas, o israelense chegou a ser expulso do laboratório onde trabalhava nos EUA. Hoje ele está no Instituto de Tecnologia de Israel, em Haifa.
Em entrevista dada ao comitê do Nobel, Shechtman disse que sua descoberta lhe ensinou que "o bom cientista é humilde a ponto de estar disposto a considerar novidades inesperadas e violações de leis estabelecidas".
Os quasicristais descobertos são, em sua maioria, criados artificialmente quando uma liga metálica derretida é esfriada rapidamente em uma superfície giratória.
Sua estrutura tridimensional dificulta a propagação de ondas, o que define suas características peculiares. Eles são maus condutores de calor e de eletricidade, têm baixa fricção e aderência, mas são altamente resistentes e, por isso, prometem grande aplicabilidade.
Seriam bons para aço reforçado, lâminas e agulhas cirúrgicas, frigideiras e motores a diesel. Mas poucas aplicações concretas já foram desenvolvidas devido ao alto custo de produção deles.


Próximo Texto: Saiba mais: Arte islâmica já trazia padrões dos quasicristais
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.