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Cientista publica primeiro genoma de homem negro
Estudo sai no mesmo dia em que China anuncia seqüenciamento de um asiático
Pesquisadores usaram nova
tecnologia que faz leitura de
DNA mais rápida e barata;
genoma pessoal custará US$
10 mil em 2009, diz empresa
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Esta semana está sendo especial para os negros não só no
campo da política. Ontem, um
dia após Barack Obama discursar como presidente eleito dos
EUA, cientistas publicaram o
primeiro genoma individual de
um homem africano.
O trabalho, que sai na revista
"Nature" juntamente com o genoma de um asiático, é um
marco, dizem especialistas,
pois amplia os dados que ajudam a revelar quantas e quais
são as diferenças genéticas entre pessoas de etnias distintas.
A data de divulgação do estudo, porém, foi "mera coincidência", disse à Folha David
Bentley, da empresa de biotecnologia Illumina, que liderou o
trabalho. "Nós não sabíamos
que Obama seria eleito."
O trabalho da Illumina e da
equipe chinesa que seqüenciou
um homem asiático não são
exatamente análises do significado das diferenças genéticas
entre indivíduos. Eles criam,
porém, um material inédito sobre o qual outros cientistas poderão trabalhar.
A grande contribuição dos
dois grupos foi descobrir novas
"letras" do DNA humano que
podem variar de uma pessoa
para outra. São os chamados
SNPs (polimorfismos de nucleotídeo único, no jargão biológico). Como toda pessoa tem
duas versões de cada gene
-uma herdada do pai, outra da
mãe-, quando as duas são diferentes é possível achar novos
SNPs dentro de cada um dos
novos genomas.
Os dois trabalhos também
compararam seus dados aos
outros dois genomas individuais disponíveis (os dos biólogos americanos James Watson
e Craig Venter) e com o banco
de dados dbSNP, que tem informações parciais de variações entre europeus.
No genoma do africano, 26%
da variabilidade achada era
ainda desconhecida. "Significa
1 milhão de SNPs nunca vistos,
saídos do seqüenciamento de
uma única pessoa", diz Bentley.
"É um bocado de individualidade." No seqüenciamento do
chinês, feito no Instituto de
Genômica de Pequim, 13,6%
dos SNPs eram novos.
"Desracialização"
O que mais impressiona nos
dados, porém, são as semelhanças, em vez das diferenças.
"Se olharmos o genoma do
Venter, 30,1% dos SNPs presentes são exclusivos dele
-não estão no dbSNP-, e no
do Watson esse número dá
33%. O do chinês agora apresenta uma diferença de 31,8%",
diz o geneticista Sérgio Danilo
Pena, da UFMG, que leu os estudos na "Nature" a pedido da
Folha. Grosso modo, isso significa que Venter é tão diferente
de Watson quanto Watson é diferente de um chinês.
Os novos estudos, diz Pena,
reforçam a tese de que dividir a
humanidade em "raças" diferentes é uma idéia insustentável do ponto de vista da genética. Bentley, também, diz que
prefere nem ouvir essa palavra.
"Estamos comparando indivíduos, não dissemos nada sobre
raças", afirmou.
Marcelo Nóbrega, geneticista da Universidade de Chicago,
diz que os trabalhos na "Nature" chamam à atenção pela tecnologia usada, uma leitura expressa do DNA "picotado" em
fragmentos muito pequenos.
"Achava-se que essas tecnologias não dariam conta de seqüenciar o genoma humano,
porque o tamanho das seqüências geradas é muito baixo, de
15 a 25 letras", disse. "Montar
um texto de 3 bilhões de letras a
partir de peças assim parecia
impossível. Os estudos mostram que é possível."
Bentley diz que seu trabalho
custou US$ 250 mil, mas a Illumina já está reduzindo o custo
da técnica a migalhas. "No próximo ano esperamos que custe
menos de US$ 10 mil", afirma.
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