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ASTRONÁUTICA
Sonda atinge região do espaço em que influência solar é neutralizada pela radiação interestelar, diz estudo
Voyager-1 cruza fronteira do Sistema Solar
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de 25 anos depois do lançamento, a sonda norte-americana Voyager-1 atingiu a borda da
esfera de atuação do Sol e já está a
caminho das estrelas.
Segundo dados coletados por
um dos instrumentos a bordo, a
nave atingiu, em agosto de 2002, a
região em que a radiação solar se
torna tão fraca que começa a enfrentar de igual para igual a que é
emitida pelas outras estrelas.
A fronteira foi cruzada a uma
distância de aproximadamente
12,7 bilhões de quilômetros do
Sol. Lá, uma onda de choque produzida pela interação com a radiação interestelar faz com que o
vento solar (corrente de partículas emanada da estrela) diminua
drasticamente sua velocidade.
A detecção foi feita pelo LECP,
instrumento responsável pela detecção de partículas carregadas de
baixa energia. Outro aparelho originalmente projetado para medir
o vento solar a bordo da Voyager-1 não está mais funcionando, mas
os cientistas conseguiram inferir
as medidas indiretamente a partir
dos dados do LECP.
O sistema de raios cósmicos da
Voyager-1 (CRS) também produziu informações relevantes, mas
foi incapaz de determinar a passagem pela região fronteiriça, o que
gerou algum conflito entre os grupos ligados aos dois instrumentos. Eles publicam seus estudos
separadamente, hoje, na revista
"Nature" (www.nature.com).
A equipe do LECP, liderada por
Tom Krimigis, da Universidade
Johns Hopkins, foi categórica em
suas conclusões. O título do estudo: "Voyager-1 deixou o vento solar a uma distância de 85 UA do
Sol". (A UA, ou unidade astronômica, é a distância média Terra-Sol, 150 milhões de quilômetros.)
Já o grupo do CRS se mostrou
menos convicto, descrevendo
apenas o que interpretou como
"aumento de partículas energéticas próximo ao choque de terminação heliosférica". Em outras
palavras, identificaram sintomas
da aproximação da região fronteiriça, mas não detectaram a travessia da onda de choque em si.
"Tivemos várias discussões,
mas os dados deles não poderiam
ser decisivos na determinação da
velocidade do vento solar. Já os
nossos eram", disse por e-mail
Tom Krimigis, pouco antes de
deixar seu escritório para participar de uma entrevista coletiva.
A "Nature" decidiu publicar os
dois estudos na mesma edição e
ofereceu ao astrofísico Len Fisk,
da Universidade de Michigan, a
tarefa de comentar os resultados
num terceiro artigo. "A pergunta
é, claro, quem está certo? Pessoalmente, tendo a concordar com
Krimigis e colegas que seus dados
podem ser mais bem explicados
se o choque de terminação [o confronto entre os ventos interestelar
e solar] tiver sido cruzado."
Curiosamente, a região exata do
choque não deve ter posição fixa
no espaço. Dependendo do nível
de atividade solar, ela deve variar
sua distância do Sol. A equipe de
Krimigis sugere que a Voyager-1
atravessou a onda de choque a 85
UA, mas 200 dias depois a ação
solar se intensificou, e a sonda
mais uma vez se viu envolta no
vento solar supersônico, a 87 UA.
As sondas Voyager foram lançadas em 1977 para estudar os
planetas do Sistema Solar exterior. A primeira da série passou
por Júpiter e Saturno, deixando o
plano da órbita dos planetas em
seguida (veja quadro acima). A
segunda ainda fez passagens por
Urano e Netuno. Hoje, a Voyager-1 é o artefato humano mais distante da Terra, 0,0013 ano-luz daqui. A estrela mais próxima, Alfa
Centauri, está a 4 anos-luz do Sol.
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